domingo, 22 de março de 2015

Amor Eterno

Amor eterno.

No reino de Imbitub governava com sabedoria e justiça  o Sultão Tribusto, ele  tinha uma única filha que estava na idade de casar. Tribusto tinha uma preocupação  clara em relação ao futuro da sua linhagem porque a princesa  Sofia não queria  contrair matrimonio.
Argumentava que  ao se sentir apaixonada ela tinha a sensação de perder a cabeça, dizia que depender de outra pessoa para ser feliz a deixava  fragilizada, não se sentia dona de si, se achava fora do seu eixo , em fim, ela  tinha medo de amar.
O pai, o Sultão Tribusto,  apresentou alguns candidatos importantes  e a princesa até que conheceu algum deles mais na eminência de estreitar a relação a princesa interrompia o namoro e tudo voltava ao ponto inicial.
Relativamente longe dali no reino do Sultão Elibir na antiga Lebanon vivia o príncipe Horacio que  por diferentes motivos também não queria formalizar casamento .
Isto claro que preocupava ao Sultào Elbir porque sua descendência podia esta comprometida assim que em longas conversas tentou induzir ao príncipe a se aproximar de uma donzela com o propósito de contrair matrimonio e perpetuar assim  o seu  reinado.
Horacio sempre argumentava que desconfiava das mulheres, que a infidelidade e a vida oculta eram a essência do feminino e que jamais conheceria uma mulher virtuosa que pudesse fugir desse destino.
Em quanto isso , lá no céu a deusa Isis se apiedou destes dois jovens,  entendeu  a situação e achou que deveria chamar a Cupido para que  ajudasse a  que aqueles dois se encontrassem.
O anjo Cupido, aceitou a missão e  estudou  qual seria o melhor  modo de colocar um no caminho do outro.
A princesa Sofia estava procurando um cozinheiro que pudesse comparecer ao palácio do Sultão na finalidade de cozinhar esfihas para receber uns convidados árabes , tinha localizado o melhor mestre de culinária arábica das  adjacências  e queria  poder contar com o seu talento na recepção.
Enviou uma carta convidando ao cozinheiro do palácio do Sultão Hernio  que morava numa cidade vizinha a Imbitub  e isso chamou  atenção de Cupido que achou que poderia colocar sua colher nessa cena  e, imaginado um plano de  aproximação do casal , interceptou a carta , vinculou ela junto com a correspondência  pessoal que o príncipe Horacio teria que receber na manhã seguinte e se sentou a observar o transcorrer da trama.
O príncipe, de manhã, leu a carta, sem entender muito bem do que se tratava, mas, ainda assim teve a delicadeza de respondê-la com estas palavras: “Estimada princesa, gosto de esfilhas e até gostaria de poder satisfazer seu desejo, mas não é a culinária uma arte com a qual consiga  me entender ainda  com alguma  destreza  , imagino que outros homens com muito mais talento que eu para essas empresas consigam satisfazer seu pedido com melhores resultados, as  suas ordens o príncipe Horacio”.
A princesa Sofia ao receber a resposta de Horacio ficou surpresa não sabendo explicar como aquela carta foi parar na correspondência do palácio do Sultão Elibir, mas achou simpática a réplica do príncipe, então decidiu  explicar-se e  assim escreveu: “ Estimado príncipe Horacio não termino de entender como a minha carta teve um destino tão  caprichoso , imagino que existe um vento  rebelde que desobedece nossas vontades. Será coisa do destino?  Vou refazer o pedido para seu original destinatário e espero que  não tenha  tomado muito de seu tempo com os devaneios deste correio mutável , às suas ordens, a princesa  Sofia”.
O príncipe achou indelicado interromper o dialogo e enviou mais uma carta iniciando uma conversa casual  perguntando sobre o tempo e sobre o céu de Imbitub : “minha estimada princesa,  fora o assunto das esfilhas e das cartas extraviadas queria  lhe comentar que há muito tempo que não vou à sua terra, ainda tem nesta época do ano, aqueles entardeceres rubros,  aquele cheiro de jasmim  inundando o ambiente? São coisas que nos impedem esquecer o futuro , sempre às  suas ordens, príncipe Horacio“.
Cupido a esta altura estava desfrutando desde alguma nuvem porque seu propósito estava encaminhado e pelo andar da carruagem em breve teríamos algo mais do que falar.
A princesa retornou a carta com uma resposta convidativa: “ Meu caro príncipe Horacio: neste momento o meu gato na janela olha as nuvens do céu se desfazendo e parece  entender como todos aqueles desenhos ocasionais produzem formas aleatórias, ora  de cavalos, de montanhas, de mãos ...um dia vou desenhar ele para que sua majestade conheça a beleza da seu contorno  obscuro recortado no  fundo  vermelho  do céu ao cair da tarde  , com carinho, princesa Sofia”.
As cartas se sucederam sempre nesse tom poético e afetuoso, mas, Cupido entendeu que precisava de mais uma apimentada e decidiu introduzir a figura do príncipe no mundo onírico da princesa,  a cena foi à seguinte: Ela tinha pedido para suas escravas pessoais e todas as damas da corte que, por favor, a deixassem sozinha aquela noite no seu quarto, proibiu a entrada de pessoas e pediu para que ninguém interrompesse sua intimidade até o dia seguinte porque ela precisava  ficar só e desejava que  respeitassem aquela solidão.
A princesa tinha o propósito de reler todas as cartas de Horacio e escrever uma outra resposta  incorporando novas imagens e lembranças que teria acumulado ao longo do dia inteiro, o sono  atacou por surpresa e  acabou se entregando aos cuidados do Deus Morfeu.
Durante o sono, uma forma humana se aproximou dos aposentos da princesa e começou a olhar pra ela, primeiro tomou um susto, mas depois escutou uma voz: “sou Horacio, desculpe minha intromissão, estou aqui para te fazer uma visita”.
A imagem de Horacio aos poucos se tornou mais clara e ele sem cerimônias se aproximou da cama e deixou reconhecer seu rosto e seus trajes.
Era um jovem esplendido, de cabelos longos e cacheados, olhos azuis, vestia uma camisa da mesma cor de seus olhos bordada com pássaros dourados na frente e nos ombros tinha ainda enfeites de  um azul mais claro, as mangas terminavam em brocados que chegavam até o final do seus braços, as mãos eram grandes mas  delicadas e tinham um anel vermelho que sobressaía  do seu dedo anular pelo seu colorido e seu brilho , o anel chamava a atenção não pela sua opulência mais pelo seu encanto.
Os dois se olharam, sorriram e sem querer suas bocas se aproximaram em um beijo que acabou detonando uma serie de luzes coloridas e reflexos que eles nunca antes tinham experimentado, as pernas da princesa sucumbiram.
As caricias e os beijos se multiplicaram, as roupas caíram  e o príncipe Horacio olhou a nudez branca da princesa Sofia com desejo e um apetite delicado.   A pele toda despida era apenas interrompida por um amuleto de nácar que pendia da  garganta da ninfa como uma única vestimenta, os corpos  se elevaram no ar  e uma música celestial fez com que os dois flutuassem  embriagados.
O príncipe acariciou os ombros de Sofia  e sentiu a suavidade de um tecido de seda fina , os dois se abraçaram e se uniram até ficarem colados em um só corpo  impregnados de suor e de aromas numa sensação que ficou na memória dos dois pela vida inteira.
Beijaram-se sem pronunciar palavras, apenas sons inatingíveis que só os amantes emitem nas horas intimas.
Repousaram num estado de alegria e de êxtase,  até ficarem  completamente dormidos  sem lembrar da passagem do tempo nem da sua própria existência; no dia seguinte procuraram  entre os lençóis o corpo  amado que já não habitava mais aquele leito.
A princesa olhou sua mão e descobriu o anel vermelho num dos seus dedos,  e o príncipe olhou seu pescoço e viu o amuleto de pedras que tinha observado pendurado no corpo da sua amada.
A princesa acordou atordoada e sem pensar buscou  tinta e papel para escrever para Horacio relatando discretamente o seu sonho , tentando explicar inclusive como teria aparecido aquele anel vermelho na sua mão. O príncipe por sua vez fez o mesmo movimento e, cuidando para que o  seu relato não parecesse um devaneio impudico e tentou descrever a sensações deliciosas da noite anterior e a aparição do amuleto envolta  da sua gola.
Quando as cartas chegaram ao destino, os dois puderam constatar que o sonho  tinha extrapolado os limites do mundo onírico: sentiram calafrios nos seus corpos e uma sensação de que suas vidas foram atravessadas por uma espécie de sortilégio que não conseguiam entender.
 Sofia se sentiu completamente envolvida na relação e isto detonou  antigos medos e  uma  sensação de incômodo que se fazia presente quando ela não conseguia se sentir dona de si.
A resposta foi afastar-se de Horacio, tentar esquecê-lo e procurar se equilibrar para ganhar de novo o comando do seus desejos.
O príncipe ao mesmo tempo sentiu que os dois estavam se aproximando perigosamente e tentou enviar vigias e informantes para o palácio de Sofia com o intuito de saber de perto quais eram os verdadeiros sentimentos dela e assim poder caminhar num  território mais firme.
O resultado foi catastrófico, primeiro a intolerância, depois a agressividade e por último, o afastamento  definitivo sucederam-se, nesta ordem, entre os dois.
Cupido estava perdido e nada conseguia fazer para interromper aqueles receios que impediam que a relação conseguisse se estreitar.
A Princesa  tomou a iniciativa e decidiu desistir  da relação por sentir que as coisas tinham ido longe demais, e que seria mais prudente retomar seu antigo estado de solteirice e  ao controle da
situação.
Comunicou sua decisão ao príncipe e este adoeceu,  triste e sem vontade nem forças para viver o desenlace da relação acabou morrendo de tristeza dias depois  que a princesa o abandonara.
Quando ela soube da morte do príncipe se desesperou e começou a pedir a todos os anjos do céu que devolvesse  Horacio para sua vida, que ela não conseguiria viver sem  ele.
Cupido atendeu sua oração, e pediu para a deusa Isis mãe da vida, deusa do amor e da magia para devolver o príncipe a este nosso mundo.
Ela escutou a prece, mas falou que Sofia deveria passar por três provas para merecer a restituição do seu amante para o mundo dos vivos.
Cupido aceitou o reto da deusa e pediu para ela descrever quais seriam as provas as quais a princesa deveria se submeter. Isis falou: primeiro ela tem que estar numa margem do rio e na contraria ao mesmo tempo. Segunda prova tem que caminhar o longo de uma arvore desde a raiz até a copa e por último tem que entrar no lago dos mortos e trazer o tambor na baqueta sagrada que estão ali desde os tempos remotos.
Cupido entrou no quarto da princesa e tomou uma forma humana para poder falar com ela e para  dissuadi-la de tentar passar pelas três provas que a deusa tinha encomendado para ela se reencontrar com  Horacio.
A princesa estava desconsolada chorando na escuridão do seu quarto quando viu a imagem do Cupido.  Tomou um susto,  mas ele  aos poucos a acalmou e  lhe explicou  quem era e a chance que estava trazendo para ela recuperar  seu amado.
Cupido tentando convence-la  para ganhar forças para passar pelas provas até que ela respondeu:
“Mas  como vou conseguir estar numa margem do rio e em  outra ao mesmo tempo?” , este respondeu:  “essa é fácil,  você se colocará em pé em uma das margens e na outra colocaremos um vidro espelhado que possa refletir sua imagem”.
A princesa aceitou o  desafio e foi até o rio , colocou o vidro espelhado em uma das margens apoiado numa pedra , atravessou para a outra costa , ficou em pé tentando fazer coincidir sua  figura com o reflexo e quando isto aconteceu um grupo de pássaros saíram de uma arvore fazendo um reboliço em claro sinal que a primeira prova estaria cumprida.
Ela começou a caminhar em direção ao palácio, mas Cupido falou ao seu ouvido, vem comigo me acompanha que tem algo que te mostrar, ele a levou até uma arvore que tinha sido derrubada por uma tempestade um tempo atrás e que estava deitada no meio de um vale, indicou pra ela atravessá-la  andando desde a raiz até a copa como tinha sido sugerido pela deusa e quando isto sucedeu novamente um movimento de pássaros deram o sinal que a segunda parte do desafio estaria sendo cumprida.
Faltaria ainda o último e derradeiro desenlace para a princesa reencontrar ao seu amado.
A princesa orientada por Cupido vai até a beira do largo dos mortos e mergulha nele , chega até o fundo e visualiza o tambor e a baqueta sagrada embaixo do tronco de uma arvore que estava submergida,  consegui pegar nos objetos sagrados mas não  teve oxigênio suficiente para  voltar ao mundo real e morre .
Cupido se desespera e vai  pedir a deusa Isis que por favor devolva a vida a Sofia e Horacio mas ela argumentou que embora ela seja  deusa  também do nascimento e da vida que o único que poderia fazer e permitir que os dois se encontrem no Edem e assim seu amor se tornaria eterno.
Cupido aceita a proposta da deusa Isis  e a partir  de então  Sofia e Horacio se encontraram no céu eterno onde vivem felizes até os dias de hoje.






domingo, 1 de março de 2015

historias da princesa Alit Sagach e do príncipe da Pérsia

A historia do pássaro que falava.

"não devemos deixar perpetuar nossas magoas"


Á muito tempo atrás vivia na cidade de  Avitub uma princesa bela e honrada chamada  Alit  Sagach, a sua vida transcorria de modo ameno quando, de repente,  sua tranqüilidade foi interrompida por um fato inesperado,  ela teve um sonho , no mínimo, curioso , nele  aparecia a figura de um ancião que ponderava claramente que ela deveria procurar o pássaro que falava.
No sonho  a voz, inclusive, descrevia  com detalhes como teria que fazer a viagem para conseguir  o que ele indicava; o ancião lhe sugeria que ela percorresse um caminho em direção ao pôr do sol  desde a saída da cidade e andar durante 10 dias em linha reta  até que em um determinado momento,  no meio de um vale,  se toparia com uma árvore  embaixo da qual encontraria um monge que lhe indicaria os últimos passos que ela teria que percorrer para encontrar o tal pássaro.
A princesa Alit Sagach estava acostumada  a sonhos  que tivessem  imagens desordenadas ou  situações que envolvessem pessoas do seu mundo  cotidiano mais este parecia um sonho diferente, a  princesa Alit ficou completamente arrebatada por aquele presságio e pediu para seu séquito que preparassem uma caravana para empreender uma viagem de 10 dias sem  esclarecer para nenhum deles quais seriam  os verdadeiros motivos que impulsionaram a ação.
Dos dias depois de tomada a decisão saiu das portas da cidade a princesa Alit, 10 escravas, 20 eunucos negros, 12 soldados da guarda imperial, algumas pessoas que faziam parte da corte como conselheiros, astrônomos,  mais de 40 camelos e dois falcões.
Durante os primeiros dias uma tormenta de areia no deserto produziu  infinitas perdas aos viajantes e tiveram que se livrar dos acervos de água e alimentos, no quinto dia a carreta foi assaltada por um grupo de violentos ladrões  que roubaram pertences, deixaram quase sem provisões ao grupo, mataram todos os homens e ainda levaram todos os camelos,  na oitava jornada uma peste  atacou as mulheres e produziu um surto de febre coletiva que fez com que fosse impossível prosseguir  a viagem com o grupo, a  princesa um tanto  impulsionada pela força da sua determinação continuou andando e acabou chegando sozinha ao final do trajeto  com tudo o que isso implicava de risco e de coragem.
No derradeiro  trecho da caminhada, num lindo dia de  outono,  finalmente  encontrou o vale , a árvore  e o velho monge sentado  no lugar como tinha sido indicado no presságio,  se apresentou e explicou para ele  que tinha tido um sonho onde ela foi avisada que encontraria  uma pessoa  embaixo de uma árvore e que esta  pessoa lhe daria as coordenadas sobre  o que fazer para encontrar o pássaro falante.
O monge  se reconheceu na historia e falou que o pássaro na realidade era o príncipe da Pérsia que tinha sofrido um feitiço e que estava preso no corpo de uma ave que habitava uma árvore branca que ficava  no alto da montanha.
Falou que uma mula indicaria o caminho até a vera da subida e que depois ela teria que prosseguir sozinha para descer com o pássaro o libera-lo do sortilégio e unir seu destino ao dele.
A princesa, ainda meio entorpecida pelos percursos da viagem e pelo encontro com o ancião, olhou para os lados e deu de cara com a mula , ela e o animal se  colocaram frente a frente como se estivessem se entendendo....a  mula começou  a andar em direção de uma passagem que dava para o inicio da montanha, então a princesa a seguiu  e em determinado ponto, embaixo de uma ladeira íngreme a mula  afasto-se como que indicando que a partir de ali a princesa Alit deveria seguir sozinha o seu caminho.
A princesa subiu a encrespada ladeira e quando esteva na cúspide encontrou finalmente  a arvore branca e ali mesmo estava o pássaro que falava.
O encontro dos dois foi algo muito belo, apenas se descobrindo no começo  mas já sabendo já que teriam toda uma historia pela frente  que estava se iniciando em aquele instante com aqueles primeiros olhares.
O pássaro falou com ela: Olá , você sabe quem eu sou?
Ela: Sim, o príncipe da Pérsia que por culpa de uma magia estás num corpo de pássaro.
Ele: Sim, exatamente, nunca antes tinha visto uma mulher tão bonita  como sua majestade.
Ela: obrigado, sou a princesa Alit moro  na cidade de  Avitub há 10 dias daqui, teve um sonho e vim para  resgata-lo.
Vamos sair daqui então, falou ele, me leva contigo por favor.
A princesa e o pássaro desceram da montanha e a mula que estava aguardando os guiou até a árvore onde já não tinha mais o monge (tal vez porque seu propósito no mundo tivesse chegado ao fim).
Os dois voltaram sozinhos até a cidade e já no palácio foram recebidos com muito carinho e preocupação por todo o pessoal da corte que não tinham noticias a mais de 20 dias.
A princesa Alit, contou as penúrias da viagem e como conseguiu se superar para voltar com o pássaro falante  e cumprir a sua missão .
Fizeram todas as cerimônias fúnebres para despedir-se de todas as pessoas mortas que tinham participado da caravana e depois de quatro dias de luto oficial a cidade começou a retomar seu ritmo normal.
A princesa levou o pássaro para morar no seu próprio aposento e depois de se reabastecer durante alguns dias pela extenuante viagem que sofreram, pássaro e princesa começaram a conviver em paz como se fossem velhos amigos.
Comiam juntos, comentavam assuntos sobre suas vidas íntimas até que cada um começou a  mostrar seus humores e sua forma de ser .
A princesa não sabia a quem recorrer para poder tirar o feitiço do príncipe e transformá-lo de novo em homem mas por enquanto conviviam juntos ele como pássaro e ela como donzela aprendendo a  gostar um do outro.
Ela era doce e ao mesmo tempo tinha um temperamento violento, contava com toda a paciência e amabilidade do mundo com todos mas preservava uma sala de tortura no porão do palácio onde castigava cruelmente aos que teimassem, então ela dizia : faço isto para ver se  entendem de uma vez!
O príncipe da Pérsia era de um espírito jocoso , burlesco, brincalhão ...uma manhã ele, escondido detrás de uma folhagem,  imitou uma voz rouca e se fez passar por um asno que passava , então a princesa por um instante pensou que o asno falava com ela...momentos depois ele cometeu uma gafe , foi descoberto  despertando a fúria dela e a vontade de castigá-lo.
O episodio foi esquecido mas a princesa guardou mágoa e rancor por conta de se sentir burlada pelo príncipe.
Meses depois ele escondido detrás de um cortina do no quarto, impostando uma voz diferente  a fez  acreditar  que estivesse escutando uma mensagem do alem então , ela conversou durante longo tempo com o  que parecia um duende ou uma assombração.
A princesa  acreditou na presença de um espectro e discorreu com ele durante longas horas, então ele aos poucos foi ganhando a confiança dela e foi induzindo a acreditar que fosse um amante fantasma que a estava seduzindo. Quando ela descobriu o engano ficou furiosa e perseguiu ao pássaro pelo palácio inteiro para lhe dar uma surra.
O pássaro esteve de castigo durante uma longa quarentena e a princesa sem saber como lidar com aquele personagem querido e  detestado  , ao mesmo tempo, continuou o perdoando e acumulando aversão aos disfarces e a esse lado trapaceiro que tinha o príncipe da Pérsia  .
Os ânimos se acalmaram, a princesa Alit  Sagach e o pássaro passaram a conviver em harmonia e ternura.
Ele cantava pra ela e todos os pássaros da região acudiam a escutar os trinos musicais do príncipe que começava no por do sol e continuava pela noite adentro alegrando os jardins do palácio como se fosse um aroma suave que impregnasse de beleza todo o ambiente.
A vida continuava  normalmente no palácio até que um touro falador entrou em cena; não se sabe de onde surgiu mais conseguiu entrar no palácio, colocar a cabeça na janela do quarto da princesa e se dirigindo a ela lhe propôs amizade.
A princesa aceitou, embora sempre com reservas, a relação de afeição com o touro  foi ganhando intimidade até que no primeiro desentendimento ela achou que se tratava de novo de um outro truque do pássaro e lembrando de todo seu ódio acumulado partiu pra cima dele com uma faca na mão para matar ao príncipe e dar um ponto final em suas iniquidades .
Primeiro final.
A princesa irada o cercou e acabou acertando o coração da ave com a ponta fina de um punhal, brotando sangue do peito do pássaro e na hora seu corpo mudou para o do príncipe aparecendo, de repente, na sua frente, a figura esbelta de um jovem angelical.
O príncipe da Pérsia se contorceu todo e acabou morrendo na frente da princesa com as duas mãos no peito segurando o punhal assassino que tinha acabado com sua vida.
A princesa  afastou-se da cena do crime e acabou se amaldiçoando quando o touro apareceu comentando o ocorrido.
Tarde demais Alit  Sagach descobriu que  o pássaro tinha sido trucidado por engano.
De algum modo a profecia do monge se realizou e os seus destinos se uniram. Ela se desfez do touro e deu uma solene cerimônia de despedida ao amado pássaro-príncipe sempre suspeito e eternamente lembrado na memoria da princesa.
Um tumulo e uma esfinge com a figura de um  príncipe alado foi construída nos jardins do palácio e a historia do pássaro que falava foi uma das mais lembradas até hoje por todos os habitantes da cidade  de  Avitub.
Segundo Final.
Deteve-se a tempo de não cometer um ato definitivo do qual poderia  arrepender-se respirou fundo, de um passo atrás, expulsou ao touro dos jardins do palácio e deixou ao pássaro numa gaiola isolado durante três semanas de castigo ainda sem saber identificar se o episódio foi real ou fictício.
O tempo que sempre é generoso com nosso passado, acabou dissolvendo a magoa e com passar dos dias o ressentimento deu lugar as saudades; a princesa Alit lembrou dos momentos prósperos, das canções que o pássaro-príncipe cantava pra ela, das tantas luas diáfanas que os iluminaram; não o absolveu pela  perversidades que cometeu  mais sim  pelos atos suspeitos dos quais fora incriminado.  Como gesto de reconciliação a princesa  Alit tirou o pássaro da gaiola o beijou e de repente, frente a seus olhos, a ave se converteu na figura esbelta do príncipe da Síria, , reinaram felizes no palácio conquistando a alegria grata e silenciosa da qual usufruem os seres que se amam quando unem seus destinos.