sexta-feira, 17 de julho de 2015

A máscara.

 

Aqui estão reunidos vários conteúdos ligados ao tema da máscara 


recolhidos da literatura, a pintura ,o teatro e o cinema.



A máscara no seu significado imediato seria algo assim com um adereço

um disfarce apenas.


Pode ser associada a um embuste ou a uma ambiguidade.


No Brasil em alguns casos pode ser sinônimo de soberbia, a pessoa poder ser 

considerada "mascarada" se ela se comporta  com atitudes que detonem algum tipo de 

superioridade ou de auto valorização excedida do "permitido"..  
Quando falamos em desmascarar temos a ideia de mostrar a verdade por trás de um engano.

Para Borges era algo que ocultaria seguramente algo pior.   Scott Fitzgerald no livro 


Crack Up tinha falado sobre o tema dizendo que a vida é, obviamente, um processo de 


demolição, esta afirmação se refere á destruição das máscaras que temos que são 


devastadas com os anos e como elas caem e mostram, aos poucos, o verdadeiro da 


existência.



Em outra direção Cortazar termina o conto

 “O Perseguidor” 


com a morte do protagonista dizendo a frase “Faz-me uma 


máscara”, esta frase e tirada de um poema que persegue 


ao Perseguidor de Cortazar.O poema em questão é do 


Dylan Thomas chamado justamente “Faz-me uma 


máscara”.



O tema


O poema trata do tema de lidar com o social, da 

necessidade de preservar o interior e forjar um externo 


que possa lidar com o impessoal,

Aqui o poema:

“Oh, faz-me uma máscara e um muro que me esconda de teus espiões
Dos agudos olhos esmaltados e das garras que denunciam
O estupro e a rebeldia nos viveiros de meu rosto,

Uma mordaça de árvores mudas que me guarde da nudez dos inimigos,
Uma língua de baioneta nesse indefeso fragmento de oração,
Torna loquaz a minha boca, e que ela seja uma trombeta de mentiras
[soprada com doçura,
Dá-me as feições de um estúpido entalhado no carvalho e na velha
[armadura
Para escudar o cérebro brilhante e confundir os inquisidores,


E uma dor viúva manchada de lágrimas caídas das pestanas
Para dissimular a beladona e fazer com que os olhos secos percebam
Que outros atraiçoam as lamentosas mentiras de suas perdas
Através do arco dos lábios nus e do riso à socapa.”

Dylan Thomas .



Na primeira parte compara á máscara com um muro que me esconda do mundo hostil. 
Na segunda parte continua com a imagem mais agora incorpora a ideia de que essa máscara nos traía a sabedoria do silencio e as armas da fala.Destacamos a beleza da frase:” trombeta de mentiras , soprada com doçura” ..
Segue falando o poeta pedindo para ter um aspecto de tolo que esconda sua inteligência.Termina  dizendo que queria poder passar uma dor para ocultar o colírio , o brilho do olhar (bela dona)

E perceber a dor que outros traíram. simulando com seus risos desenhados (sorrisos ocultados pela manga da camisa ).



Julio Cortazar .

As palavras que usamos no nosso dia a dia não são mais que máscaras insuficientes.
(Historias de cronopios e de famas).

Toda diversão é como uma conciencia de máscara que acaba por animar-se e suplanta o rostro real. 

Dispongo de una serie de respuestas: para los días de sol, para las noches de tormenta... Una surtida colección de máscaras y detrás, creo, un agujero negro..

—Oh, las máscaras. Uno tiende siempre a pensar en el rostro que esconden, pero en realidad lo que cuenta es la máscara, que sea ésa y no otra. Dime qué máscara usas y te diré qué cara tienes. 

-Otra cosa más inmediata, menos copulable por la palabra, algo libre de tradición para que por fin lo que toda tradición enmascara surja como un alfanje de plutonio a través de un biombo lleno de historias pintadas

(Os prêmios).


Tal vez sea necesario el reposo, tal vez en algún momento el guitarrista azul deja caer el brazo y la boca sexual calla y se ahueca, entra en sí misma como horriblemente se ahueca y entra en sí mismo un guante abandonado en una cama. A esa hora de desapego y de cansancio (porque el reposo es eufemismo de derrota, y el sueño máscara de una nada metida en cada poro de la vida), la imagen apenas antropomórfica, desdeñosamente pintada por Picasso en un cuadro que fue de Apollinaire, figura más que nunca la comedia en su punto de fusión, cuando todo se inmoviliza antes de estallar en el acorde que resolverá la tensión insoportable. 
(Os prêmios).

Celine. 


Celine também se vale da imagem da máscara para descrever uma situação existencial, aqui uma citação do romance de Celine "Viagem ao fim da noite" onde se fala também sombre o tema.
"“É melhor não ficar se iludindo, as pessoas não tem para se dizer só falam das suas próprias dores as delas,  de cada uma, é claro. Cada um por si, a terra por todos. Tentam se livrar da sua dor, em cima do outro,  no momento do amor, mas aí não funciona e por mais que façam guardam- na inteirinha a sua dor, e recomeçam,  tentam mais uma vez dar-lhe um fim “ A senhorita é bonita “, dizem. E a vida recomeça, até a próxima  em que se tentara de novo o pequeno truque. : “ A senhorita é muito bonita”.
E depois desse meio tempo a se  gabarem de ter conseguido se livrar da sua dor, mas todos sabem muito bem não é mesmo que não é verdade de jeito nenhum  e que pura e simplesmente a guardamos inteira para nós.  Como vamos ficando cada vez mais feios e repugnantes  com essa brincadeira, ao envelhecer-nos não podemos sequer disfarçá-la, nossa dor,  nossa falência, e acabamos ficando com o rosto todo tomado por essa careta abominável. Que leva seus vinte anos, seus trinta anos e mais para afinal lhe subir de barriga ao rosto.  É para isso que serve, só para isso, um homem, uma careta, que leda uma vida para fabricar, e ainda assim nem sempre consegue concluí-la de tal forma ela é pesada e complicada a careta que teria de fazer para expressar toda a sua verdadeira alma sem nada perder.".


Brecht

Brecht dedicou um poema a como cansa a postura do mal



A Máscara Do Mal

Em minha parede há uma escultura de madeira japonesa
Máscara de um demônio mau, coberta de esmalte dourado.
Compreensivo observo
As veias dilatadas da fronte, indicando
Como é cansativo ser mal
Bertolt Brecht



A morte e a mascara de James Ensor.

Agora vou colocar duas imagems expressionistas, justamente que tem como tema A Mascara
James Ensor  (1860-1949)
Ensor pinta fantasmas, caricatos. A mascara se converte na expressão do ameaçador e desconhecido . O assombro da câmara de Wouse, A mascara e a morte. parecem criticar a sociedade com esta pintura ao  mostrar-la como algo grotesco. 
A presença da morte e de personagens cegos ajudam a criar um ambiente fantasmagórico.
Aqui citamos ao escritor americano Nathaniel Hawthorne sobre a máscara: “Ningún hombre, por un período considerable de tiempo, puede usar una cara para consigo mismo y otra para la multitud, sin finalmente confundirse respecto a cuál es la verdadera”.



Eugene O´Neill.   

          Jorge Luis Borges diz no prologo da edição argentina de três peças da obra de O'Neill que ele tinha se inquietado pelas máscaras e que as usou de modo que não tinham suspeitado os gregos nem o teatro Nõ.

O grande Deus Brown.

Eugene O´Neill escreve  esta peça de teatro e coloca em cada ator uma máscara com seu próprio rosto, com este recurso duplica de algum modo cada personagem trazendo um lado externo, epidérmico, social e outro próprio.
Os dois lados são reais e os dos representam a mesma pessoa, eles podem se fazer pelo outro se pegam e se colocam sua máscara.
A dupla Brown e Dion representam o americano bem sucedido economicamente e o talento e o submundo.


Os dois personagens femininos Margaret e Cybell (mulher e amante de Dion)  são o responsáveis de simbolizar aquilo que o poder não pode comprar.


A Electra lhe cai bem o luto.



A alegoria da máscara recorrente em  O´Neill ,se faz presente em vários sentidos, por um lado é como uma marca, o fato de pertencer a uma família, os rostos dos atores  e a fachada da mansão familiar tem a rigidez das máscaras: “Algo segredo...como se tivesse uma máscara, uma marca dos Mannon”.
Por outro lado a máscara ocupa o lugar de uma  copia: “Tem-se de imediato a estranha impressão de que em repouso, não é carne viva, senão uma pálida máscara que imita maravilhosamente a vida”...
Mais uma alegoria relacionada com a máscara: “A lua em quarto minguante projeta a luz sobre a casa, lhe dando tonalidades irreais, longínquas, imponentes. A brancura da fachada do templo se assemelha , mais do que nunca, uma incongruente máscara, fixada sobre a sombria mansão de pedra”.
A máscara também com sinônimo de semelhança do real e do representado: “Todos os rostos dos retratos tem a mesma tonalidade de máscaras que a dos personagens vivos do drama”.
Aqui descrevendo o cadáver de Ezra Mannon usa a imagem da máscara como uma imitação distante do verdadeiro: “Seu rosto de máscara é uma surpreendente reprodução do rosto do retrato; mas sombriamente longínquo e austero na morte, como o esculpido rosto de uma estatua”.
Aqui a máscara mais como uma duplicidade que oculta algo pior do que é visível: “Baixo a máscara do seu rosto há profundas rugas”.
Em fim em O´Neill  esta imagem desenvolve vários atributos e significados ampliando o conceito de máscara elevando seus simbolismo e suas possibilidades.


A máscara como sinônimo de hipocrisia.


No Tartufo de Moliere se descreve esta figura dramática como a personificação da falsidade.
Tartufo é um personagem histórico que se- valendo de recursos de sedução consegue tirar proveito e vantagens.
No primeiro ato o autor menciona a máscara para se referir a uma imagem que carrega o simbólico da mentira e do embuste.
“Queres fazer o mesmo honor a máscara que a verdade, igualar o artifício com a sinceridade, confundir a aparência com o real, apreciar o fantasma tanto como a pessoa e a falsa moeda igual que a boa?”
Em uma outra obra , do cinema mudo, o Mornau nos atualiza esta imagem da máscara como símbolo da falsidade.
No começo do filme do Mornau  “Tartufo”,de 1925,  o diretor coloca em cena a ideia da máscara associada com a hipocrisia, conceito que de algum modo define toda a perspectiva da obra.

A máscara no imaginário infantil .
Ben Shahn ( 1898 – 1969)





















A máscara no teatro Nõ

Em Oriente existe a tradição da máscara em varias direções, ligada a ritos, cerimonias, festas e ao teatro, as máscaras no teatro Nõ podem representar a mulher jovem, o homem velho, o demônio ...são sempre atores masculinos, normalmente só o personagem principal a usa. O sentido seria passar uma sensação de misterio e de neutralidade, Dominique Buisson acredita que seria possivel comprender o proprio espirito dos japonesses no seus rostos.
Duas curiosidades em determinada peça o ator só coloca a máscara no palco e frente a um espelho aguarda incorporar a personagem
A máscara da mulher sozinha é a mais carregada de significações:pode simbolizar a leveza , a sedução, a paixão ou o sofrimento.




Para quem queira se aprofundar no tema recomendamos a leitura de este artigo publicado no Blog
Aqui um filme poético onde se introduz a imagem dessa máscara
https://youtu.be/SnbYnGhvnNA


Joseph Conrad .


O autor, no livro "O coração das trevas" (Heart of Darkness),  ambientada na Africa de fins do século XIX utiliza a imagem da máscara quando se refere à paisagem de floresta fechada que o protagonista narrador atravessa: O clima do conto, ameaçador o tempo todo, inspirou o filme Apocalypse Now de Francis Ford Coppola, Aqui a frase:  "a floresta permanecia inamovível, como uma máscara pesada, Como a porta fechada de uma prisão".

No conto  The Rove ,"Com a corda no pescoço", a máscara aparece de novo, agora como imagem de algo que oculta outra realidade. Conrand descreve o mar como uma força brutal por trás de uma aparente calma: “Uma ligeira brisa bastava para arrancar do mar sua máscara serena”.

Edgar Bayley.

Aqui temos uma imagem linda : Uma máscara de madeira que anuncia um olhar profundo.

ES INFINITA ESTA RIQUEZA ABANDONADA
Edgar Bayley
Esta mano no es la mano ni la piel de tu alegría
al fondo de las calles encuentras siempre otro cielo
tras el cielo hay siempre otra hierba playas distintas
nunca terminará es infinita esta riqueza abandonada
nunca supongas que la espuma del alba se ha extinguido
después del rostro hay otro rostro
tras la marcha de tu amante hay otra marcha
tras el canto un nuevo roce se prolonga
y las madrugadas esconden abecedarios inauditos islas remotas
siempre será así
algunas veces tu sueño cree haberlo dicho todo
pero otro sueño se levanta y no es lo mismo
entonces tú vuelves a las manos al corazón de todos de cualquiera
no eres el mismo no son los mismos
otros saben la palabra tú la ignoras
otros saben olvidar los hechos innecesarios
y levantan su pulgar han olvidado
tú has de volver no importa tu fracaso
nunca terminará es infinita esta riqueza abandonada
y cada gesto cada forma de amor o de reproche
entre las últimas risas el dolor y los comienzos
encontrará el agrio viento y las estrellas vencidas
una máscara de abedul presagia la visión
has querido ver
en el fondo del día
lo has conseguido algunas veces
el río llega a los dioses
sube murmullos lejanos a la claridad del sol
amenazas
resplandor en frío
no esperas nada
sino la ruta del sol y de la pena
nunca terminará es infinita esta riqueza abandonada.