quinta-feira, 25 de julho de 2013

Livro das mil e uma noites

 Livro das mil e uma noites


Introdução geral.





Vou falar deste livro encantador mais, gostaria de esclarecer que o meu interesse é apenas amoroso pela obra e pela narrativa...Não tenho nenhuma pretensão didática ou antropológica...Apenas o meu prazer de ficar lendo e relendo estas páginas maravilhosas que a Grande Literatura deixou para nos e também a vontade de compartilhar o prazer que sinto ao me aproximar destas páginas admiráveis.
O título nos aproxima do conceito de eterno, Borges fala que o título destes contos, a frase: “mil e uma noites”, guarda em sim a idéia de infinito e também a de agregar, poeticamente, algo mais a esse infinito, como se falasse: “te amo para sempre e mais um dia”.
Ele fala se o titulo fosse 999 noites teríamos a sensação de uma falta e se fossem mil noites teríamos a noção de algo muito numeroso mais, as mil e uma, descreve algo que vai alem de aquilo que por si só é enorme.
Que nos evocam estes contos? De onde eles nos chegam? Que tem Oriente de poético e misterioso que nos atrai?
Oriente o lugar onde nasce o Sol. O ouro. O deserto. Alá. Bagdá. Os contos estão cheios de magia, de gênios, de mitos...
A origem do livro é misteriosa. Provavelmente produzida por muitos autores. São fábulas, historias contadas por homens que tinham como profissão, justamente, narrar contos...
O próprio estilo claramente nos remete a idéia de um narrador, não é uma prosa escrita no formato moderno de literatura e sim com a intenção de reproduzir a sensação de estar ouvindo algo que esta sendo contado.
O tradutor ao português Mamede Mustafa  diz que para ele se trata de uma representação letrada de uma prática oral idealizada na sua valorização, em outras palavras: quem as escreveu pensou em trazer a presença de uma oralidade para quem as lê.
No século IX já existe referencias, no XV se editam estes contos em Alexandria (Egito) e em 1704 se traduzem e se publica a primeira tradução ao francês por Antonie Galland. O Oriente entra assim definitivamente na consciência Européia...turbantes, eunucos, príncipes, a magia coloca um pé na França, a razão recebe a fabula...
Galland se tomou algumas liberdades na sua tradução das historias e até se fala que ele de tanto escutar, de tanto ler e relê-las, criou a do “Aladin e a lâmpada maravilhosa”... as edições manuscritas árabes não registram também a historia de “Ali Baba”.
Outra curiosidade é que no livro das mil e uma noites também aparecem elementos ou símbolos que estão presentes em outras obras da literatura universal: no conto de “Simbad, o marinho”,por exemplo, existem situações que aparecem na Odisséia (como é a cena de cegar a um monstro gigante antropófago) e no conto “historia mágica do cavalo de ébano” idéias que depois são recriadas no Quixote de Cervantes (como é o caso da cena do cavalo de madeira que voa).
Estes contos inspiraram a muitos autores em todo o mundo na Inglaterra, por exemplo, Stevenson escreveu “As novas noites árabes” é assim estas belas historias continuam se desdobrando na literatura e em nossa imaginação todos os dias até hoje, seja num filme, numa pintura ou na imaginação de uma criança que recebe a sua iniciação literária apreciando as imagens deliciosas destes contos ...
Tem narrativas que falam de amor, historias repletas de humor, de aventuras , historias com cenas de sexo e quase sempre historias onde o acontecimento fantástico se mistura na vida cotidiana dos personagens.

 

Primeira parte.

Apresentação do conto
Existe uma situação de infidelidade que provoca um trauma no rei e a partir desta desilusão decide se vingar do sexo feminino e matar, depois de uma noite nupcial, a todas as mulheres virgens do seu reino com o propósito de não ser mais traído.
O pai da última virgem tenta fazer a entender a sua filha Sherazade que tem que fugir para não ser morta mais esta, confiante no seu poder de persuasão, teima com o pai e cria a estratégia de entreter ao rei indefinidamente com suas historias e assim se salvar da sua condena.
O autor introduz uma primeira fábula para descrever a impotência do pai frente à obstinação da sua filha e para exemplificar este comportamento usa a imagem de um homem que escuta as vocês dos animais e é de um galo que ele ouvi o palpite de resolver a situação de um modo rude, simplesmente: dando umas chicotadas a sua filha quando ela se embirra. 
Anos mais tarde Friederich Nietzche diria: “Vais ter com mulheres? Não esqueças o chicote”.
Votando ao nosso livro: a idéia de uma mulher que esta condenada à morte começa a contar historias a um rei para entretê-lo e assim salvar sua própria vida e algo interessante por si mesmo é a idéia da troca da vida pela historia, a literatura como arma secreta de uma sobrevivência.

Os contos
Começam os relatos:

A historia do pescador e do gênio
Uma manhã um pescador tira sua rede a “um mar” e depois de retirar a rede por quatro vezes não consegui mais nada que inutilidades..na quarta ele retira um vaso de cobre amarelo com uma tampa selada...pensa que poderia vender o vaso...abre a tampa e aparece um gênio... um ifrit (como eles chamam) que esteve prisioneiro..o gênio conta sua historia... (estamos na frente de uma outra realidade- um mundo fantástico que dialoga com o mundo dos homens)...o gênio conta para o pescador que tinha prometido, para si mesmo,  quando ficou preso no vaso, que quem o livre da sua situação seria o homem mais rico do mundo, passam 100 anos e nada, depois promete que quem o livre da sua prisão ele lê ensinaria a linguagem dos pássaros e nada, passam mais 100 anos..a promessas continuam até chegar a pressagiar que ele poderia converter em Deus ao homem que o liberte novamente nada, finalmente, depois de 400 anos irritado com a sua interminável espera, ameaça dizer que a pessoa que o liberte morrerá...o pescador escuta esta última palavra e se aterra ...uns minutos depois pensa numa estratégia para se livrar da situação e fala para o ifrit: você não saiu dessa garrafa, não , quero ver como esse corpo gigantesco pode ter saído dessa bacia e o convida a entrar na garrafa de novo.. quando o gênio se oculta de novo dentro do vaso...ele tampa o recipiente e se libera.. a historia segue mais o protagonista não é mais um pescador...aparecem outras historias dentro de esta primeira e o livro se deixa levar por caminhos,labirintos, corredores, véus...tudo isto é típico das mil e uma noites..contos dentro de contos..COMO ALGO ILIMITADO, INFINITO...sonhos que se multiplicam....um efeito de dobras...de sequências que nunca acabam...


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