A fábula do pintor.
Uma das lendas mais inspiradoras que conheci nos remete a
uma fábula chinesa, nela se narra uma cena na qual um imperador encarrega um
desenho a um artista; este demora demais em entregar o pedido e a partir de
este quadro se abrem vários finais possíveis, todos eles interessantes.
Primeira historia. A fabula de JI-HÂOKÁN (o galo perfeito).
Na antigüidade -gudai dizem os chineses- no grande Zuongguó dominava um severo imperador pudendo decidir até sobre a vida e a morte de
seus súbditos.
Um dia escutou cantar um galo esplendido; andou chamar a zhuö huàjiä (o pintor), o artista mais renomado do império ordenando
que
pintara um galo perfeito.
O pintor aceitou o pedido e assim dedicou-se todos os dias realizando
numerosas probas pintando galos, mas sem nunca entregar o pedido.
Passou muito tempo e o imperador foi em busca da obra disposto
a decapitar-lo a causa da demora no cumprimento da sua ordem.
O pintor tomou os pincéis e um instante pintou um magnífico
galho de muitas cores.
O imperador perguntou: Por que tinha demorado tanto em cumprir
sua ordem quando em questão de segundos tinha pintado aquela maravilha?
O pintor, simplesmente lê explicou: majestade, em todo este
tempo só fiz repetir milhares de vezes esse exercício até conseguir pintar-lo a
perfeição em um instante.
O ensinamento da fabula esta dirigido para ressaltar o
proveitoso que resulta o estudo metódico e como um artista na realidade ocupa
muitas horas para se preparar para realizar uma obra apenas em alguns
instantes.
Segunda historia. A fábula dos dragões.
Encontrada
na publicação “Contos dos sábios taoistas”, recopilados por Pascal Fauliot ; temos esta outra versão da mesma narrativa.
Um
imperador quer uma pintura do melhor artista de seu Império e lhe exige
representar um dragão azul e outro amarelo, símbolos das duas energias primordiais
cuja união engendra a harmonia celeste.
O
pintor pede tempo, alimentos e riquezas e se retira a sua caverna na montanha.
Depois
de um ano, o imperador, impaciente, cobra dele resultado. O pintor pede mais tempo,
mais alimentos e mais riquezas.
Aos
três anos, o pintor regressa a corte e entrega a pintura. Quando o imperador olha
a tela e vê apenas duas linhas em azul e
amarelo que se cruzam, encarcera ao artista.
O
imperador se retira descansar, mas, no meio da noite, uns rugidos acordaram ao
dono da China. Este girou em direção a imagem e extasiado viu que a pintura
estava totalmente iluminada por um claro de lua, acreditou ver dos raios, semelhantes
aos dragões, um azul e outro amarelo que se enfrentavam, se entrelaçavam se
misturando.
O
imperador pede explicações ao pintor e este o conduz até sua caverna. Ai, sobre
as paredes, perto da entrada, estavam pintados uns dragões azuis e amarelos
como os que o imperador tanto tinha esperado, com detalhes mais realistas, com
brilhos resplandecentes, com as garras afiadas, os olhares fumegantes… Mas na
medida que a tocha se adentrava na obscuridade, despertava imagens cada vez mais
enxutas até converter em simples linhas de força. No final ficou a essência
vibrante dos dragões, as energias primordiais representadas com os mesmos traços
coloridos que os pintados na tela.
Acaba
o conto com a emoção do imperador ao perceber a beleza da síntese por trás das
linhas que o pintor tinha desenhado.
Terceira historia. A fábula do caranguejo.
Esta
versão foi divulgada pelo Jorge Luis Borges. O Imperador encarrega a um grande artista
para pintar um caranguejo. O pintor se instala num pavilhão do palácio com
todas as comodidades e um serviço de vinte donzelas durante cinco anos.
Quando
o imperador lhe reclama sua pintura, o pintor fala sobre a complexidade das
formas, a dificuldade para escolher entre as diferentes pinças que existem e o
trabalho que encontrou para achar as cores diversas que se encontram no corpo crustáceo;
pede outros cinco anos e outras vinte donzelas.
Aos cinco anos, o imperador volta a reclamar sua pintura. O artista pede novo prazo e
o imperador se sentindo ludibriado o manda prender.
A
historia abre as portas para possíveis finais; será que o imperador encontraria
milhares de rascunhos e o que acontecia na realidade era que o pintor não se
sentia satisfeito ainda com nenhum desenho ou o imperador não encontraria
nenhuma proba de esforço e confirmaria assim a desconfiança de se sentir
enganado?
Final .
para esta historia simpática cheia de desdobramentos.
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