quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Historias da China antiga.

A fábula do pintor.


Uma das lendas mais inspiradoras que conheci nos remete a uma fábula chinesa, nela se narra uma cena na qual um imperador encarrega um desenho a um artista; este demora demais em entregar o pedido e a partir de este quadro se abrem vários finais possíveis, todos eles interessantes.
Primeira historia. A fabula de JI-HÂOKÁN (o galo perfeito).
Na antigüidade -gudai dizem os chineses- no grande Zuongguó dominava um severo imperador  pudendo decidir até sobre a vida e a morte de seus súbditos.
Um dia escutou cantar um galo esplendido;  andou chamar a zhuö huàjiä (o pintor), o artista mais renomado do império ordenando  que  pintara um galo perfeito.
O pintor aceitou o pedido e assim dedicou-se todos os dias realizando numerosas probas pintando galos, mas sem nunca entregar o pedido.
Passou muito tempo e o imperador foi em busca da obra disposto a decapitar-lo a causa da demora no cumprimento da sua ordem.
O pintor tomou os pincéis e um instante pintou um magnífico galho de muitas cores.
O imperador perguntou: Por que tinha demorado tanto em cumprir sua ordem quando em questão de segundos tinha pintado aquela maravilha?
O pintor, simplesmente lê explicou: majestade, em todo este tempo só fiz repetir milhares de vezes esse exercício até conseguir pintar-lo a perfeição em um instante.
O ensinamento da fabula esta dirigido para ressaltar o proveitoso que resulta o estudo metódico e como um artista na realidade ocupa muitas horas para se preparar para realizar uma obra apenas em alguns instantes.

Segunda historia.  A fábula dos dragões.

Encontrada na publicação “Contos dos sábios taoistas”, recopilados por Pascal Fauliot ;  temos esta outra versão da mesma narrativa.
Um imperador quer uma pintura do melhor artista de seu Império e lhe exige representar um dragão azul e outro amarelo, símbolos das duas energias primordiais cuja união engendra a harmonia celeste.
O pintor pede tempo, alimentos e riquezas e se retira a sua caverna na montanha.
Depois de um ano, o imperador, impaciente, cobra dele resultado. O pintor pede mais tempo, mais alimentos e mais riquezas.
Aos três anos, o pintor regressa a corte e entrega a pintura. Quando o imperador olha a tela e vê apenas duas  linhas em azul e amarelo que se cruzam, encarcera ao artista.
O imperador se retira descansar, mas, no meio da noite, uns rugidos acordaram ao dono da China. Este girou em direção a imagem e extasiado viu que a pintura estava totalmente iluminada por um claro de lua, acreditou ver dos raios, semelhantes aos dragões, um azul e outro amarelo que se enfrentavam, se entrelaçavam se misturando.
O imperador pede explicações ao pintor e este o conduz até sua caverna. Ai, sobre as paredes, perto da entrada, estavam pintados uns dragões azuis e amarelos como os que o imperador tanto tinha esperado, com detalhes mais realistas, com brilhos resplandecentes, com as garras afiadas, os olhares fumegantes… Mas na medida que a tocha se adentrava na obscuridade, despertava imagens cada vez mais enxutas até converter em simples linhas de força. No final ficou a essência vibrante dos dragões, as energias primordiais representadas com os mesmos traços coloridos que os pintados na tela.
Acaba o conto com a emoção do imperador ao perceber a beleza da síntese por trás das linhas que o pintor tinha desenhado.

Terceira historia. A fábula do caranguejo. 

Esta versão foi divulgada pelo Jorge Luis Borges. O Imperador encarrega a um grande artista para pintar um caranguejo. O pintor se instala num pavilhão do palácio com todas as comodidades e um serviço de vinte donzelas durante cinco anos.
Quando o imperador lhe reclama sua pintura, o pintor fala sobre a complexidade das formas, a dificuldade para escolher entre as diferentes pinças que existem e o trabalho que encontrou para achar as cores diversas que se encontram no corpo crustáceo; pede outros cinco anos e outras vinte donzelas.
Aos cinco anos, o imperador volta a reclamar sua pintura. O artista pede novo prazo e o imperador se sentindo ludibriado o manda prender. 
A historia abre as portas para possíveis finais; será que o imperador encontraria milhares de rascunhos e o que acontecia na realidade era que o pintor não se sentia satisfeito ainda com nenhum desenho ou o imperador não encontraria nenhuma proba de esforço e confirmaria assim a desconfiança de se sentir enganado? 

Final .

para esta historia simpática cheia de desdobramentos.









segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Joseph Conrand

Nasceu na Ucrânia (na época fazia parte da Polônia) no século XIX, mas desenvolveu sua trajetória literária escrevendo em inglês.
Foi considerado um escritor sombrio e trágico. Ele refuta: "Essa reputação me privou de inumeráveis leitores. Me oponho absolutamente a ser chamado de trágico".
 Joseph Conrad começou a escrever ficção aos 45 anos; abandonou a navegação para mergulhar na literatura, seu estilo esta carregado de paciência e elegância.

Os contos.

Falaremos de dois de seus principais relatos: Heart of Darkness (O coração das trevas -1902) e The Rove (O pirata ou também Com a corda no pescoço-1923).

O coração das Trevas.

Este livro nos lembra aquelas narrações onde praticamente não há ação e sim todo um jogo de sensações que movimentam a obra.
O impulso por conhecer a Kurtz leva ao capitão Marlow ,  o protagonista, a se internar no meio de um labirinto de selva e rios, esta busca cheia de historias e expectativas ocupam o primeiro terço do conto.
Acontece o encontro e o desenlace do enigma em um clima ameaçador e ambíguo, aparece aqui a imagem da máscara: "a floresta permanecia inamovível, como uma máscara pesada, como a porta fechada de uma prisão".
O ambiente absurdo se instala desde a primeira pagina quando o protagonista fica preso na costa africana por conta de um problema na sua embarcação.
No fim a frase derradeira de Kurtz: “Quero...algo...algo...para poder viver” não revelam muito mas nos dá a perspectiva de uma busca, de um algo por trás.
Borges no prólogo da edição argentina compara a atmosfera do conto com o inferno de Dante, e revela que o escritor Joseph Conrand tinha realizado uma viagem em 1899 remontando o Congo ; três anos depois o autor publica o que seria para Borges : ”acaso o mais intenso dos relatos que a imaginação humana tenha conseguido  produzir”.
A paisagem fala por si mesma: “Do outro lado a selva se erguia espectral a luz da lua... e a través do incerto movimento, a través dos débeis ruídos, o silencio da terra se introduzia no coração de todos... seu mistério, sua grandeza, a assombrosa realidade da sua vida oculta”.
Conrad descreve Kurtz como uma espécie de rei em terras inóspitas rodeado de marfim, de cabeças de “rebeldes” ressecadas, cravadas em postes na porta da sua morada; nos conta que com uma voz eloqüente Kurtz discorria sobre temas como a liberdade, o bem e o mal.
O conto ficou famoso por ter inspirado o filme “Apocalypse Now” de Francis Ford Coppola.

Com a corda no pescoço.



“Com a corda no pescoço” narra à última face da historia de um capitão da marinha mercante, o capitão Whalley, que, velho e sem recursos, recebe una carta da sua filha desde o estrangeiro pedindo algo de dinheiro para sobreviver.
Este homem reto, sábio e digno, tenta corresponder ao pedido; Conrand descreve a relação da filha com o pai numa cena poética, o pai a chamava Ivy (trepadeira em inglês) : ”A filha tinha-se aderido estreitamente ao seu coração e ele esperava que sempre se aderisse a ele como a uma torre de fortaleza”.
O protagonista chega a um momento da sua vida no qual sua própria existência o está vencendo, ele é o último exemplar de uma raça em extinção, um capitão erguido, um homem vestido de linho branco, que fumava bom tabaco; um homem de verdade que aos sessenta e cinco anos se arruína e como ultimo gesto de dignidade reúne suas economias para enviar-las a sua filha.
O titulo: “com a corda no pescoço” nos remete a uma luta interior, a um dilema; a certeza de um ciclo da vida que acaba e ao mesmo tempo um percurso que por si só não conclui. A decisão de interromper sua vida e se deixar afundar no barco, guarda um pouco de gesto heróico e de integridade.
Joseph Conrand  incorpora na trama personagens secundários que faziam parte da população marítima como a Stern e ao próprio mar que com diferentes descrições acaba dotado de certas qualidades animistas.
 O autor descreve o Stern neste trecho: “No piscar rápido e continuo de seus olhos existia uma sorte de burla, como se ele soubesse o segredo de um chiste universal que colocava ao mundo em ridículo e que só ele possuísse”.
Conrand nos fala do mar como uma força brutal por trás de uma aparente calma: “Uma ligeira brisa bastava para arrancar do mar sua máscara serena”.

Final.

São dois contos magníficos que merecem muitas leituras e releituras, assim como algumas das coisas mais fascinantes da vida não se revelam no primeiro olhar, Joseph Conrand nos convida a nos deter no seu pincel, na suas nuances; quando apreciamos sua obra temos certeza de estar frente a um grande artista.







sexta-feira, 19 de maio de 2017

Reflexões sobre a experiencia de viver na ditadura.

Eu e a ditadura.

Do grupo “memória e oralidade” me convidaram para relatar minha experiência de ter vivido baixo o regime militar argentino.
Vou narrar os fatos em três etapas: a adolescência, quando servi no exercito e a época da militância política.

CAPITULO I
A adolescência.

Quando tinha 15 anos, lá em 1972 estudava em uma escola dirigida por padres salesianos da congregação de Dom Bosco.
Para ter-se uma idéia do clima: 30 % dos padres eram pedófilos, 30 % gays, 30 % heterossexuais com uma vida “normal” e 10 % apenas incorporavam o lugar do sacerdócio.
 O ambiente era ameaçador, no meio do pátio central tinha um monumento a um mártir seminarista chamado Domingo Savio com a inscrição: “antes que pecar morrer”.
Tinha feito a primeira comunhão, meu mundo se dividia entre o futebol, as festas sociais, a música e meu amor pela literatura.
A vocação literária me impulsionou para escrever artigos num jornal produzido por alunos da escola.
Meu universo de compreensão era muito estreito, completamente oficial e meu grado de alienação político altamente grosseiro.
Vivíamos em uma ditadura presidida pelo general Roberto Levingston.
Como ele tinha sido ex aluno de uma escola da congregação de Dom Bosco e como a escola onde eu estudava estava festejando o 75 aniversário da sua fundação (1897-1972) o presidente decidiu fazer uma visita na escola e eu como aprendiz de jornalista acabei fazendo uma entrevista com ele.
Para minha mente ingênua aquilo era uma experiência transcendente, era o deslumbramento de um garoto de subúrbio por ter tido contato com uma celebridade; não tinha ninguém para me mostrar o tamanho da aberração de tudo aquilo.
Não tinha distancia para ver como a igreja católica se curvava ante a tirania, como meu lugar não passava de um comportamento decadente.
Então minha primeira experiência inocente foi a de aceitar aquela jerarquia desde o lugar do gado mudo e cego que não percebe a historia.
Aqui o link de uma música de Piazzolla para ouvir como trilha...

CAPITULO II
Minha segunda experiência foi do lado de dentro do exercito.

Entre 1973 e 1976 Argentina teve um governo peronista e em 1976 se instaura a mais dura ditadura militar que resultara na desaparição de 30.000 pessoas.
Eu não tinha muita consciência política, era um jovem de 18 anos quando fui chamado a servir ao exercito.
Foram quase dois anos de humilhações e desrespeito onde aprendi no dia a dia como se comportavam aqueles indivíduos uniformizados, cheios de jerarquias, de soberba e solenidades.
Existia uma expressão na época dizendo que: “aos militares se os sustenta na paz e se os defende na guerra”.
Eles são preguiçosos e com um nível muito baixo de inteligência, queriam dar aulas de moral, de costumes com esquemas e clichês dos mais simplórios que possa se imaginar.
E lembro que durante uma aula de “lavagem cerebral” eles davam o seguinte exemplo: “vocês que preferem uma mulher de seu lar que te receba em casa com a comida pronta, teus filhos brincando na frente de uma lareira ou você acha melhor chegar em casa e encontrar só bagunça, tua mulher bebendo ou fumando chegando de madrugada?”.
Eu entediado de ouvir tantas sandices um dia coloquei para um deles a questão da liberdade, argumentei que nossas escolhas não eram tão simples assim e que muitas vezes eram produto de um contexto cultural onde estaria inserida nossa compreensão, falei especificamente do caso da Coca Cola; como ela sendo objetivamente apenas um xarope marrom gasoso entrou nas nossas escolhas como uma marca cheia de significantes, algo completamente cotidiano que já não conseguiríamos mais separar a bebida de modo neutro de todas aquelas imagens subliminares que assistíamos nos outdoors.
Aquela colocação deixou ao palestrante sem argumentos, me fez pagar exercícios forçados e ganhei por um bom tempo o apelido de Coca Cola.
Fui acusado de comunista sem ser-lo naquela época e como castigo me tiraram dos trabalhos administrativos que fazia para trabalhar na seção junto aos pedreiros.
No ano seguinte foi o mundial de futebol onde a população argentina atingiu seu grau mais alto de alienação e no final desse ano fiquei livre da farda.

CAPITULO III
Em esta terceira parte narro como foi a minha experiência ao fazer parte de um partido político (Partido Obrero) exercendo uma atividade clandestina em plena ditadura.

Comecei a estudar Letras, freqüentar outro ambiente; já tinha participado de algumas manifestações, tinha amigos que tiveram uma experiência com Montoneros (grupo armado ligado à juventude peronista), mas eu não tinha identificação com aqueles atos heróicos, no fundo precisava entender primeiro.
Tinha alguns amigos que militavam em grupos trotskistas com os quais me aproximava e que me ajudaram a tirar as primeiras arestas do que seria compreender o mundo desde uma perspectiva marxista.
A ditadura era muito violenta ao ponto de seqüestrar uma pessoa inocente apenas por que ela teria tido alguma atividade sindical.
Aconteceu isso, por exemplo, com o músico brasileiro Tenório Jr. Ele estava numa turnê em Buenos Aires tocando com Vinicius, hospedado em um hotel no centro da cidade , quando em determinado momento desce para comprar cigarros, é abordado por policiais em uma blitz; ele mostra sua carteira da “ordem dos músicos” e as forças de repressão interpretam que ele teria algum envolvimento político sindical. Ele é levado a um centro de tortura e assassinado dias depois.
Aqui um link com seu único álbum solista

Atividades.

Tentava formar um centro de estudantes na Universidade, eu era delegado, os plenários onde se reuniam todos os ativistas chegavam a ter 80 pessoas.
Entre as atividades externas nos dedicávamos a organizar mesas redondas ou fazer um recital de música onde teria sempre um orador com um discurso de conteúdo.
Participei dessas atividades como músico, eu na época já era profissional e também liderando marchas e reuniões. Lembro-me que em um ato a policia se infiltrou e quiseram me interrogar por ter sido o orador, por sorte consegui sair sem ser notado, trocando as roupas, me confundindo entre as pessoas.
Uma das atividades artísticas extras partidárias foram “domingos no parque”; os artistas começaram a se comunicar (na época nos bares por que nem todos tinham telefone, não existia celular, whatssap, face book nem email). Os artistas concordaram em ocupar o Parque Lezama (uma bela praça no bairro de San Telmo, uma espécie de Montmartre ou Santa Teresa portenha).
Naquele momento ganhar os espaços públicos, as ruas e as praças tinha um significado libertário.
Outra manifestação importante foi o movimento que se criou em torno do que se chamou “Teatro Aberto”; produtores, atores, diretores, autores e técnicos concordaram em realizar um festival onde todas as peças fossem inéditas.
A ditadura infiltrou homens e colocou uma bomba no teatro produzindo um incêndio que inviabilizou
a realização do evento. Mas para surpresa dos militares o ciclo foi realizado com muito sucesso em outro teatro e alem disso se multiplicou em outras áreas inspirando “dança aberta”, por exemplo.
Eu particularmente participei junto à bailarina e coreografa Vivian Luz no festival “dança aberta” (ver foto).

Encontro com Trotsky


Eu já tinha uma predisposição natural pelo pensamento de esquerda, mas o marxismo tem vários caminhos: não gostava do peronismo nem do estalinismo.
Foi na convivência com algumas pessoas que admirava e na leitura do Manifesto “por uma arte revolucionaria e independente” que Trotsky escreve com Breton que me identifiquei com a ideia de um socialismo realmente livre e acabei entrando no partido, na época chamado Política Obrera.

Mudança de nome.


Um dos mecanismos de segurança era não revelar nossos nomes entre as pessoas do partido nem nosso domicilio.
Se tínhamos uma reunião em um apartamento citávamos as pessoas em um café e o dono do apartamento passeava as pessoas, que tinham que olhar o chão, as desorientando até entrar no lugar.
Eu paralelamente comecei a ter uma vida publica como músico mais exposta assim que usei o codinome Roberto Andalgalá para me apresentar nos shows.
Muita gente ainda me conhece por esse pseudônimo.

Riscos.

Apenas por ter cabelo longo e barba fui preso varias vezes, parado na rua, revistado etc.
Na minha casa tinha um deposito de distribuição de panfletos e jornais que convertia meu apartamento em uma bomba de tempo, no começo comprei uma corda e amarrei tudo o material para jogar tudo pela janela mas em situações de alta atividade política o material era tão grande que resolvi comprar uma corda maior e em caso de invasão policial eu me jogaria do 10 andar até um terreiro vazio que tinha na vizinhança.

Fim da ditadura.

O ano 82 foi muito importante por que as lutas cresceram e o presidente Galtieri invadiu as Malvinas e provocou uma guerra e em poucos meses a queda da ditadura.
A atividade política se tornou pública , fui desenvolver um frente na favela “cidade oculta” onde passei a experiencia política mais importante; embora se vivesse em uma democracia o aparelho de repressão não tinha desmontado eu sofri ameaças telefonicas de morte, teve que mudar meu endereço; a burguesia queria fechar o tema dos desaparecidos apenas com o argumento de “não se toca mais no assunto”.
As marchas pelos direitos humanos nas quais iamos na época da ditadura com medo dos militares agora o risco era a truculencia da direita que queria ocultar o tema.
Numa das manifestações sofri uma agressão de parte do partido oficial (partido radical); fiquei ferido na cabeça; accidente que custo 7 pontos e uma eterna cicatriz.
O tema dos desaparecidos nunca parou, de um lado quem lutava contra a barbarie e do outro a burguesia dizendo: “vamos parar com resentimentos”.
Inclusive com o fim da ditadura toda a estrutura repressiva continuo intata, na favela era normal o sequestro e pressidio sob falsas acusações dos moradores,  similar com o que acontece hoje nas favelas do Rio como no caso de Amarildo e Rafael Fraga.
Relação da ditadura com a educação e a cultura.
A ditadura proibiu qualquer tipo de organização partidaria, sindical, centros de estudantes e até qualquer reunião públiica.
A censura proibiu a visualização das nadegas e do bico dos peitos femininos nos filmes mesmo para maiores de 18 anos.
O humor que se cultivaba na televisão e no cinema nacional era de tom machista e com brincadeiras de duplo sentido.
Interessante observar a diferença com Brasil por que em quanto na Argentina a censura era de  conteudo  político e moral no Brasil a ditadura alienava a arte com a porno chanchada.
No territorio da educação a ditadura proiibiu falar de latinoamerica, vetou o ensino da teoria dos conjuntos em matemáticas e censurou qualquer tipo de livro, filme ou letra de música que levantasse questões reflesivas.

Presente.


Minha  luta continuo na Argentina no sindicato de músicos e hoje tem sequencia no Brasil tentando ereguer as bandeiras do partido obrero na sua versão brasileira chamada Tribuna Classista participando das movilizações de 2013, de esta recente do 28/4 e do 1/5 e organizando atividades como a da mesa redonda em torno do rema “ Arte e revolução”.















quarta-feira, 22 de março de 2017

Cenas do centro do Rio


 “Cenas do centro do Rio” de Paulo Roberto Andel é um livro cálido.Ao longo das quase 100 paginas nos reconhecemos andando pela Lapa observando cenas cariocas cotidianas que misturam o erotismo das “proletárias do amor”, o mundo dos  gay,  dos travestis; os inferninhos, as livrarias, a gastronomia rara  que inclui um histórico sanduíche de atum com espinafre no centro até uma sardinha frita na travessa do Dídimo.

A crônica é carioca até a medula, mistura a paixão do jogo de botão com o conhecimento rigoroso dos garçons dos botecos que como Andel nos narra, fazem parte da nobreza da cidade; da sua mão conhecemos a loja Murray e ao mendigo “Pernambuco” .
A narração parece pessoal e depois de algumas páginas sabemos onde fica o “Bar das Quengas”, ouvimos a historia de amor e morte que acontecera quando um prédio desabou e entre as vitimas descobriram um casal de amantes no seu encontro derradeiro,sabemos sobre a historia do amigo que depois de um encontro amoroso com uma bela nisei em uma “casa de prazer “,  sentiu até ciúmes ao vê-la com outro.
Andel restitui aquela conversa amena de boteco como forma literária. Andel é da terra, mas também é cosmopolita, escuta jazz, gosta da Billie Holiday, do The Police, visita exposições de arte e lê Scott Fitzgerald.
Insisto no caráter cálido exposto na sua sensibilidade para ver a miséria das ruas, a arrogância e a indiferença perversa de parte da população.

Mistura de literatura underground e de visita guiada “cenas do centro do Rio” teria que ser reeditado de tempos em tempos alimentado por novas historias regadas a chopes, churrasquinhos, belas pernas e gargalhadas eternizando os papos descompromissados que embelecem os botecos cariocas.
Andel mesmo define assim o centro: “No fim das contas, com a cara do Rio de Janeiro, com varizes, cicatrizes, belas formas e mundos a serem descobertos”.




segunda-feira, 20 de março de 2017

Charles Atlas

Da serie “mitos do passado”.

Nos anos 70 existiam em Buenos Aires os famosos gibis, os garotos tínhamos uma  verdadeira febre pelas revistas em quadrinhos de super heróis do tipo Batman, Super homem, Tarzan...
Estas revistas  (de origem mexicana) tinham publicidade nas contracapas e em paginas inseridas entre uma aventura e outra, normalmente ofereciam cursos de desenho pelo correio, (confesso que eu já fiz um deles) e também ofereciam de mágico, de detetive e inclusive métodos para desenvolver a musculatura.
Lembro-me de um em especial no qual um tal de Charles Atlas (olha o nome) confessava que ele tinha sido um fracote de 44 quilogramas e se exercitando 15 minutos por dia com um extensor elástico tinha conseguido desenvolver um corpo super musculoso.,o método  fabuloso respondia pelo exótico nome de "tensão dinâmica"..

A fantasia do super homem.

 A pagina publicitária mostrava fotos do tórax escultural de Charles Atlas fazendo alardes de seu corpo avantajado.
Normalmente a publicidade também incluía uma historia na qual um homenzinho frágil era humilhado na frente da sua namorada sendo que tempo depois aparecem cenas do mesmo homenzinho agora forte frente ao espelho, orgulhoso depois de ter desenvolvido sua musculatura e derrotado ao seu arqui- rival.

O sonho.

Agora que percebo como era explorada nossa fantasia de também ser super heróis no nosso território e se algum modo  Batman ou o super homem fossem  figuras distantes poderíamos, ao menos, almejar ser Charles Atlas.
Na realidade não era vendido apenas um extensor elástico junto a um manual de exercícios, na verdade nos era oferecido um sonho, a possibilidade de se vingar do grandalhão que sempre nos mortificava no bairro ou na escola.

Fim. 

Charles Atlas éramos nos em um potencial de superação , era nossa possibilidade de imaginar-nos heróis de nos mesmos...super-homens sem aquelas roupas, sem a Luisa Lane nem a kryptonita verde, super heróis efêmeros mas super heróis ao fim ..

quarta-feira, 1 de março de 2017

Arte e política.

Em volta do Manifesto: “Por uma arte revolucionaria independente”.

Estas páginas tem como objetivo desenvolver um olhar crítico e descritivo sobre a edição brasileira do livro “Manifesto por uma arte revolucionária independente”, assim como apontar desdobramentos que ocorrem nos dias de hoje a partir das questões lançadas no texto.

Introdução.

A figura de Trotsky foi tão difamada pela imprensa burguesa e pelo stalinismo que penso ser oportuno reapresentá-la.
Trotsky foi um ativista político de primeira grandeza, que dirigiu junto a Lênin a revolução russa. Ocupou-se da direção do exército vermelho, tendo sido indicado pelo líder bolchevique para substituí-lo no comando geral do partido e dar continuidade às tarefas da revolução. Mas isto não aconteceu porque Stalin usurpou o cargo, desterrou-o em 1929 até que, finalmente, o mandou matar no México em 1940.
Trotsky, além de militante, foi um respeitável intelectual: escreveu algumas teses importantes como “A Revolução Permanente”,  “ A Internacionalização da Revolução” e livros relacionados com o fazer artístico, como “Literatura e Revolução”. Daí vem o interesse de André Breton , poeta francês, líder do surrealismo, em dialogar com ele para elaborar um manifesto artístico que tivesse um desdobramento político. Em 1938, Breton visita Trotsky e juntos com o pintor mexicano Diego Rivera elaboram o “Manifesto por uma Arte Revolucionária Independente”.
Aqui temos de nos deter para sinalizar o caráter inaudito do “Manifesto Mexicano”: não existe nenhum outro manifesto similar que tenha reunido a figura de um referente revolucionário mundial da importância de Trotsky à de um líder de um movimento vanguardista como Breton. Não há– este é um dos fatos originais do encontro - outro documento que fale em termos tão práticos sobre a relação entre estética e política revolucionária.
Cabe-nos refletir sobre a vigência deste Manifesto 80 anos depois da sua criação, pois assistimos a uma atualização das forças nazistas, stalinistas e trotskistas ao mesmo tempo em que estamos atravessando uma tripla crise: crise da arte, crise política do capitalismo, e crise de como organizar uma força revolucionária: também segue vigente a tarefa de pensar de novo as relações entre a independência da arte –da revolução – e a revolução – pela libertação definitiva da arte.

O Manifesto no Brasil.

Trazer este livro para o Brasil foi a tarefa de alguns intelectuais importantes que, em 1946,sob a direção de Mário Pedrosa,traduziram o manifesto e foram incorporando artigos, atualizando-o com temas locais.Assim chegamos à edição que usaremos como principal referência deste artigo.
O livro ainda tem uma segunda parte, onde se publicam artigos de intelectuais locais. Os nomes citados na edição de 1985 da editora “Paz e Terra” são os de Mário Pedrosa, Patrícia Galvão (Pagu), Mário de Andrade, Eduardo Moniz, Sergio Millet e Geraldo Ferraz.
A idéia de retomar esta discussão da ordem do estético e do político não é por acaso, mostra a vontade e a necessidade de reunir forças, de afirmar o pensamento de Trotsky no Brasil e retomar seu ideal libertário.

A questão da liberdade.

Trotsky escreveria que o homem procura na arte “a sua exigência da harmonia e plenitude da existência” e completa que “com a revolução o homem poderá realizar toda sua potencialidade criadora” e conclui que “a liberdade da arte é a liberdade que o artista se deve a si próprio e a sua própria emoção”.
Ele comenta que, em oposição a esta idéia, o stalinismo se apresenta como uma tendência destruidora dos ideais da revolução e da liberdade artística.A revolução tinha sido tracionada e ao invés de potenciar o espírito criativo acabou se consolidando como um elemento de controle, coesão e propaganda política.
Trotsky considerava a exaltação da figura de Stalin, a idéia de uma “arte proletária” e o “realismo socialista” na arte russa como uma grosseria que rebaixa a revolução proletária em termos artísticos a uma estatura inferior a da monarquia.
Aparece uma anedota interessante para ilustrar a questão da liberdade na elaboração do manifesto entre Breton e Trotsky que merece um destaque, a frase: “toda licença à arte, salvo contra a revolução proletária” citada do livro “Literatura e Revolução”; foi criticada por Trotsky,que pediu para retirar a restrição, argumentando que se,hipoteticamente, existisse algum tipo de frase ofensiva aos ideais revolucionários,o próprio autor seria condenado pelo seu público sem necessidade de uma indicação que se antecipe ao julgamento, inclusive ponderou que, em vista dos fatos que acontecem na Rússia, a frase que condena o que fosse “contra a revolução proletária”poderia abrir caminho para interpretações falsas. Lembremos que Stalin incriminava toda oposição justamente com essa acusação.

Arte e política.

Complementando o discurso, Trotsky incorpora a questão do comprometimento: a arte tem de ser livre,mas não pode ser gratuita, simplesmente “arte pela arte”.Ela teria de estar subjetivamente engajada com seu conteúdo social, mas sem qualquer relação com o que seria uma proposta propagandística. Apenas tem de ser entendida no sentido de se colocar contra o indiferentismo político, o artista exerce seu papel emancipador quando está compenetrado subjetivamente em seu conteúdo individual e social.
O Manifesto relata como a força da criação está sendo esmagada pelo nazismo e pelo stalinismo, afirma que uma arte verdadeira tem que ser revolucionária, tem de aspirar a uma reconstrução da sociedade, mesmo que apenas para libertar a criação individual do homem.
Neste artigo, Trotsky coloca a questão da relação da arte com a luta política: ele fala que o homem expressa na arte a plenitude da sua existência e as privações que a sociedade dividida em classes impõe. Ele continua: ”parece impossível apenas lutar com os métodos da arte”. Assim, a relação da luta ideológica e política se torna necessária. Mas a história criou uma cilada: a revolução foi traída e a arte sofreu como totalitarismo e a falta de liberdade.

A questão da verdade.

Citando o Manifesto: “A arte, como a ciência, não só não precisa de ordens, mas não pode, por sua natureza, suportá-las. A criação artística tem suas leis, mesmo quando está conscientemente a serviço do movimento social. A criação intelectual é incompatível com a mentira, a falsificação e o oportunismo. A arte pode ser uma grande aliada da revolução, enquanto permanecer fiel a si mesma”. Em outras palavras,Trotsky fala sobre a necessidade da verdade que se exige para ser um artista.
No artigo “Arte e Revolução”,Trotsky afirma que uma revolução não pode nem deve tutelar a arte. Ela não precisa de ordens, ela precisa ser verdadeira; “a arte pode ser uma verdadeira aliada da revolução em quanto permanecer fiel a si mesma”.
A questão da verdade aqui aparece ligada ao conceito de ser autônomo:  “a independência da arte para a revolução, a revolução para a libertação definitiva da arte”.
Finalmente, Trotsky expõe que nem o comunismo nem o fascismo podem levar a cabo esta tarefa, a libertação da cultura é inseparável da libertação social de toda a humanidade.

A questão da arte e o mercado.

O Manifesto agrega que toda manifestação artística, de certo modo, expressa esta revolta. A sociedade burguesa domestica este movimento subversivo e o “oficializa” introduzindo-o nos meios acadêmicos. Os movimentos engolidos pelo sistema são adversos às novidades,assim como orientam os sindicatos e os partidos. Neste contexto, as artes que se afastam deste conservadorismo são as primeiras vitimas do movimento, sendo sepultadas e afastadas. Em outras palavras, o próprio movimento da arte encontra dificuldade de poder se desenvolver pela apropriação que o meio acadêmico faz o petrificando e pela orientação tendenciosa do discurso político que tenta o colocar ao seu serviço.
Para exemplificar como a cultura é manipulada, Egberto Gismonti alertava como o sistema, a “indústria cultural” americana, dividiu a música popular ou folclórica da música de concerto; ele descreve como até o século XIX a música ancestral tinha sido entendida como origem e fonte da música de concerto e como em determinado momento a “indústria cultural”cria uma hierarquia escolhendo a primeira como inferior e a segunda como superior. A conseqüência deste critério seletivo se traduz em colocar o ensino acadêmico e toda uma rede de teatros à disposição, colocando prioridades para uma arte superior e marginalizando as demais a uma situação de inferioridade.
Existem vários exemplos de como o poder se apodera dos estilos para produzir a sensação de valorização para aqueles que o consomem: o jazz, que na sua origem foi negro e popular nos EE.UU,foi transformado em um gênero chic e esnobe para consumo de uma pequeno burguesia entediada; o samba, que é uma manifestação espontânea das comunidades negras e pobres brasileiras,  foi engolido, erotizado para ser vendido para o turismo, assim como o sertanejo passou a ser desprezado na sua versão original e consumido na sua versão “universitária” pelas massas alienadas.
O poder, com seus métodos, domestica o comportamento de alguns artistas, o estado burguês absorve-os como mercadoria e o partido comunista (que teria de representar uma oposição lúcida), com sua preferência estética de retratar o realismo socialista, coage aos artistas criativos, acusando-os de realizar uma arte burguesa.
Alem destes métodos de dominação ainda temos as formas mais grosseiras: a compra direta, o encanto pela via acadêmica ou a imposição de padrões estéticos rígidos como forma de adoecer a liberdade da arte; o Manifesto denuncia como os artistas dotados de caráter e talento são marginalizados e como os carreiristas e desprovidos de dom ocupam a primeira fila.

As dicotomias.

Trotsky continua falando do ceticismo como um tipo de desmoralização e defende o trotskismo das acusações de ser minoritário, argumentando que isso representa uma postura política de quem não teve medo de ficar só no meio de uma dicotomia que não oferece uma terceira opção. Faz um paralelo com a arte ao afirmar que muitos artistas audaciosos experimentam este isolamento e, enquanto os rotineiros, esnobes e céticos a desonram, a vida os leva em arrastão. Continua, dizendo que as diferenças entre a III e a IV internacional não estão só no âmbito político, mas também no território da arte. Assim, a perspectiva artística stalinista é necessariamente reacionária.
Trotsky estava no meio de uma crise de pré guerra, crise que acabou com o projeto audacioso da FARI (Federação de Artistas Revolucionários Independentes).Muitos artistas romperam com a federação por achar que ela teria que apoiar o stalinismo contra o nazismo, argumentavam basicamente que criticar a burocracia russa seria fazer jogo com o nazismo. Trotsky esclarece que foram os próprios erros do stalinismo que propiciaram o fascismo e que,na realidade,é o antifascista omisso com a URSS quem faz jogo com o fascismo.

Política da arte e preferências pessoais.

Trotsky, como já tinha constatado no livro “Literatura e Revolução” e como assevera novamente neste Manifesto,era aficionado por uma arte realista, admirava Diego Rivera pelo modo como expunha em suas telas uma arte que elevava a consciência das massas ao narrar a epopéia do povo mexicano e por tirar essa arte do circuito elitista dos salões,levando-o às ruas.
Uma das grandes colaborações de Trotsky neste Manifesto foi separar seu gosto pessoal e evitar uma postura que negasse as outras possibilidades artísticas. Ele é enfático em dizer que a arte não poderia servir de veículo para nenhuma ideologia, nem mesmo a socialista revolucionária.

Tarefas.

 O Manifesto propõe uma liga revolucionária para difundir os objetivos e criar um fórum de discussão mundial. Esta liga existiu realmente, mas teve vida curta devidoà crise que se criou em relação ao conflito binário nazismo/stalinismo.

SEGUNDA PARTE.

A segunda parte da edição inclui uma série de artigos de Intelectuais brasileiros que publicaram idéias em sintonia com o espírito do documento. No primeiro texto,Mário de Andrade narra como os intelectuais percebem que suas reivindicações se confundem com as da sociedade como um todo e como eles desenvolvem uma distância lúcida do PCB.
A seguir, numa entrevista, Edmundo Moniz  fala sobre o jornal “Vanguarda Socialista” e descreve como era a relação com o PC. Cita o caso de Jorge Amado, que introduzia nos livros elogios ao partido comunista e à luta social.
Ao longo da entrevista ele descreve também  como a postura estética defendida pelo stalinismo: o “realismo socialista” se opunha ao abstracionismo defendido por Mário Pedrosa que achava que o figurativo de algum modo cerceava o crescimento das possibilidades estéticas.
A edição inclui um artigo onde Mário de Andrade faz uma critica à falta de verdade, aos clichês e lugares comuns de uma antologia de poesia de proletários americanos. Também ironiza a postura do intelectual médio brasileiro, dizendo que ele deveria ser um revoltado, mas acaba sendo engolido pelo sistema, que o transforma em uma existência inofensiva.
Patrícia Galvão (a Pagu) faz intervenções tocando diferentes assuntos: por um lado critica a literatura best-seller, inculta, dita proletária, de Jorge Amado. Também fala sobre a necessidade de o intelectual se situar e reconhecer o que é ir à frente. Onde estaria esse lugar? O que teria de transpor?
A autora por outro lado fala de valorizar a pesquisa, no sentido que a pesquisa nos ajuda a entender o passado para intervir no presente.
Ela orienta a pesquisa como o ato de acompanhar os movimentos dos criadores e não dos dogmas.
Faz uma comparação entre a literatura traída e a revolução traída. Levanta a questão da liberdade e pergunta: “é livre quem milita dentro de uma organização que cerceia aos seus membros o exercício dela? Uma organização que impõe uma disciplina de ferro?”. Critica Portinari quando que ele afirma que toda arte tem de estar ligada ao povo, do contrário seria apenas um jogo de cores sem sentido.
A segunda parte da edição culmina com alguns artigos de Mário Pedrosa, onde ele descreve a política nazista de Stalin ao querer negar aos artistas os movimentos que não compactuavam com o realismo socialista ou com o culto à sua pessoa.


Final.

Existiu no Brasil, assim como na Argentina, toda uma geração seduzida pelo partido comunista ou pelo nacionalismo burguês (representados pelo Getulismo e o Peronismo).Estas tendências discutiam no âmbito local as políticas do nazismo/stalinismo que existiam a nível global.
O partido comunista dirigia os sindicatos de músicos, atores, escritores e atraia figuras como Mercedes Sosa, na Argentina; Pablo Neruda no Chile  e, Jorge Amado, Portinari e Cláudio Santoro  no Brasil.
Hoje essas forças se reinventam em novas dicotomias Lula/Bolsonaro; Freixo/Crivela. Temos de tirar conclusões de toda esta experiência histórica e buscar posturas independentes destes caminhos oferecidos.
Os antigos stalinistas hoje estão divididos em três grupos: os que romperam na época da Perestróica, representados por Roberto Freire(setores que hoje apóiam o governo Temer), o PC do B de Jandira, que apóia o PT, e fez parte do governo Cabral e Paes no Rio e o PCB que apóia o PSOL.
Enquanto a esquerda, burocratizada, quer a arte ao seu serviço, a direita, grosseira, retira as matérias humanas do ensino obrigatório para divulgar seus dogmas de superficialidade, alienação ,  obediência e provocar o que Cortázar chamava de “genocídio cultural”.
É fácil imaginar as dificuldades e o isolamento político que sofrem e sofreram os artistas e intelectuais que não se alinham em nenhuma destas duas posturas.  Cristina Galvão (Pagu) afirmava: “estamos empreitados entre a direita opressiva e a esquerda totalitária”.

O futuro.

A grande colaboração do Manifesto foi a de fazer uma ponte entre uma postura política própria e a liberdade artística que se desdobrava dessa postura.
No Brasil, um grupo de intelectuais, artistas plásticos e militantes políticos entenderam este legado e criaram um núcleo importantíssimo para o desenvolvimento da política e da arte. O artista plástico Antonio Manuel afirma que a grande colaboração de Pedrosa foi o seu ato político de não direcionar, mas de estimular a criação.

A releitura do Manifesto, a criação de uma nova FIARI para divulgar os ideais libertários que colaborem para desenvolver uma consciência social e uma postura crítica em relação ao poder ou ao direcionamento estético podem ser caminhos saudáveis e legados importantes, nos quais possamos nos orientar para dar continuidade a esta herança

Roberto Rutugliano 2017.