terça-feira, 16 de junho de 2020

Os diabinhos.


Os Clovis e as curiosas viagens da cultura.

Pesquisando sobre as influencias da música africana na musicalidade de Cuba descobri várias fontes dentro das religiões afro-cubanas. Estas tradições alem de trazer instrumentos, ritmos e cantos influenciaram à cultura com mitos, roupas, cores, poesia e rituais.
O tema é um oceano, entre as religiões de origem africana que existem em Cuba reconheço algumas delas temos: a Santeria, a regla de Palos, o Vodú, o Arará , o Ijesá , os Egbado e o Abakuá.
 Na cultura Abakuá encontrei a figura dos íremes, conhecidos como os “diabinhos” são personagens similares a clowns que entre outras funções animam as cerimônias religiosas.
Nos relata o mestre Ramon Torres Zayas: < Os íremes se fantasiam de um modo especial e são relativamente populares em alguns países de África especialmente em Calabar cidade do  sudeste de Nigéria e sudoeste de Cameron, eles nos chegam especificamente das sociedades ekpe de onde provem a cultura Abakuá.
O íreme Abakuá representa um espírito, um ente que vem a "limpar" peças e membros da entidade, a levar-se "a coisa ruim" e, alem, vem a dar fé de que quanto se faz no ritual é correto. Sua linguagem é gestual, porque no articula palavras, sino que se expressa simbolicamente a través do ifán (una rama vegetal) e o itón (uma bengala), embora haja íremes (poucos) que substituem o itòn por um galo vivo, depende da atividade que corresponda a ele realizar.
Aos cubanos nos chega a través do Calabar, mas íreme os há em Cameron, em sociedades bantú da região do Congo, em fim, não é privativo do Abakuá, são, populares em quase toda África
subsahariana>.
                                                                    


                                                                       -0-0-0-0-0-0-0-



Olhando os íremes percebi que no Brasil existem figuras muito similares no subúrbio carioca durante o carnaval e dentro das tradições da Folia de Reis.
No Rio eles se chamam Clovis e suas fantasias originais alegram o carnaval fazendo parte das festas mais simples que são aquelas que ocorrem sem nenhuma estrutura nos bairros da baixada fluminense. Estas mesmas figuras as encontramos nos ritos da Folia de Reis , grupos também chamados de reisados que saem entre os dias 1 e 6 de janeiro quando as chamadas companhias vão de casa em casa a cantar aos três reis magos. Este ritual é popular na favela Santa Marta no bairro de Botafogo no Rio, no interior de Minas , do Rio e pelo Brasil inteiro.
Pesquisando não encontrei o elo que pudesse narrar a viagem de aqueles íremes para diferentes contextos como são o subúrbio do Rio de Janeiro nem como aqueles personagens ancestrais foram parar numa festividade de origem portuguesa como a Folia de Reis, de todos modos a semelhança nos faz reconhecer que aquelas figuras aparecidas em Calabar , na Africa, faz centos de anos hoje convivem em outros contextos e nos alegram os olhos com seu colorido e sua graça.
Estas figuras alegres e burlescas que permitem múltiplas roupas, máscaras e cores de algum modo representam a exaltação do palhaço, da comedia e da própria vida. Elas nos aproximam um pouco da alegria bucólica das festas populares.