O Asno de ouro. Apuleio
O asno de ouro, composta por onze livros, narra as aventuras de um gentil homem que foi transformado em asno por conta de um equivoco provocado durante uma magia.
Depois desta metamorfoses o nosso jovem protagonista atravessa milhões de situações graciosas e perigosas que são as que alimentam as historias narradas no texto.
Temos que nos situar na época, esta obra foi escrita no seculo II da era crista ....se trata de uma serie de contos em sequencia que vem de uma tradição grega e anunciam o Decamerão de Bocaccio e muitas obras que no estilo das "mil e uma noites" e o Quixote desenvolveram este tipo de gênero que podemos chamar de “narração para ser contada”.
Os fatos.
Esta obra, atribuída a Lucio Apuleio, nos coloca numa realidade magica, o protagonista é transformado em asno e como asno ele nos narra em primeira pessoa a sua perspectiva dos fatos, o animal passa por miles de situações arriscadas e nesse percurso testemunha traições , vícios, maldades, lutas e os desejos do mundo real até que no final da obra recupera sua forma original humana e consegui sua libertação.
A metamorfoses do protagonista não impede que ele consiga ter conciencia do que ocorre, este homem-asno assiste cenas muito especiais, cenas como a de uma mulher que deseja seu enteado e ao se sentir rechaçada. o manda envenenar, o enteado vitima do ódio da mulher despeitada dorme é tratado como morto é enterrado e depois ressuscita pelos feitiços de um outro mago que descobre o sortilégio.
A historia de um amante que suspeita, pelo olhar do asno, que o animal esta sabendo da sua traição e pede para sua parceira castigar ao asno com trabalhos forçados.
A historia de um outro amante que é descoberto e o marido traído na frente da cena de infidelidade propõe ao casal, calmamente (mais de forma cínica) que poderiam realizar uma convivência triangular.
Acontece também a historia de ladrões que sequestram uma princesa e a mantem em cativeiro até que é resgatada por um príncipe com ajuda do nosso protagonista. Como recompensa o asno é enviado a um palácio onde é reverenciado até de novo entrar em uma sequencia interminável ,e trocas mal sucedidas de destinos e de donos até no final conseguir vencer o feitiço e recobrar sua identidade humana.
Um dos grandes méritos do livro é apresentar mitos e lendas como o de Cupido (Eros) y e Psique (Alma), que encontramos aqui pela primeira vez na literatura ocidental.
Se trata de um mito tardio da tradição grega, um mito criado e que pela sua beleza e sabidória foi incorporado na mitologia antiga.
A narração surge da boca de uma anciã que tomava conta da princesa quando esta estava prisioneira e para acalmar-la conta esta historia mitológica.
A historia do mito
Neste relato se conta a historia da jovem Psique, que se enamora de Cupido. Ela uma beleza, ele só aparece como uma presença ( sem poder ser visto) mais, mesmo assim eles se apaixonam e depois das bodas entre ambos Psique convive no palácio de Cupido na sua companhia ainda sem poder ver ele, nem saber que se casou com o Deus do Amor.
Psique vive durante o dia uma vida social e apenas pode compartilhar a presença do seu amado na intimidade da noite, mais ainda assim sem poder olhar pra ele. Numa ocasião, vencida pelas duvidas e pela tentação da suas irmãs, decide contemplar o corpo de seu marido, ajudada pela luz de uma vela. Quando leva a frente seu plano e vê o rostro de Cupido, Psique fica comocionada pelo encanto; mais nesse momento, umas gotas de cera caem sobre Cupido e o ferem. Cupido acorda e foge. Vênus, enfurecida com Psique, a somete a uma serie de provas impossíveis de serem cumpridas, entre elas uma na qual Psique tem que descer ao inferno (terra dos mortos), em busca de um pequeno cofre onde tem um poco de beleza de Proserpina. Psique consegue superar as provas, embora volta a ceder a tentação de saciar sua curiosidade e decide abrir o pequeno cofre deixando escapar toda a beleza que tinha dentro guardada. Quando parecia que tudo estava perdido para Psique, Cupido, que continuava apaixonado por ela, decide intervir e com a ajuda de Zeus Psique é perdoada. As bodas se celebram no Olimpo e Psique se transforma numa deusa.
O que tem por trás.
O relato encerra uma importante simbologia, cheia de conhecimentos. Psique é a Alma humana e Cupido o Amor . Aceitando esta simbologia, o mito descreve como a alma humana não pode conhecer o amor Amor verdadeiro (imortal) diretamente, sinão que debe passar por uma serie de provas, entre elas a própria descida nas profundezas do mundo. Finalmente a alma consegue superar todas estas provas que tem o caráter de um rito iniciático, e alcança o Amor, convertendo-se em imortal.
O estilo
Falando da escrita, as descrições são realmente de um valor artístico importante, a leitura é graciosa e a prosa é muito agradável. O estilo tem duas faces, durante a maior parte do livro segue a lembrança quase oral ou coloquial da tradição, mais no final o relato muda de estilo e toma um tom mais didático e fala sobre os Deuses Ísis e Osíris.
Aparentemente a inclusão da ultima parte sugere uma discussão que estava presente na época onde se desdobrava a possibilidade de entender os deuses como diferentes possibilidades de um mesmo Ser divino original.
Trechos do livro (selecionados versão em espanhol)
O texto tem trechos belísimos como este: "Habiéndome despertado, por un súbito terror, casi a la primera vigilia de la noche, veo que toda la tierra se encuentra completamente llena de la completa claridad de una Luna en completo plenilunio, cuyo disco emergía entonces de las aguas del mar".
Ou este
"Al hallar el silencioso misterio de la oscura noche, seguro también de que aquella excelsa diosa ejercía su majestad soberana, y de que todas las cosas humanas se regían por su providencia, y que no tan sólo los animales domésticos y los salvajes, sino también los objetos inanimados, subsistían por la influencia divina de su luz y de su poder; que sobre la tierra, en lo alto de los cielos y en las profundidades del mar, los mismos cuerpos ahora aumentan, ahora diminuyen, siguiendo el proceso de su incremento o de su descenso; saturado ya sin duda mi destino por mis innúmeras y tan grandes calamidades, y proporcionándome, aunque tardíamente, una esperanza de salvación, decidí dirigir mis súplicas a la augusta imagen de la diosa que estaba presente"
Desdobramentos
Vários poetas históricos como Fernando Pessoa dedicaram páginas ao mito de Eros e Psiquê...aqui citaremos o poema de John Keats que fala um pouco da beleza da imagem mítica e destaca o fato tardio da inclusão na historia da tradição grega....
Vários poetas históricos como Fernando Pessoa dedicaram páginas ao mito de Eros e Psiquê...aqui citaremos o poema de John Keats que fala um pouco da beleza da imagem mítica e destaca o fato tardio da inclusão na historia da tradição grega....
Oda a Psique[Poema: Texto completo]John Keats | |
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