Natsume Sōseki :
Natsume Sōseki (1867–1916)
é o pseudônimo literário de Natsume Kinnosuke , (夏目 漱石), o significado de seu nome artístico “Sōseki“ é “o teimoso”. Ele é considerado
um dos escritores mais importantes da literatura japonesa.
Natsume é um ótimo narrador que descreve com muito bom gosto a sociedade
japonesa do começo do século XX. Seu contato com a literatura inglesa permitiu
que ele fosse professor da Universidade Imperial de Tókio. A obra que hoje
comentamos: “O portal” completa a trilogia iniciada com Sanshiro e Daisuke.
O portal.
O portal.
A narração parece não ter ação, não ter núcleo dramático; o
autor parece descrever costumes, paisagens e mundo interior, como se alguém nos
convida para que olhemos sem pressa para o cotidiano de um casal por trás de
uma câmara oculta.
Nada acontece, mas parece que há algo de estranho no
relacionamento entre Sosuke Nonaka e
Oyone, o casal de meia-idade que protagoniza o livro.
Sem nenhum tipo de sobre saltos o casal mergulha numa mesmice
apática e nessa rotina que os protagonistas perdem forças até para um pequeno
presente que possa atrair um colorido aos seus dias.
Num momento Sosuke (empregado público) desiste de comprar uma
nova gravata em uma loja com o argumento de que no seu trabalho a presença de
uma gravata nova não faria sentido. Aqui o trecho: “As cores dessa gravata eram
bem melhores do que ele vinha usando todos os dias; chegou a fazer menção de
entrar na loja para perguntar o preço, mas, ao cabo de pensar melhor, achou que
seria estúpido aparecer no dia seguinte com uma gravata diferente”.
A trama parece querer apenas descrever o afável tédio do
casal protagonista: “pessoas triviais pintadas com cores desbotadas” diz o
narrador. Mas aos poucos, com a chegada do irmão caçula de Sosuke, o Koroku, a
vida começou a mudar.
No final do livro Sosuke na procura de alguma transcendência
para sua vida passa uns dias em um mosteiro budista; o titulo do livro: “O
portal” faz referencia, justamente, a esse limite que temos que transpassar
quando a vida nos apresenta uma escolha.
Metáfora de liberdade, de ruptura ou de resignação a ação de atravessar
o portal serve como um desafio existencial para Sosuke; finalmente sua atitude
pusilânime o devolve a sua rotina e sua vida retoma a letargia.
Durante os dias que passou no templo o monge proporciona para
o protagonista um paradoxo apresentando a questão de quem somos fora de nosso
“eu”. Estritamente a pergunta feita a Sosuke foi: quem era ele antes de
pertencer ao mundo material, à pergunta não teve resposta do iniciado.
Durante o relato o casal, Sosuke e Oyone, (quando jovens) são
protagonistas de uma cena que produz rumores desreipetuosos, este ato faz que
eles fujam da vida social e até familiar. Olhando os fatos com a perspectiva dos
dias de hoje, aquela cena não teria a menor importância, para compreender o
caso é preciso levar em conta a realidade moral em que a história foi
escrita.
Contexto cultural.
Fora o valor literário, existem várias referencias a tecidos,
quimonos, biombos, livros, costumes, teatro, poemas, jogos e pinturas que nos
permitem conhecer como era o Japão antigamente.
Por exemplo, o Baori, uma casaca usada sobre o quimono.ou o Kosode
(quimono de mangas curtas) ou a seda Meisen, o tecido Omeshi e o Rotsumugi.
Também a partir da narração conhecemos alguns artistas
especialistas em pintar biombos como Ganku (na imagem 3),
Sakai e Ganta.
O autor faz referencias no relato a
um livro antigo (Edo no sumago), o teatro joruri (imagem 2) e um jogo de cartas que trazem
poemas (utagaruta imagem 4) .
Final.
O livro nos permite conhecer o Japão
antigo, nos mostra com detalhes e sem pressa nenhuma o cotidiano de um casal e
no final nos faz refletir sobre uma experiência transcendente. Soseki é dono de
uma literatura prazerosa e delicada.
Roberto, belo texto!
ResponderExcluirCreio que compartilhamos alguma admiração pela cultura japonesa...
Se você também gosta de haicais, te convido a acessar esta postagem no meu blog há palavra:
https://hapalavra.blogspot.com/2009/03/uns-haicais.html
Abraço,
Raul