quarta-feira, 17 de junho de 2015

O encarregado da antena.


O encarregado da antena.

Ao sul do Rio Tintilaque perto do vale do açude vivia, não há muito tempo, um homem que por razões fortuitas se tornou importante na região (anos mais tarde, os arquivos policiais lembrariam com algum esmero detalhes da tragédia de cores burlescos quando o Seu Bráulio , o encarregado, esteve aos cuidados da antena).
Resulta que perto do vale do açude, numa pequena vila perdida nos cafundós do Judas, conhecida com o irônico nome de Vila da Fortuna, existia uma antena, de grandes proporções, que centralizava as transmissões de televisão, rádio, as ligações telefônicas e também as conexões da internet. Nesta antena existia uma luz vermelha, para os forasteiros a luz vermelha na ponta da antena parecia um verdadeiro farol, um sinal para todos que se aproximavam da aldeia, as pessoas comentavam para se situar: “a lanchonete fica um pouco atrás da antena”, ou “a casa de Seu Antonio fica a dois quarteirões do lado direito do farol vermelho”, ou “a farmácia de Dona Eunice fica bem justo na frente da aquela luz da antena”...
A antena, tinha duas partes, primeiro uma base e depois um miolo, o alicerce era formado por um imenso e solido apoio de metal que media aproximadamente uns 30 metros de altura e uns 5 metros de diâmetro, este sustentava o que podemos chamar como a própria antena: um objeto metálico formado por alguns cilindros deitados de forma gradativa que representavam o cérebro do monumento; incrustado lá no alto como um rubi brilhava um enorme farol com vidro vermelho que sinalizava a existência da imensa coluna para o transito aéreo, o gigante obelisco terminava em três ferros em ponta cruzados com função de pára-raios.
Do lado do colosso metálico tinha uma pequena oficina onde funcionava o escritório desde onde a antena era comandada, sentado na sua grande cadeira, na Sede da Administração, cercado por botões, computadores e monitores, estava um senhor que aos poucos foi tomando relevância no arraial devido a que seu cargo acabou sendo de grande valia.
Para o imaginário da Vila da Fortuna a antena era uma espécie de ouvido e de olho gigante.  Desde seu centro de poder, o encarregado tinha acesso a todas as comunicações e suspeitavam que tivesse como escutar as conversas, como se imiscuir nas intimidades e nas intrigas de todos os habitantes da região.
Na realidade, o emprego era menor, ele apenas era o encarregado da antena, mais seu poder era real, a possibilidade de poder grampear telefones ou espionar imagens fazia dele uma espécie de todo poderoso capaz de conhecer os segredos da população.
Existe leis universais que seriam aconselháveis lembrar nessas horas: como a que diz que muito poder na mão de um imprudente pode fazer perder o senso de retidão e ainda, como o proibido instiga ao homem no desejo, na curiosidade; o tabu ao invés de provocar a aceitação do oculto, acende a chama; equívocos de nosso comportamento, fazer o que?
Seu Bráulio além do mais era preguiçoso, nem fazia o trabalho pesado, as vezes que a antena sofria algum tipo de problema pelo qual precisava ser endireitada ou se ocorresse algum tipo de irregularidade no ajustamento do seu eixo após uma tormenta ou uma forte ventania, ele recorria a um ajudante, um moleque experto chamado Beto que subia e descia aquelas escadas vertiginosas com a destreza de um gato.

Desde sua cabine orientava ao garoto com sinais e com gritos até ele acertar o lugar adequado onde a antena pegava melhor, “Seu Bráulio, berrava o rapaz - lá do alto- assim ficou boa?”. “Beto, mexe mais para a esquerda- respondia seu Bráulio acompanhando sua indicação com gestos expressivos-“.
Depois da ultima chuva a internet tinha ficado um horror e seu Bráulio era alvo de todo tipo de criticas e reclamos na Vila. As pessoas o paravam na rua e o interpelavam perguntando pelo sinal: “seu Bráulio o sinal caiu?” Ele, com o queixo empinado, respondia com evasivas e passava entre os habitantes do Vale; segurando a suas calças sempre caindo e se dando uma importância desmedida- temos que comentar que este tipo de atitudes começou a irritar a população e aos poucos sua pose arrogante foi gerando uma antipatia irreversível,ele era um pouco obeso, falastrão e seu cargo o tinha transformado em um ser soberbo e intriguista-.
Uma noite Seu Bráulio tinha bebido demais, estava voltando para casa e cruzou com uma vizinha bem em frente ao corredor da alameda, e falou: ”deixa ele, o seu amor é uma armadilha”, a nossa vizinha, Maria de Lurdes ficou surpresa com a insinuação, chegou a casa e comentou com seu namorado pela internet o que tinha sucedido, o episódio foi esquecido mais ficou registrado na sua memória a possibilidade de que o Seu Bráulio estivesse bisbilhotando suas conversas;  a partir de então as pessoas começaram a  perceber um dos seus piores defeitos: o encarregado da antena gostava de imiscuir na vida dos habitantes da Vila.
Em outra ocasião o seu Hermenegildo saiu a beber na taberna do Vale e escutou a Seu Bráulio falando com o Seu Agustín (dono da quitanda) sobre a cor da roupa intima de uma mulher de nome Etelvina, como ele conhecia uma Etelvina, aguçou a orelha e percebeu que o encarregado da antena estava descrevendo uma cena que ele tinha descoberto grampeando a caixa de mensagens de um telefone celular.
Semanas depois outro habitante do Vale, Seu Sebastião se interou que sua mulher tinha sido citada em uma conversa sobre troca de casais em um motel ocorrida numa cidade próxima depois que seu Bráulio comentara o caso na saída da igreja com Dona Erenilce.
Outro ponto alto foi quando o próprio padre Claudio, responsável pela paróquia, descobre um grampo no seu telefone e suspeita que sua relação amorosa como a filha de Dona Miranda, durante anos mantida em sigilo, se instala na boca do povo todo do Vale.
O boato de que a intimidade estava sendo exposta em publico criou um monstro gigante que descia e subia pelas ruas da Vila da Fortuna similar ao zumbido de milhões de abelhas tomando conta do imaginário popular, a Vila parecia assim vigiada por uma espécie de juiz todo poderoso e severo; o pavor entre as mulheres que costumavam namorar no telefone, enviar fotos ou mensagens atrevidas a seus parceiros e a iminência de um escândalo de grandes proporções criou um tremor surdo entre os habitantes da Vila que concentrou todas as atenções e provocou a desistência de toda e qualquer insinuação de tom mais sensual em qualquer tipo de chamado. 
O clima de tensão na Vila chegou a tal ponto que o padre Claudio, tomou a iniciativa: decidiu reunir o pessoal envolvido e avaliar quais seriam as medidas necessárias que se poderia tomar para colocar um ponto final em toda esta desfaçatez.

Na reunião tinham alguns vizinhos importantes, um advogado, um estudioso de filosofia, algum dos implicados e até o chefe da delegacia do Vale da Fortuna foi convidado, o padre Claudio abriu a reunião comentando os últimos fatos que tinham acontecido e que já eram de publico conhecimento, fez um chamado ao povo da Vila da Fortuna lembrou o clima de boa disposição e de amizade que reinava no lugar no passado e passou a palavra para o professor, assim como era chamado Seu Augusto Bortilho, graduado em filosofia, este citou uma frase de Sócrates para começar sua locução “Amicus Plato, sed magi amiga vertias” (Platão é meu amigo, maior é minha amiga verdade) como querendo dizer que fora a amizade entre os vizinhos existia um compromisso maior com a veracidade (foi aplaudido), tomou a palavra o jurista Seu Tulio das Casas, ele se recostou na poltrona e também citou umas palavras em latim para abrir a sua intervenção: “nos temos que remeter aos argumentum ad rem” (argumento da coisa, dos fatos) chamado o povo a tentar se remeter aos casos concretos e não aos falatórios ; o pessoal mais jovem zombou do tom protocolar e rebuscado das intervenções dos ilustres vizinhos da Vila até que um jovem estudante de direito comentou possíveis encaminhamentos em um tom prático:  “exatamente precisamos fatos se queremos processar ele ou realizar uma acusação formal, temos que provar sua culpabilidade, temos que detalhar alguma ocorrência com data, hora, lugar, narrar o que aconteceu realmente" (as pessoas aplaudiram a sua sensatez). Passaram vários oradores e com decorrer das conversas as pessoas perceberam o caráter frágil das incriminações, ficaram um pouco receosas de iniciar uma denúncia contra Seu Bráulio conhecendo os tempos demorados da lei e até duvidando de poder demonstrar na justiça a veracidade das acusações. A professora Etelvina de Sarte que tinha ficado observando aos oradores, fazendo uso da  sapiência e astucia feminina, comentou: “penso que seria melhor ir todos juntos na porta do seu gabinete e encará-lo pessoalmente para que  perceba de perto nosso aborrecimento”, todos aplaudiram a posição da nossa amiga e marcaram para a segunda feira seguinte às 20 horas na porta da igreja para caminhar juntos até o escritório do encarregado.
O fim de semana anterior ao dia marcado para o encontro foi uma trégua para todos porque na Vila estavam acontecendo às tradicionais festas juninas, a população estava toda em volta da praça central, os sinos rajados da igreja batiam às 18 horas e as barracas coloridas faziam esquecer por momentos o clima de apreensão que se vivia entre a população, sobretudo nas mulheres - lembrando sempre que o obsceno cora o rosto feminino e enche o peito masculino -.
A festa era linda, as “maças do amor” de um vermelho crocante davam água na boca, tinha a barraca do quebra-queixo, os cânticos dos feirantes “olha a pamonha, quentinha!!!”, amendoim torradinho, torradinho” ;  o forró corria solto, os trios tocando Luiz Gonzaga e Jakson do pandeiro no palco principal; o cheiro das carnes asadas, o bolo de aipim e a fumaça das fogueiras tingiam o cenário, as barracas de jogos :  tinha a pescaria, o jogo de derrubar as latas enfileiradas, o tiro ao alvo...se bebia muita cerveja e na barraca do quentão tinha encostado o “corno-melancólico”, Paulinho, um velho alcoólatra que tinha sofrido o abandono da sua parceira há anos mais continuava falando dela depois de alguns drink’s;  as danças de quadrilha, as roupas de caipira , a beleza das meninas vestidas com tecidos de chita colorida e a vida festiva se realizando naquela praça do interior mantiveram um clima de leveza nas horas que antecederam o dia fatídico . 
Para ser ter uma idéia do clima de apreensão, as mulheres se sentiam como se estivessem sendo atravessadas por raios-X moralistas que expunham publicamente seus segredos mais audaciosos, a professora Ana Claudia era uma delas, tinha se apaixonado por um rapaz que morava fora da cidade e costumava dedicar a ele frases amorosas e até troca de fotos, algumas um pouco vergonhosas de serem reveladas aos quatro ventos, a queda das relações mais comprometedoras tinham trazido até um esfriamento na sua relação porque é claro que se criou uma distancia prudente no diálogo intimo do casal depois dos últimos acontecimentos.
A professora até tinha confessado com tristeza os fatos que aconteciam na sua relação com um amigo poeta e cantor que fazia às vezes de menestrel popular e alegrava com seu violão as tardes na Vila, ela no meio dos carrinhos de pipoca, dos tabuleiros de tapiocas e outras iguarias encontrou com ele, e Michael, que assim se chamava o artista, comentou que tinha feito uma música inspirado no que estava acontecendo na relação amorosa dela, curiosa que estava, Ana Claudia, perguntou se poderia escutar a composição, ele tomou seu violão e diz:  a música se chama “Disfarça”:

“Longe de ti e sem teus beijos,
Minha vida pouco vale,
Declina à tarde e no seu ocaso
Meu mundo esta junto a ti.
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Quero te amar mais não consigo
Ele não deixa nos encontrar
Por isso não me canso de repetir
Disfarça meu amor temos que esperar.

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Oh besouro preto, besouro de ouro
Sei que ele nos quer olhar
Oh besouro preto, besouro de ouro
Sei que ainda assim podemos nos encontrar
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Olha em frente sem medos
Vamos sair de mãos dadas
Não me importa que nos olhem
Nada me importa mais do que nós dois”.


                                                                                                                                            
Na própria segunda feira marcada os muros do gabinete tinham amanhecido pintados com a inscrição: “Aqui mora um traidor”, uma criança na escola tinha incorporado o clima que se vivia na Vila para realizar sua redação na aula de português, reproduzimos aqui um pouco da eloquente narração: “olhava pela janela e vi as pessoas tristes, tudo parecia diferente, que acontece? perguntei-me e rapidamente chegou até a mim à resposta, não sei por que, mas minha cidade é pequena demais para que as coisas fiquem ocultas, tudo se sabe, espero que ele se arrependa de ter aberto a boca..”
Chegou o dia esperado, aos poucos os vizinhos começaram a chegar uns a pé outros a cavalo, era uma noite fria e obscura de junho, a lua cheia se escondia detrás de nuvens chuvosas e os cachorros latiam e uivavam criando um cenário carregado.
Alguns trouxeram tochas acessas para iluminar a caminhada,  o fogo serviu para reforçar um clima ameaçador, estava lá Dona Erenilce citada como testemunha em relação ao caso da troca de casais, Seu Hermenegildo, Etelvina, a Maria de Lurdes que tinha escutado aquela indireta e o seu namorado que queria se vingar de qualquer jeito do encarregado, ele apenas repetia sem cessar: “Ele tem que aprender a não meter seu nariz onde não corresponde”.
O gabinete de Seu Bráulio foi cercado, as pessoas em circulo se acomodaram para olhar em direção a porta de entrada e alguém entre os convocados gritou: “CHEGA!”, aquela palavra parecia o detonador de uma tormenta de pedras porque a partir disso a multidão enfurecida começou a produzir todo tipo de gestos e a pronunciar todo tipo de palavrões que fizeram incendiar a noite na Vila Fortuna como numa chuva de estrelas.
Um silencio sepulcral se fez quando a porta do gabinete se abriu, o barulho do enferrujado como um grito seco criou um expectativa eterna, o ranger da porta deixou ver uma silhueta recortada por una luz em contraste; até que finalmente a figura de Seu Bráulio se definiu na frente da multidão, se ajeitando as calças levantou a cabeça, deixou ver seu rostro seboso , seu olhar debochado,  uma tose ronca para provocar respeito foi o que antecedeu a sua voz firme: “que querem aqui?-perguntou- não sabem de nada, não tem provas de nada e ainda querem me ameaçar e insultar como a um fora- da- lei, sou uma pessoa honesta e, digo mais,  se algum de vocês ousa me acusar de algo quero ver as provas , quero saber se existe alguma pessoa de bem , uma pessoa que se dê ao respeito em toda esta Vila e que possa falar comigo cara a cara, respondam!!!!”.
Outra pausa, e um murmúrio entre os manifestantes, até que o namorado da primeira vitima deu um passo na frente, as pessoas se afastaram e ele encarou ao Seu Bráulio olhando no olho, fez uma interrupção e respondeu: “você falou com minha namorada pra ela me deixar como se eu fosse uma armadilha”, isso é verdade?
O encarregado da antena levantou a voz e disse, com seu jeito loquaz: “Isso é verdade, você é uma armadilha, que quer, que fale pra ela que você vale à pena”?
As pessoas que tinham a consciência culposa ficaram desnorteadas com a reposta do Seu Bráulio, pensaram que ele iria recuar, disfarçar ou no máximo pedir perdão por ter tido uma postura de xereta, mas agora, a possibilidade de elas se verem expostas depois da atitude que ele tinha adotado mudava toda a estratégia de ataque contra o falastrão.
O padre foi o primeiro a repensar a ofensiva, a Dona Erenilce achou prudente em condição de mera testemunha não criar uma situação constrangedora para os casais envolvidos no caso da troca no motel e preferiu a discrição.
As pessoas tiveram um momento de incerteza mais apareceu um homem que ninguém conhecia na Vila que encarou o seu Bráulio e falou: “você não me conhece, nem vou comentar o nome da minha namorada para não comprometer sua reputação em público mais a partir de que você fica se metendo a tomar conta das conversas da gente ela não quer saber mais nada de comentar alguma intimidade, tá me ouvindo?”.
O tom utilizado pelo sujeito era ameaçador, o seu Bráulio, olhou pra ele, coçou a cabeça e falou “você é aquele promíscuo que fica namorando até altas horas trocando todo tipo de segredinhos com sua parceira? Ainda não entendeu que ela quer cair fora? Você deve ser aquele que para disfarçar, trocaram os nomes por besouro negro e besouro de ouro , estou certo?” – quando o encarregado tinha pronunciado a palavra namorando usou um tom tão irônico que irritou as pessoas que assistiam a cena mas,  agora quando colocou em público os apelidos do casal - o Seu Bráulio soltou uma gargalhada histérica que caiu na multidão como um verdadeiro insulto.
Foi à gota d’ água, o clima ficou tenso e seu Bráulio olhou ainda com ar desafiante, a professora ficou indignada, tirou seu calçado e soltou o grito ensurdecedor, segundos mais tarde um sapato certeiro voou para a cabeça dele que o acertou em cheio no olho direto, ele deu um passo em falso para trás e caiu, a multidão entendeu que este seria o momento preciso para atacá-lo e avançou com toda uma serie de golpes, chutes e pancadas até deixar ele estendido no chão.
“Vamos fazer o que?” perguntaram alguns. Já sei, respondeu Etelvina (uma das vitimas do encarregado): “vamos pendurar seu corpo na porta da taberna dentro de uma rede e todo o mundo que entrar e sair tem que cuspir nele”. ”Não, respondeu seu Hermenegildo, vamos chutar ele até aquele precipício e jogar ele pra baixo para ele estourar os miolos na queda, vamos parar com isso, diz o padre”, a professora Etelvina falou: “vamos dar choque elétrico nele”; uma vizinha, no entanto, pensou que ele teria que ser obrigado a ficar de joelhos no milho, subir e descer as escadas da igreja sem parar pelo resto da sua vida, mas desistiu de externar sua idéia,”não, não- respondeu Maria de Lurdes- vamos passar mel pelo seu corpo, pendurar-lo na antena e deixá-lo lá  em cima perto do farol até  ser devorado pelas aves de rapina”. Todos responderam ao uníssono: “isso sim, isso mesmo!”.
O castigo tinha sido escolhido, mas ninguém podia imaginar como poderiam elevar o corpo do Seu Bráulio até a ponta da antena sendo que a única via de acesso era uma pequena escada de metal de uns poucos centímetros e o peso morto do corpo dificultaria o acesso.
Penduraram cordas e roldanas, criaram um engenhoso sistema de carga, lambuzaram todo seu corpo com mel e entre todos os homens começaram a elevar o peso, alguns gritavam: “vai Seu Bráulio, que os pássaros não se engasguem com seus ossos”, uns riam e outros soltavam insultos motivados por suas causas pessoais.
O corpo se elevou por cinco metros até que o seu Bráulio acordou e viu seu corpo pendurado nas alturas, amarrado e coberto de uma substância pegajosa que não conseguia identificar, ai gritou: "Tirem-me daqui “...mas o povo nada de desistir do castigo, no intuito de se livrar das cordas e do engomado do mel acabou ficando semi-nu, no seu instinto de sair daquela situação acabou caindo da altura de cinco metros, primeiro sobre uma árvore para depois se chocar contra o chão e perder a consciência, formigas atraídas pelo cheiro do mel em alguns minutos cobriam parte do seu corpo. 
A polícia foi acionada e a noite ajudou a acobertar a multidão que rapidamente se desfez deixando o corpo quase nu no chão, mordido pelos insetos, a metros da antena da Vila.
Seu Bráulio recobrou os sentidos já na delegacia para onde foi levado, algumas horas mais tarde liberado voltou para seu gabinete tomou seus pertences para nunca mais ninguém ter noticias sobre sua existência.
                                                                                                                                           
As pessoas na Vila da Fortuna retornaram suas atividades, os casais se reencontraram. Venceram o pudor? Um manto generoso fez retornar a compostura prévia ao escândalo que reinava na Vila.
Uma manhã de inverno um novo encarregado assumiu o controle da antena na Vila da Fortuna, uma camisa lambuzada de mel e comida pelos insetos foi o que sobrou do último episódio que envolvia Seu Bráulio, duas crianças distraídas brincam na praça central e os sinos da igreja marcam o meio dia de uma quarta feira tíbia. A vida continuava na Vila como se nada.