Nasceu na Ucrânia (na época fazia parte da Polônia) no século XIX, mas desenvolveu sua trajetória literária escrevendo em inglês.
Foi considerado um escritor sombrio e trágico. Ele refuta: "Essa
reputação me privou de inumeráveis leitores. Me oponho absolutamente a ser
chamado de trágico".
Joseph Conrad começou
a escrever ficção aos 45 anos; abandonou a navegação para mergulhar na
literatura, seu estilo esta carregado de paciência e elegância.
Os contos.
Falaremos
de dois de seus principais relatos: Heart of Darkness (O coração das
trevas -1902) e The
Rove (O
pirata ou também Com a corda no pescoço-1923).
O coração das Trevas.
Este livro nos lembra aquelas narrações onde praticamente
não há ação e sim todo um jogo de sensações que movimentam a obra.
O impulso por conhecer a Kurtz leva ao capitão Marlow , o protagonista, a se internar no meio de um
labirinto de selva e rios, esta busca cheia de historias e expectativas ocupam o
primeiro terço do conto.
Acontece o encontro e o desenlace do enigma em um clima
ameaçador e ambíguo, aparece aqui a imagem da máscara:
"a floresta permanecia inamovível, como uma máscara pesada, como a porta
fechada de uma prisão".
O ambiente absurdo se instala desde a primeira pagina quando
o protagonista fica preso na costa africana por conta de um problema na sua
embarcação.
No fim a frase derradeira de Kurtz:
“Quero...algo...algo...para poder viver” não revelam muito mas nos dá a
perspectiva de uma busca, de um algo por trás.
Borges no prólogo da edição argentina compara a atmosfera do
conto com o inferno de Dante, e revela que o escritor Joseph Conrand tinha
realizado uma viagem em 1899 remontando o Congo ; três anos depois o autor
publica o que seria para Borges : ”acaso o mais intenso dos relatos que a
imaginação humana tenha conseguido
produzir”.
A paisagem fala por si mesma: “Do outro lado a selva se
erguia espectral a luz da lua... e a través do incerto movimento, a través dos
débeis ruídos, o silencio da terra se introduzia no coração de todos... seu
mistério, sua grandeza, a assombrosa realidade da sua vida oculta”.
Conrad descreve Kurtz como uma espécie de rei em terras
inóspitas rodeado de marfim, de cabeças de “rebeldes” ressecadas, cravadas em
postes na porta da sua morada; nos conta que com uma voz eloqüente Kurtz
discorria sobre temas como a liberdade, o bem e o mal.
O conto ficou famoso por ter inspirado o filme “Apocalypse
Now” de Francis Ford Coppola.
Com a corda no pescoço.
Este homem reto, sábio e digno, tenta
corresponder ao pedido; Conrand descreve a relação da filha com o pai numa cena
poética, o pai a chamava Ivy (trepadeira em inglês) : ”A filha tinha-se aderido
estreitamente ao seu coração e ele esperava que sempre se aderisse a ele como a
uma torre de fortaleza”.
O protagonista chega a um momento da sua vida no qual sua própria
existência o está vencendo, ele é o último exemplar de uma raça em extinção, um
capitão erguido, um homem vestido de linho branco, que fumava bom tabaco; um
homem de verdade que aos sessenta e cinco anos se arruína e como ultimo gesto
de dignidade reúne suas economias para enviar-las a sua filha.
O titulo: “com a corda no pescoço” nos remete a uma luta
interior, a um dilema; a certeza de um ciclo da vida que acaba e ao mesmo tempo
um percurso que por si só não conclui. A decisão de interromper sua vida e se
deixar afundar no barco, guarda um pouco de gesto heróico e de integridade.
Joseph Conrand incorpora na trama personagens secundários que
faziam parte da população marítima como a Stern e ao próprio mar que com
diferentes descrições acaba dotado de certas qualidades animistas.
O autor descreve o Stern
neste trecho: “No piscar rápido e continuo de seus olhos existia uma sorte de
burla, como se ele soubesse o segredo de um chiste universal que colocava ao
mundo em ridículo e que só ele possuísse”.
Conrand nos fala do mar como uma força brutal por trás de
uma aparente calma: “Uma ligeira brisa bastava para arrancar do mar sua máscara
serena”.
Final.
São dois contos magníficos que merecem muitas leituras e
releituras, assim como algumas das coisas mais fascinantes da vida não se
revelam no primeiro olhar, Joseph Conrand nos convida a nos deter no seu pincel,
na suas nuances; quando apreciamos sua obra temos certeza de estar frente a um
grande artista.
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