Edgar Allan Poe
A mediados do século
XIX Edgar Allan Poe tentava sobreviver nos Estados Unidos, como
descreve Baudelaire na introdução da suas obras
completas, da sua vocação artística e de seu
amor insaciável pelo Belo.
O seu poema mais famoso
“O Corvo” foi traduzido por Fernando Pessoa, só para
nomear um dos seus admiradores.
Cortazar confessa ter
traduzido Poe para aprender literatura.
Poe é
descendente da tradição da literatura clássica,
de nomes como homero, Milton, Jonathan Swift (autor das viagens de
Gulliver) e sobe gravitar em autores como Jorge Luis Borges e Machado
de Assis só para nomear alguns dos mais conhecidos.
Ele não escreve
como um americano, escreve como um artista, por momentos parece um
francês, um inglês ou apenas um habitante do mundo.
No ensaio intitulado
“Filosofia da composição” ele se propõe
falar sobre a criação e nele podemos encontrar
elementos que desmistificam o fazer artístico como algo
produzido por um frenesi mágico, ao contrario, ele expõe
que os seus verdadeiros propósitos só são
alcançados depois de cautelosas seleções e
rejeições.
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Tinha lido sua obra á
alguns anos e agora me propus voltar a ele .
A parte mais conhecida
..seus contos policiais, têm o valor do inaugural, ele
realmente colocou o conto policial na altura de uma obra de arte e
foi o antecedente mais claro de personagens como Sherlok Holmes e
autores como Agatha Christie. Sua obra de terror é realmente
uma seqüência de mórbidos relatos que chegam a
produzir verdadeiros pesadelos apenas ao lembrar as cenas macabras
que ele descreve, como no final do conto “Berenice” onde o
protagonista arranca os dentes do cadáver de sua amada para
lembrar eternamente do seu sorriso.
Os contos poéticos
são realmente o louvor à sensibilidade e a Beleza como
um todo, são cinco contos reunidos baixo o titulo de
“impressões paisagísticas”.
Queria lembrar ,
também, de algumas historias fantásticas onde Poe
evidencia o seu conhecimento marítimo e a sua queda pelo
relato de aventuras fabulosas, a narrativa de “Artur Gordon Fym”,
por exemplo nos lembram o Simbad das “mil e uma noites”.
Contos fantásticos
que antecedem ao Julio Verne onde mistura humor e um relato
pormenorizado de um alucinado que inventa uma historia na qual ele
foi a lua e voltou publicado com o nome da “balela do Balão”.
Mais queria e mesmo me
reter numa faceta mais silenciada ou menos divulgada do Poe: “Os
contos humorísticos” que penso, são verdadeiras jóias
da ironia, do sarcasmo, do absurdo e da inteligência humana.
Posso falar de vários,
“como escrever um artigo á moda Blackwood” onde uma mulher
“ingênua” que quer entrar para o mundo dos holofotes, busca
conselhos de um suposto literato para publicar em revistas de
impacto. Ele lê sugeri toda uma seria de baboseiras entre as
quais podemos destacar: fazer citações e presumir
erudição, impressionar, etc... e depois, a
protagonista, escreve o artigo seguindo as indicações
do mestre e o publica, o que resulta, uma verdadeira zombaria ao
mundo das editoras e do “fácil fazer”.
Outro: “O sistema do
Dr. Abreu e do Professor Pena” onde ele ri dos métodos
psicológicos que permitiriam aos loucos fazer o que bem
entenderem.
Por último uma
verdadeira jóia “Xizando um artigo” (tal vez um
precedente do universo do Garcia Márquez) que conta a historia
de um lugar singelo qualquer, onde existe, no meio daquela pasmaria,
uma Gazeta que publica as “novidades” de aquele lugar perdido no
mundo, sem que ninguém se importe com aquilo. Ate o dia em que
chega um outro editor no povoado com espírito provocador,
incendiário e inaugura um novo jornal chamado “Bule de chã”
e a partir disto se produz toda uma serie de afrontas entre as duas
publicações.
Uma acusando a outra de
“gênio” e a outra (a Gazeta) de pomposo e de se utilizar
muito de frases de efeito.. fala: -Não acreditamos que esse
vagabundo não consiga escrever uma palavra sem a letra “O”,
Oh sim.. Oh... compreendemos...
Os insultos se seguiram
ate que o dono do jornal “Bule de chã” partiu para o tudo
o nada e escreveu uma editorial derradeira chamando ao outro de
porco, bobo, velhote, etc.
Mais quando o tipógrafo
foram a compor o manuscrito para sua impressão sentiram falta
da letra “O” entre as letras da impressora e ate suspeitaram que
um dos empregados do jornal a Gazeta poderia estar por trás
deste sumiço.
Ai o empregado da
gráfica pensou: nenhuma pessoa neste lugar se importa com o
que se publica neste jornal, vou trocar o “O” pero “X” e
ninguém vai sentir sua falta.
O artigo saiu publicado
de modo que não se entendeu nada: - pxcx,bxbx,velhxte....
As pessoas de aquele
povoado tão acanhado pensaram que tinham na sua fronte um
artigo místico e cabalístico e que alguma traição
diabólica ele escondia.
Decidiram queimar a
sede do “Bule de Chã” mais ninguém foi encontrado
foram então a descarregar sua fúria contra a o
responsável pela Gazeta mais também nada foi feito.
A cidadezinha, por fim,
voltou ao normal.