Thomas Mann “As cabeças Trocadas”.
“As cabeças
Trocadas” é um conto curto de Thomas Mann narrado nos moldes de uma lenda
indiana, escrito em forma de narração oral. É uma historia fantástica onde o
autor reflete sobre a amizade, a beleza física, o divino e sobre a dicotomia
corpo e alma.
Thomas Mann.
Ele é um
autor delicado que mergulha no interior dos personagens, no caso, neste breve
relato temos um triangulo amoroso com um desfecho trágico.
Um texto raro
de Thomas Mann (1875-1955) , diferente do “Doutor Fausto” que relata a historia do
compositor alemão Adrian Leverkühn,
distante também de “Morte em Veneza” , a historia de um amor
proibido que inspirou o filme de Luchino Visconti, ou também longe do romance
autobiográfico que narra a zaga de uma família: “Os Buddenbrooks”.
O roteiro.
Temos três
protagonistas: a bela Sita, o rude Nanda e o refinado Shridaman . Por
circunstancias sobre naturais o corpo hercúleo de Nanda se junta com a cabeça
de Chidaman e vice-versa.
O conto nos
abre a interrogação da supremacia da matéria, da carne , da beleza física em
contraposição com o valor da alma e do espírito humano.
A tradição védica.
Existe uma
discussão interessante entre o bruto Nanda e o culto Shridaman que envolve
afirmações do pensamento védico: Estavam os dois amigos deitados num lugar
confortável e Nanda diz como o Nirvana mostra sua quietude acolhedora.
Shridaman o repreende argumentando que toda essa
sensação de paz não passa de ilusão e que existe um turbilhão por trás de esta
quietude. Que essa Maya (ilusão) o impede de ver de verdade.
Shridaman
exemplifica: <Estes pássaros trocam arrulhos somente porque querem
fazer amor; estas abelhas e libélulas, estes besouros agitam-se, impelidos pela
fome; da relva ressoam secretos rumores de milhares de formas de luta pela
vida, e estes cipós, que tão graciosamente cingem as árvores, desejam apenas
asfixiá-las para tirar-lhes sumo e fôlego, no único intuito de cevar-se e
engordar. Eis o verdadeiro conhecimento do ser. — Não o ignoro — disse
Shridaman —, e não me iludo a esse respeito, ou pelo menos só por um momento e
de propósito. Pois, além da verdade da razão e de seu conhecimento, existe
ainda a simbólica intuição do coração humano, que sabe ler a escrita dos
fenômenos não apenas no seu sentido primário, prosaico, mas também segundo seu
significado secundário, superior, e a aproveita como recurso para atingir a
contemplação do puro e do espiritual. Como queres alcançar a percepção da paz e
experimentar a fortuna da imobilidade, sem que, para tanto, uma imagem Maya te
ofereça os meios, ainda que tal imagem em si não seja de modo algum fortuna e
paz? Aos homens foi dado e concedido que possam servir-se da realidade para
vislumbrarem a verdade. Para denominar esse fato e essa licença, a língua criou
a palavra “poesia”>.
Inspirado no
pensamento dos Vedas, em outro momento diz Thomas Mann:
“a encarnação cria
isolamento,
o isolamento cria diferença,
a diferença cria comparação,
a comparação cria inquietude,
a inquietude cria assombro
o assombro cria admiração
e a admiração cria desejo de intercambio e união.
Etad vai tad." (isto é –certamente- aquilo).
o isolamento cria diferença,
a diferença cria comparação,
a comparação cria inquietude,
a inquietude cria assombro
o assombro cria admiração
e a admiração cria desejo de intercambio e união.
Etad vai tad." (isto é –certamente- aquilo).
Alexandre Pandolfo no artigo: Subjetividade, dilaceramento e narratividade: um ensaio sobre as cabeças
trocadas diz: “o que se dá sob a rubrica do conhecimento védico,
segundo o qual à alma espiritual se opõe ao corpo como uma vestimenta que
jamais se identifica com a identidade de si”.
O divino.
O conto faz
da beleza de Sita algo sublime , a narração fala sempre da “Maya” (ilusão). A
descrição do banho de Sita parece justamente com a contemplação de uma miragem
ou de cena divina.
Em outra circunstancia a deusa Durgâ-Devi, a
própria mãe do mundo, aparece em cena para intermediar
sobre a restauração da vida dos amigos Nanda e Shridaman .
O conto se
comporta como uma fabula onde o material e o divino se entrelaçam no mesmo
universo real.
Final.
A parte mais marcante da historia é a troca das cabeças
dos dois jovens apaixonados por uma mesma garota. Cria-se , a partir das
trocas, uma síntese ideal já que ela admira um e deseja ao outro. Esta saída
porem não decidira o problema, e a morte acabará por resolver o final do
triangulo amoroso. Um belo livro inspirado na sabedoria dos
Vedas.
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