domingo, 28 de dezembro de 2014

Criatividade e imaginação no George Wellls

O viageiro a traves do tempo e o Homem invisível

Viajar no tempo e se tornar invisível são temas que alimentam a imaginação do mundo, temas que, de algum modo, relacionam ao homem com a ruptura e a linearidade da existência.
O próprio autor comenta, “toda sociedade tem que mudar aquela que não muda esta morta”.

O viageiro a traves do tempo

Para a religião e para a política a arte deveria servir interesses não apenas estéticos.
A religião pensa que ela teria que estar inspirada em motivos sagrados e para a política a arte teria que ser necessariamente uma ferramenta para o desenvolvimento ou para a divulgação dos ideais.
Alguns artistas, pelo seu lado defendem uma arte que apenas de conta de valores estéticos embora exista a possibilidade de que a obra tenha também um valor didático.
No caso da narração de Wellls,  ele consegue  realizar uma arte apenas com finalidades estéticas (uma mera aventura fantástica) e ao mesmo tempo constrói uma metáfora de um futuro provável da humanidade fazendo um paralelo com a luta de classes.
O romance lembra ao Jonathan Swift  que já em mediados de 1600 escrevia “As viagens de Gulliver” , uma aventura aparentemente infantil mais que constitui uma das criticas mais amargas que se escreveram contra a sociedade e a condição humana.
George Wells, britânico de nascimento é considerado junto ao Julio Verne um dos precursores do romance de ciência ficção.
Borges falaria que o fantástico em Wells é de caráter científico e nunca sobrenatural e que a diferencia com Julio Verne consiste em que este constrói realidades proféticas e o Wells caminha na ordem de visões de execução impossível.  

O romance
No final do século XIX um cientista convida aos seus amigos para mostrar suas experiências com a “quarta dimensão” (o Tempo)
Conta pra eles como construiu uma máquina com a qual conseguiu viajar até o ano de  802.701,  conhece assim uma sociedade habitada por dois tipos de humanos, os “ Eloi” que vivem na superfície da terra e que aparentemente tem todos o que desejam e os “Morlocks” que vivem nas sombras.
Com esta imagem parece querer nos convidar a refletir sobre as deformações que podem acontecer no desenvolvimento da ordem estabelecida e como a desigualdade pode criar contradições capazes de ameaçar o convívio e a paz social, em outras palavras a polarização social como algo fatal gerado pelo próprio sistema.
Voltando com a historia, a máquina do tempo que o transportava foi roubada pelos Morlocks e o protagonista se vê obrigado a conviver naquele mundo, sem conhecer a língua,, nem os perigos do lugar, consegue sobreviver durante seu convívio até que ajudado por Weena , uma Eloi, da qual se apaixona, encontra num antigo museu (um palácio de porcelana verde)   ferramentas para encontrar e recuperar sua máquina do tempo , vencer aos  Morlocks e retornar sua viagem.
Consegui reconquistar a nave e no final viaja avançando no tempo milhões de anos, chega à outra época e vê como o sol se detém sobre o céu num crepúsculo eterno e como criaturas gigantes ameaçam sua existência.
Volta para a sua era e narra todas esta historia com detalhes para seus amigos... apenas duas flores brancas deixadas por Weena no seu bolso e alguns ferimentos é o que resta , como prova fática, da sua experiência no alem.

No cinema

O romance inspirou vários filmes ao longo da historia do cinema, podemos destacar a de George Pat em 1960 e a de um dos descendentes do autor, Simon Wells no ano de 2002.

Reflexão final
A ideia de viajar no tempo é algo que fascina a imaginação do homem, a possibilidade de se locomover pelo futuro e assim saber o que vai acontecer é algo que de algum modo nos traz uma espécie de domínio do percurso, do desconhecido, do conhecimento do sentido do que há de vir.
A narração veemente do protagonista narrando a viagem cria um contraponto interessante com o olhar acético dos seus amigos que, no contexto. representam o olhar do mundo científico da época (psicólogo, médico, etc).
Recomendo este livro para iniciar as pessoas no fascínio pela literatura já que nesta narração encontramos o clima de aventura propicio para encantar a fantasia prematura, própria do mundo juvenil.
Este foi o primeiro livro que o Borges leu.
O lado profético do conto é algo pessimista e as imagens parecem sair de alucinações ou pesadelos, Wells entre muitas coisas, com sua obra, nos mostra seu talento e a genialidade da sua imaginação
 
O homem invisível

O homem invisível (The Invisible Man no original- 1897), a ideia de se tornar invisível transforma um homem simples que procurava um determinado objetivo cientifico em outro homem que ao descobrir as vantagens do seu estado (poder se esconder e matar sem ser percebido ) se propõe dominar o mundo.
O livro inspirou vários filmes, um dos mais famosos é de 1933 e pela sua fidelidade e beleza da sua realização acabou se transformando em um clássico do cinema de terror e ciência ficção.
Borges fala que em Wells o patético não é menos importante que a fábula.

A trama

 O protagonista, um cientista de nome Griffin,entediado da sua vida de professor decide se dedicar a investigar a possibilidade de tornar as pessoas ocultas aos olhos, começa suas experiências aplicando um liquido singular primeiro em um pano, depois com um gato (mais seus olhos  ainda ficaram evidentes)  até  aperfeiçoar seu método  e conseguir tornar ao homem invisível ... Decide aplicar em si mesmo a invenção e o contato com esta experiência mudaria seu percurso para sempre.
Fica invisível e em esse estado chega assim, fantasiado com vendas, perucas e chapéus que escondam seu estado para se refugiar numa pacata cidade onde finalmente é descoberto.
Sua personalidade fria e mal-humorada se desdobra, com sua ambição  em facetas assassinas até que finalmente é pego no seu percurso de roubos e maldades colocando um fim a seu comportamento inconsequente..

O texto
o estilo


Existe um lado bem humorado no autor em relação a como organizar a obra, cada capítulo trata de um tema determinado (com duração de algumas páginas)  e de repente inclui um capitulo diminuto onde narra apenas o espanto de uma pessoa ao se sentir ameaçado pelo homem invisível só  para quebrar o ritmo do relato só para mostrar um movimento lúdico 
Em relação as imagens, O autor com um texto delicioso nos conta as peripécias de Griffin (o protagonista) para sobreviver , se vestir, comer...era inverno e seu corpo era invisível mais sua roupa não.
Lutas e perseguições alimentam o ritmo narrativo , uma leitura maravilhosa para que gosta de literatura de qualidade aliada a uma temática ‘B’.



quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Pais e Filhos

Pais e filhos
De Ivan Turguériev
Cada obra literária tem uma idéia que a sustenta, um pensamento que gera a possibilidade dessa obra ser criada, cada obra parte de um ponto que serve como inspiração para que esta se desenvolva, no caso de “Pais e filhos” a semente ou  a ideia matriz é apresentar o  niilismo.
Na realidade, mais do que o próprio niilismo cabe ao Turguériev apresentar o confronto ideológico que estava acontecendo no final do século XIX na Rússia....
Claro que dentro de um contexto de amores, descrições de época, personagens, conflitos familiares... mais aqui estamos falando de dois jovens que chegam a sua cidade natal depois de terem estudado fora e que defendem as idéias do niilismo...esta is idéias são o cerne do enredo e o motivo do  confronto com as pessoas da aldeia (mujiques,aristocráticos,burgueses..) não foi simples a convivência dos dois mundos, teve um caso que inclusive  terminou em um duelo com armas de fogo .
Diálogos 
Falamos no Blog no post dedicado aos “Possessos”  de Fiodor Dostoievski que o niilismo que estamos falando na Rússia de final do século XIX  não é o que entendemos hoje pelo conceito, hoje o julgamento alude a alguém que não acredita em nada ou que esta desenganado de tudo mais no livro significa muitos mais do que isso, significa que para os niilistas não há religião, nem valores estéticos ou morais relevantes, o importante , ao contrario, seria o avanço científico, a valorização a tudo o que se possa comprovar em contraposição as superstições ao pensamento  sumiço  e ao atraso da época... “Um niilista é um homem que não se dobrega ante nenhuma autoridade, que não da credito a nenhum principio de ante mão” 
O personagem Eugênio Bazárov rechaça, por exemplo,  um amuleto da sua mãe e o serviço religioso na hora da sua morte...
Esta nova geração que depois vai ser chamada de raznochínets, será a semente de da intelligentsia russa , conhecida pela sua atitude crítica frente ao intelectualismo da burguesia..
A escrita.
O texto é de uma beleza artística que vale a pena ressaltar....diz no epilogo.”Passaram-se seis meses. Era um inverno branco com a calma clara dos seus frios violentos, a neve ambulante que rangia sob os pés, a neve a cobris as árvores nuas, um céu de azul pálido, a fumaça sobre as chaminés das casas, as nuvens de vapor saindo das portas abertas, as faces vermelhas das pessoas e trotes dos cavalos atrelados e transidos de frio. “

A critica 
O autor também se coloca um pouco mostrando as contradições desta teoria ou movimento... Por momentos os descrevi aos niilistas como presunçosos, revoltados, chega a tratá-los como palhaços aos olhos das pessoas mais simples (os mujiques) ,no final o autor afirma o amor ,os sentimentos (quase sempre menosprezados pelo protagonista) e fala de paz e vida eterna.
No meu entender o fato de desprezar a Arte como algo que não entra em condição de ser mensurável mostra , no minimo uma falta de contato com a vida e  a sensibilidade.

O enredo

Dos jovens  cientistas , Arcadio e Bazárov (o primeiro menor e discípulo do segundo) voltam a sua cidade natal com idéias niilistas, e são hospedados na casa paterna do Arcadio...o pai dele, Nicolau Pietróvich (casado com a jovem Fiênitchka) os recebe .
O nome de Bazárov na realidade era de Eugênio Vassilievitch o que gera certa dificuldade para situar-se na narração.
O Arcadio tinha um tio chamado de Páviel Pietróvich que representa as forças tradicionais russas e que se enfrenta  constantemente com Bazárov...se inclina a pensar que o nihilismo vem do “Nada”, de aquele que nada respeita...e Arcadio fala de aquele que todo examina do ponto de vista crítico.
Este acusa ao Páivel de ser um velho romântico, Bazárov a pesar do seu  ecepticismo em  relação ao amor romântico acaba se apaixonando de Ana Serguêieva e  o Arcâdio , seu amigo,discípulo, da sua irmã Câtia.
No final cenas de tristeza pela morte de Bazárov e valorização final do amor dos pais por ele., tema que dá título a este belo romance.




sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Cortazar.....Bestiario

Bestiario (1951)

 Existem leituras indispensáveis, leituras necessárias, leituras nas quais a gente volta depois de muito tempo e sempre consegue olhar aquilo como se fosse algo novo.
Bestiário é o primeiro livro de contos de Cortazar nele se encontram os textos


1.                  Casa tomada
2.                  Carta a una señorita en París
3.                  Lejana
4.                  Ómnibus
5.                  Cefalea
6.                  Circe
7.                  Las puertas del cielo
8.                  Bestiario

O Fantástico
Estamos falando de um Cortázar  influenciado pelo psicanálise e o surrealismo , estamos falando de uma época em que a idéia de ruptura e de fazer uma arte mais experimental era algo necessário, tínhamos exemplos na música com Charlie Parker ou Piazzolla , no cinema com Luis Buñuel , na pintura, na literatura incorporando  elementos imaginativos dentro da narração linear  ...  A idéia de Cortázar para construir estas narrações se produz quando a partir de um mundo real, admissível  ele faz aparecer um outro lado que podemos chamar de mundo inverossímil .. O próprio autor nas suas reflexões coloca  ...Se pensamos em Bestiário, parece lícito propor num primeiro momento a (re)presentação de uma Realidade na qual termina,  serve de parâmetro ou anverso é “outra realidade” possível, insinuada e latente: “mais secreta e menos comunicável”.
 Cortázar esta expondo a convivência de duas ordens diferentes, distintas mais que estão num mesmo plano - paralelo , superposto ou com zonas de coexistência.
Não se trata de algo fantástico, tipo pessoas com poderes sobrenaturais,  animais extraordinários, ou  acontecimentos similares aos que ocorrem ao longo das páginas do conto das mil e uma noites por exemplo...estamos falando de uma narração onde a realidade é atravessada por um fato que nos comunica com algo inaceitável mais que neste novo contexto nos cria uma dualidade que acolhemos. Similar aos fatos  que encontramos no Edgar Allan Poe, no  seriado “acredite se quiser” ou no conto Don Casmurro do bruxo de Laranjeiras Don Machado de Assis.....

Casa Tomada
O conto “Casa tomada” foi publicado pela primeira vez, em 1946, na revista “Los anales de Buenos Aires”, dirigida por Jorge L. Borges. No “Prólogo” ao volumem de contos dedicados ao Cortázar da coleção “Biblioteca pessoal”,  Borges narra o encontro com o  jovem escritor e publica um pequeno comentário sobre o conto e sobre o volumem todo: “O tema de aquele conto é a ocupação gradual de uma casa por uma invisível presencia. Em ulteriores momentos Julio Cortázar  retoma de modo más indireto e por conseqüência mais eficaz este tema” (Borges: 1985).
Metáforas
Cortazar abre a possibilidade, respondendo a um jornalista, sobre a possível interpretação de que as presenças que invadem a casa pudessem ser entendidas como forças imaginariam representativas de forças repressoras políticas na Argentina.
O enredo
A historia do conto “Casa Tomada” é a de uma casal de irmãos com uma vida pacata, compartilhando seu tempo entre o ócio e o dia a dia dos fazeres  domésticos. Uma noite barulhos estranhos  nos fundos da casa os fazem fugir para a parte dianteira.Tentam retomar suas costumes, até serem surpresos por um novo alerta que acaba os expulsando pra rua. O argumento de “Casa tomada” coloca ao leitor na situação de perplexidade entre estes dois mundos, um realista e um outro lado insinuado e estranho que permeia o mundo do autor.
Carta a una señorita en Paris
Em “Carta a uma garota em Paris”, o elemento estranho se dá quando um dos protagonistas narra com naturalidade o fato de que ele vomita coelhinhos.
Lejana
No terceiro conto, “Longínqua” , uma mulher imagina ou sonha com uma mendiga em Budapest, se encontram e se fundem e se separam como se fossem a mesma.
“Le pareció que dulcemente una de las dos lloraba. Debía ser ella porque sintió mojadaslas mejillas, y el pómulo mismo doliéndole como si tuviera allí un golpe. También elcuello, y de pronto los hombros, agobiados por fatigas incontables. Al abrir los ojos (talvez gritaba ya) vio que se habían separado. Ahora sí gritó. De frío, porque la nieve leestaba entrando por los zapatos rotos, porque yéndose camino de la plaza iba AlinaReyes lindísima en su sastre gris, el pelo un poco suelto contra el viento, sin dar vueltala cara y yéndose”.
No quarto conto, “Ônibus” apenas um clima de olhares e de pressentimentos.... o constrangimento gratuito que sofre um casal durante uma viajem cotidiana num “auto – bus” serve como ambiente e pretexto para criar uma narração onde a incompreensão se instala, onde o mecanismo real/ outro real se faz presente.

No quinto conto “Cefalea”
Em “Cefaléia” (sexto conto), “Dor de Cabeça”, a vida dos personagens – inclusive a do narrador - está regida pela cria de mancuspias (animais estranhos). Nesse contexto em que se manifesta novamente una força estranha governada por leis desconhecidas que atormenta aos protagonistas com fortes dores no crânio.
No sexto conto, “Circe” acontece algo diferente, este é o único conto sem essa dualidade fantástica mais onde temos uma dualidade relacionada com uma suspeita....o protagonista desconfia que a sua noiva quer envenenar ele e se cria todo um jogo de intrigas.violência surda e ameaças a partir do convite para experimentar bombons...
Circe era na mitologia grega um Deusa feiticeira O conto começa com uma citação do poeta inglês Dante Rossetti onde se alude a uma situação de envenenamento.
Nas “Portas do céu” Cortazar descreve o ambiente do tango, a vida popular de Buenos Aires e entre a sedução, a fumaça e a perda de sua mulher amada o protagonista a vê aparecer como se abrisse a porta do céu para ela voltar por  alguns instantes.
Em “Bestiario”,  conto que dá título ao livro todo, os habitantes da casa de Funes vivem pendentes da presença absurda de um tigre que rege cada um dos movimentos da casa.
O perigo latente se compartilha com o cotidiano de crianças brincando de estudar as formigas e outros insetos.
Final
O próprio autor confessa que os contos incluídos no livro  Bestiario foram autoterapias ...mais o que chama a atenção fora a motivação pessoal de colocar pra fora suas obsessões é como ele cria um tipo de narrativa onde temos um final sempre aberto,  em quase todos eles faltam poucas linhas e descobrimos que não temos um ponto final que feche a historia...o leitor tem que ler e reler o conto para poder decifrar nas entrelinhas como se reconstrói esse verdadeiro quebra cabeças feito de insinuações e pegadas sempre indiretas....
No total um livro que lança ao Cortázar como um genial narrador e o coloca definitivamente entre os grandes escritores latino-americanos de todos os tempos..recomendo estes contos....







quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Os possesos

Os possessos

Dostoievski escreve esta obra no final do século XIX , a obra se conhece também pelo nome de “os demônios” ou “os endemoniados” ...comento que a idéia de “os demônios” aqui não se refere ao diabo em sim , pensemos que pode ser interpretada como a representação  das forças destrutivas do mundo ocidental na Rússia.
O germe da historia foi um crime que se produziu em Moscou em 1869 e que causou uma forte impressão no autor, resulta que Serguei Nechávey, revolucionário, anarquista e niilista, foi o responsável do assassinato de Iván Ivanov, estudante e companheiro de célula revolucionaria, á que ambos pertenciam, por suspeitar que este fosse entregá-los.
O romance estabelece uma discussão com estes movimentos revolucionários e também com os niilistas personificados na figura do personagem de Piotr Verjovenski, inspirado no mencionado Necháyev,
Comento também que quando se menciona a palavra niilismo aqui não se poderia entender isto como falta de vontade ou descrença, ao contrario representa o racionalismo
hegeliano , ao mesmo tempo simboliza o que hoje se conhece como globalização e mais especificamente neste livro se associa as forças que propiciam á destruição das raízes ancestrais e da fé.
Em outras palavras, o autor rechaça o clichê das bandeiras francesas que querem banalizar a historia e enterrar ou etiquetar as possíveis possibilidades do homem em um slogan sem sentido, o autor afirma que o povo russo, com sua tradição, na deveria se desfazer nos modismos franceses e no ideal vazio de “igualdade, fraternidade e liberdade”.

O enredo.

Estamos frente a uma obra sinfônica... Uma obra onde aparecem duas historias paralelas e centos de personagens....O romance começa narrando a relação entre Varvara Petrovna Stavróguina (uma matrona endinheirada) e Stepán Trofímovich Verjovenski (um professor cheio de trejeitos afrancesados)....durante toda esta primeira parte temos toda uma descrição detalhada da vida na Rússia protagonizada por esta dupla até que aparecem na cena Nikolái Stavroguin (uma figura carismática , uma espécie de demônio personificado) y Piotr Verjovenski (um fanático deslumbrado por Stavroguin),
Estes dirigem uma célula de ativistas políticos que cometem atos terroristas para desestabilizar e tomar o poder na Russia....um dos membros se desentende com o líder e decidem matá-lo....Aqui termina a narrativa linear do romance e com esta morte o enredo se fecha.
Surge um epílogo, muda o narrador, começa-se a falar de algo que faz parte do passado.... No final do romance Stavroguin (o líder) visita a Tihon (uma espécie de sacerdote salomônico) e com ele tem uma longa confissão de onde surge uma cena aterrorizadora da qual vamos tratar mais na frente.
A trama inclui outros dois personagens muito interessantes, Kiríllov, um suicida ideológico que o autor usa para encarnar de modo irônico como o racionalismo extremo pode conduzir ao homem a cometer absurdos.
O personagem declara, por exemplo, que o medo é o que orienta ao homem neste mundo (medo da dor, da morte) e afirma que quem se desfazer desse medo (se matando, no caso) se libera e se transforma em deus.
 Kirilov influenciou fortemente ao Camus na hora de escrever o mito de Sísfido 
O último personagem central na dramaturgia é o Shatov, ele representa o bem. A bondade da alma humana em contraste com Stavroguin. Shatov é aquele que é assassinado suspeito de traição .
Shatov, como falamos, simboliza a verdade, as boas intenções o lugar do bem.

O Romance

 Estamos frente a uma tragédia, o romance transcorre de modo linear até que a morte do Shatov provoca uma débâcle gigantesca.
Na descrição dos ambientes, como sempre nos cenários criados pelo autor, subsolos obscuros onde moram pessoas doentias recriam um clima de obsessão e pesadelo.
Quando a gente se comunica com Dostoievski sabemos que ele com estes climas adentra no interior do ser humano....dentro mesmo da alma humana que como em todas suas obras estão povoadas de doenças e densidade, o clima fechado afirma o ofuscamento e de asfixia total pela que transcorrem o relato.
Como falamos, este drama, ou tragédia psicológica, tem como motivo subjacente a confrontação das idéias ocidentais e racionalistas contra a preservação da identidade russa e dos valores cristãos. Na boca dos personagens demonizados a frase “Proclamaremos a destruição. […] Se encrespará o mar, y se derrubará todo o falso tumulto. “E então pensaremos em  levantar o prédio de pedra.”
Por momentos o romance parece panfletário e Dostoievski aproveita este recurso para mostrar com total atualidade como se sustentam as teorias do poder, o personagem Shigaliov chega a conclusão de que para que um 10% da humanidade possa manter sues privilégios o 90% restante tem que viver numa sorte de escravatura
Da boca de Shatov é que percebemos a um contraponto romântico e idealista que conhece a realidade Russa e que discute a parte política do romance.
Paralelos com a obra de Dostoievski
Existem idéias que permeiam o mundo dos romances do autor, em “Memórias do subsolo” e no romance “O idiota” existem alguns precedentes do discurso de Kirilov.
No caso de “Memórias” um homem que se pensa assim mesmo como ruim e doente (isto parece ser uma escolha) e no caso do Príncipe Myshkin do “Idiota” como um segundo caso de extrema vontade que por excesso de lucidez, como no caso de Kirilov perde de vista a força vital.
As questões existenciais presentes nestes pensamentos elevam a obra de
Dostoievski e o colocam como referencia para autores ligados ao psicanálises e ao fazer filosófico.
Minha impressão
Existe um filme dedicado a este livro dirigido por  Andrzej Wajda , um filme magnífico onde a historia se condensa e de algum modo ganha uma síntese.
O final é diferente e pode ser considerado como o que o diretor achou central no romance de Dostoievski....o personagem de Stepán Trofímovich Verjovenski moribundo reflete sobre uma passagem da Bíblia onde se descreve como os demônios pedem para Jesus saírem do corpo de uma pessoa doente e entrarem no corpo de uns porcos...no filme o personagem de Stepán, morrendo, escuta gritos de porcos lembra da passagem bíblica e diz....”Estamos possessos, (somos os demônios) mais o doente (a Russia) será curada”.
No livro o final tem uma cena maravilhosa onde o mal e o bem se enfrentam....como citamos....  Stavroguin (o líder) visita a Tihon (uma espécie de sacerdote salomônico) e com ele tem uma longa confissão de onde surge uma cena  aterrorizadora.
Esta cena tem uma imagem incrível.....uma cena que deveria ficar na historia e que foi desvalorizada em todas as publicações que li.
Resulta que Stavroguin tentando se afastar da cena do crime aluga um quarto numa cidade próxima e fica hospedado na casa de uma senhora que tinha uma filha de 9 anos.
De repente, se extravia seu canivete e a dona do lugar decide dar uma surra na sua filha,  suspeitando que a filha foi responsável pelo extravio do objeto.
O caso é que a surra foi muito brutal e machucou a garota.... Numa cena seguinte a garota se insinua ao Stavroguin e beija ele...uma garota de 9 anos..... a garota depois disso começou a adoecer por conta da sua falta de alimentação e acaba morrendo, dias antes de morrer ela aparece na frente dele e ameaça com o punho em alto....ele sai da casa...tudo tinha começado com a historia do canivete e terminou com a morte da garota diz a mãe dela na despedida.
Stravroguin se confessa  com o sacerdote e diz que aquela cena da garota ameaçando ele o persegue ....os dois estabelecem um duelo de razões e argumentos e o livro termina nesse dueto apoteótico como um grande finale.
O livro é realmente algo que merece todas nossas honras....pelo conceito artístico de como conduzir os diálogos, os personagens, o ritmo narrativo, as idéias....estamos frente a algo importante.....









domingo, 17 de agosto de 2014

Julio Cortazar fala de Jazz e de Charlie Parker

El perseguidor
Julio Cortazar escreve esta obra magnifica quando , procurando por um personagem para uma nova historia, encontra na figura de Charlie Parker um protagonista ideal para seu conto.
O tema da loucura, da genialidade, da procura pela excelência se desdobram no texto.


O conto El perseguidor começa com duas frases ..uma delas extraída de um trecho da Bíblia..."seja fiel até a morte" ela é tirada do Apocalipses 2:10 e em extenso aparece...
"Não importa os sofrimentos, permanece fiel até a morte e eu te darei a vida"....isto esta do lado de outra frase que fala "me faz uma máscara" do poeta Dylan Thomas....a primeira frase podemos entender-la como mantém tuas convicções que a vida se abrirá pra ti ou só assim poderias encontrar o que realmente estas procurando....a segunda como ..estou no final, preciso ser outro ou fingir ser outro se não morrerei...Cortazar nos abre varias leituras já desde o inicio do conto para encaminhar a nossa interpretação...
O livro se estende por narrações dedicadas a retratar a vida do gênio, a sua incapacidade para lidar com a vida material e a sua procura incessante de algo superior no plano artístico... O relato termina depois de mais de 60 páginas com a morte do Parker e com a frase, agora dita pelo protagonista... "Me faz uma máscara".....frase tirada de um poema onde Dylan Thomas diz "...  Me faz uma máscara...me dá o rostro de um tonto  moldeado para escudar o cérebro brilhante..."
O conto  tem dois temas principais e um epílogo...o primeiro grande assunto é o tema do Tempo onde o autor diferencia o tempo cronológico e o tempo poético, ele coloca exemplos e evidencias para mostrar como existe um tempo do ontem, hoje e amanhã e outro onde entram muitas mais ideais, lembranças, imagens que é o tempo do "outro lado"....O segundo tema é o tema da busca da realização artística, da angustia de se saber aquém de algo que se intui superior ou absoluto . No final da obra aparece um ultimo tema que é o da procura de uma máscara... isto me remete a um outro livro...Scott Fitzgerald no seu livro Crack-Up (publicado em 1945) narra a sua própria desintegração...se trata de um relato-ensaio onde ele faz uma revisão de se mesmo e das causas que provocaram sua queda. A primeira frase diz tudo: "Toda vida é um processo de demolição". Embora possa parecer algo negativo ou algo relacionado com o fracasso, entendo isto como o processo de destruir nossas máscaras...a máscara do Ego, a máscara social...no conto  o Cortazar finaliza o relato colocando na cena ao protagonista na hora da sua morte, pedindo "me faz uma máscara"...como que todas as aparências foram caindo , todas as forças terminaram nessa tentativa de querer alcançar um =Ser verdadeiro= e a vida assim é entendida como um processo de demolição de nossas forças de tentar chegar ao outro lado da margem...a máscara assim é vista como um salva-vidas, como um pedaço de tronco do qual nos aferramos em alta mar...

sábado, 10 de maio de 2014

O Asno de ouro . Apuleio

O Asno de ouro.  Apuleio



O asno de ouro, composta por onze livros, narra  as aventuras de um gentil homem que foi transformado em asno por conta de um equivoco provocado durante uma magia.
Depois desta metamorfoses o nosso jovem protagonista atravessa milhões de situações graciosas e perigosas que são as que alimentam as historias narradas no texto.
Temos que nos situar na época, esta obra foi escrita no seculo II da era crista ....se trata de uma serie de contos em sequencia que vem de uma tradição grega e anunciam o Decamerão de Bocaccio e muitas obras que no estilo das "mil e uma noites" e o Quixote  desenvolveram este tipo de gênero que podemos chamar de “narração para ser contada”.

Os fatos.

                                                   Esta obra, atribuída a Lucio Apuleio, nos coloca numa realidade magica, o protagonista  é transformado em asno e como asno  ele nos narra em primeira pessoa a sua perspectiva dos fatos, o animal passa por miles de situações arriscadas e nesse percurso  testemunha traições , vícios, maldades, lutas e os desejos do mundo real até que no final da obra recupera sua forma original humana e consegui sua libertação.
A metamorfoses do protagonista não impede que ele consiga ter conciencia do que ocorre, este homem-asno  assiste cenas muito especiais, cenas como a de uma mulher que deseja seu enteado e ao se sentir rechaçada. o manda envenenar, o enteado vitima do ódio da mulher despeitada  dorme é tratado como morto é enterrado e depois ressuscita pelos feitiços de um outro mago que descobre o sortilégio.
A historia de um amante que suspeita, pelo olhar do asno, que o animal esta sabendo da sua traição e pede para sua parceira castigar ao asno com trabalhos forçados.
A historia de um outro amante que é descoberto e o marido traído na frente da cena de infidelidade  propõe ao casal, calmamente (mais de forma cínica) que poderiam realizar uma convivência triangular.
Acontece também a historia de ladrões que sequestram uma princesa e a mantem em cativeiro até que é resgatada por um príncipe com ajuda do nosso protagonista. Como recompensa o asno é enviado a um palácio onde é reverenciado até de novo entrar em uma sequencia interminável ,e trocas mal sucedidas de destinos e de donos até no final conseguir vencer o feitiço e recobrar sua identidade humana.
Um dos grandes méritos do livro é apresentar mitos e lendas como o de Cupido (Eros) y e Psique (Alma), que encontramos aqui pela primeira vez na literatura ocidental.
Se trata de um mito tardio da tradição grega, um mito criado e que pela sua beleza e sabidória foi incorporado na mitologia antiga.
A narração surge da boca de uma anciã que tomava conta da princesa quando esta estava prisioneira e para acalmar-la conta esta historia mitológica.

A historia do mito


Neste relato se conta a historia da jovem Psique, que se enamora de Cupido.  Ela uma beleza, ele só aparece como uma presença ( sem poder ser visto) mais, mesmo assim eles se apaixonam e depois das bodas entre ambos Psique convive no palácio de Cupido na sua companhia ainda sem poder ver ele, nem saber que se casou com o Deus do Amor.
Psique vive durante o dia uma vida social e apenas pode compartilhar a presença do seu amado na intimidade da noite, mais ainda assim sem poder olhar pra ele. Numa ocasião, vencida pelas duvidas e pela tentação da suas irmãs, decide  contemplar o corpo de seu marido, ajudada pela luz de uma vela. Quando leva a frente seu plano e vê o rostro de Cupido, Psique fica comocionada pelo encanto; mais nesse momento, umas gotas  de cera caem sobre Cupido e o ferem. Cupido acorda e foge. Vênus, enfurecida com Psique, a somete a uma serie de provas impossíveis de serem cumpridas, entre elas uma na qual Psique tem que descer ao inferno (terra dos mortos), em busca de um pequeno cofre onde tem um poco de beleza de Proserpina. Psique consegue superar as provas, embora volta a ceder a tentação de saciar sua curiosidade e decide abrir o pequeno cofre deixando escapar toda a beleza que tinha dentro guardada. Quando parecia que tudo estava perdido para Psique, Cupido, que continuava apaixonado por ela, decide intervir e com a ajuda de Zeus  Psique é perdoada. As bodas se celebram no Olimpo e Psique se transforma numa deusa.

O que tem por trás.

O relato encerra uma importante simbologia, cheia de conhecimentos.  Psique é a Alma humana e Cupido o Amor . Aceitando esta simbologia, o mito descreve como a alma humana não pode conhecer o amor Amor verdadeiro (imortal) diretamente, sinão que debe passar por uma serie de provas, entre elas a própria descida nas profundezas do mundo. Finalmente a alma consegue superar todas estas provas que tem o caráter de um rito iniciático, e alcança o Amor, convertendo-se em imortal.

O estilo

Falando da escrita, as descrições são realmente de um valor artístico importante, a leitura é graciosa e a prosa é muito agradável. O estilo tem duas faces, durante a maior parte do livro segue a lembrança quase oral ou coloquial da tradição, mais no final o relato muda de estilo e toma um tom mais didático e fala sobre os Deuses Ísis e Osíris.
Aparentemente a inclusão da ultima parte sugere uma discussão que estava presente na época onde se desdobrava a possibilidade de entender os deuses como diferentes possibilidades de um mesmo Ser divino original.

Trechos do livro (selecionados  versão em espanhol) 

O texto tem trechos belísimos como este: "Habiéndome despertado, por un súbito terror, casi a la primera vigilia de la noche, veo que toda la tierra se encuentra completamente llena de la completa claridad de una Luna en completo plenilunio, cuyo disco emergía entonces de las aguas del mar".
Ou este
"Al hallar el silencioso misterio de la oscura noche, seguro también de que aquella excelsa diosa ejercía su majestad soberana, y de que todas las cosas humanas se regían por su providencia, y que no tan sólo los animales domésticos y los salvajes, sino también los objetos inanimados, subsistían por la influencia divina de su luz y de su poder; que sobre la tierra, en lo alto de los cielos y en las profundidades del mar, los mismos cuerpos ahora aumentan, ahora diminuyen, siguiendo el proceso de su incremento o de su descenso; saturado ya sin duda mi destino por mis innúmeras y tan grandes calamidades, y proporcionándome, aunque tardíamente, una esperanza de salvación, decidí dirigir mis súplicas a la augusta imagen de la diosa que estaba presente"

Desdobramentos 
Vários poetas históricos como Fernando Pessoa dedicaram páginas ao mito de Eros e Psiquê...aqui citaremos o poema de John Keats que fala um pouco da beleza da imagem mítica e destaca o fato tardio da inclusão na historia da tradição grega....

Oda a Psique[Poema: Texto completo]John Keats
¡Oh diosa! Escucha estos versos silentes arrancados
por la dulce coacción y la memoria amada,
y perdona que cante tus secretos
incluso en tus suaves oídos aconchados.
¿Soñé hoy acaso, o es que he visto
a Psique alada con ojos despiertos?
Vagaba descuidado por un bosque sin razón ni cuidado,
y observé de repente, lleno de sorpresa
dos hermosas criaturas que juntas yacían,
sobre la hierba crecida bajo un techo de hojas
que susurran y flores temblorosas y fluía
un arroyuelo perceptible apenas.

Entre flores tranquilas, de raíces frescas y aromáticos
capullos, azules plateadas con yemas de púrpura,
yacen sosegados en el lecho de hierba;
juntos, abrazadas sus alas,
sus labios no se rozan, mas no se despiden,
separados por las suaves manos del letargo,
y dispuestos a exceder los besos ya entregados
al abrir sus tiernos ojos como auroras de amor:
al muchacho alado conocía,
pero ¿ quién eres tú, feliz paloma?
¡Eras tú, su fiel Psique!
¡Tú, la última nacida, y visión más hermosa
de aquella apagada jerarquía del Olimpo!
Más clara que la estrella de Febe en su espacio
de zafiros, que Véspero, amorosa luciérnaga
del cielo, más hermosa, aunque templo no tengas
ni altar de flores colmado
ni un coro de vírgenes con cantos deliciosos
en las hojas de la noche,
ni voz, ni laúd, ni flauta, ni incienso dulce
ni santuario, ni bosque, ni oráculo, ni ardor
de profeta de labios macilentos que sueña.

¡Oh tú, la más brillante! Ya es tarde para votos antiguos,
muy tarde para liras devotas y entusiastas,
cuando sagrados eran los bosques encantados
y sagrados el aire, el agua y el fuego;
incluso en estos días, tan alejados
de ofrendas jubilosas, tus alas refulgentes,
batiendo entre los pálidos seres del Olimpo,
veo, y canto inspirado tan sólo por mis ojos.
Déjame ser, entonces, el coro que te cante
en las horas de la noche,
tu voz, tu laúd, tu flauta, tu incienso dulce
que exhala el incensario que ligero oscila,
tu santuario, tu bosque, tu oráculo, tu ardor
de profeta de labios macilentos que sueña.
Yo seré tu sacerdote y edificaré un templo
En alguna región oculta de mi mente,
En la que rámeas ideas, nacidas con dolor
Gozoso, murmuren al viento en vez de los pinos:
y lejos esos árboles oscuramente unidos
cubrirán cada ladera de las montañas de cimas
agrestes, y los céfiros, los ríos, aves y abejas
arrullarán a las dríadas sobre el musgo;
y en medio de esta vasta quietud
adornaré un santuario con rosas
con el rico emparrado de mi laboriosa mente,
con brotes, campanillas, y con estrellas sin nombre,
con todo aquello que Fantasía pudo jamás crear,
jardinera que cría flores que nunca crecen iguales,
y para ti habrá las más suaves delicias
que consiguen los pensamientos vagos,
una antorcha brillante y una ventana en la noche
para que el cálido Amor penetre.