sábado, 9 de fevereiro de 2019

O portal


Natsume Sōseki : 


Natsume Sōseki  (1867–1916) é o pseudônimo literário de Natsume Kinnosuke ,  (夏目 漱石),  o significado de seu nome artístico  Sōseki“ é “o teimoso”. Ele é considerado um dos escritores mais importantes da literatura japonesa.
Natsume é um ótimo narrador que descreve com muito bom gosto a sociedade japonesa do começo do século XX. Seu contato com a literatura inglesa permitiu que ele fosse professor da Universidade Imperial de Tókio. A obra que hoje comentamos: “O portal” completa a trilogia iniciada com Sanshiro e Daisuke.

O portal.

A narração parece não ter ação, não ter núcleo dramático; o autor parece descrever costumes, paisagens e mundo interior, como se alguém nos convida para que olhemos sem pressa para o cotidiano de um casal por trás de uma câmara oculta.
Nada acontece, mas parece que há algo de estranho no relacionamento entre Sosuke Nonaka  e Oyone, o casal de meia-idade que protagoniza o livro.
Sem nenhum tipo de sobre saltos o casal mergulha numa mesmice apática e nessa rotina que os protagonistas perdem forças até para um pequeno presente que possa atrair um colorido aos seus dias.
Num momento Sosuke (empregado público) desiste de comprar uma nova gravata em uma loja com o argumento de que no seu trabalho a presença de uma gravata nova não faria sentido. Aqui o trecho: “As cores dessa gravata eram bem melhores do que ele vinha usando todos os dias; chegou a fazer menção de entrar na loja para perguntar o preço, mas, ao cabo de pensar melhor, achou que seria estúpido aparecer no dia seguinte com uma gravata diferente”.
A trama parece querer apenas descrever o afável tédio do casal protagonista: “pessoas triviais pintadas com cores desbotadas” diz o narrador. Mas aos poucos, com a chegada do irmão caçula de Sosuke, o Koroku, a vida começou a mudar.
No final do livro Sosuke na procura de alguma transcendência para sua vida passa uns dias em um mosteiro budista; o titulo do livro: “O portal” faz referencia, justamente, a esse limite que temos que transpassar quando a vida nos apresenta uma escolha.
Metáfora de liberdade, de ruptura ou de resignação a ação de atravessar o portal serve como um desafio existencial para Sosuke; finalmente sua atitude pusilânime o devolve a sua rotina e sua vida retoma a letargia.
Durante os dias que passou no templo o monge proporciona para o protagonista um paradoxo apresentando a questão de quem somos fora de nosso “eu”. Estritamente a pergunta feita a Sosuke foi: quem era ele antes de pertencer ao mundo material, à pergunta não teve resposta do iniciado.
Durante o relato o casal, Sosuke e Oyone, (quando jovens) são protagonistas de uma cena que produz rumores desreipetuosos, este ato faz que eles fujam da vida social e até familiar. Olhando os fatos com a perspectiva dos dias de hoje, aquela cena não teria a menor importância, para compreender o caso é preciso levar em conta a realidade moral em que a história foi escrita. 

Contexto cultural.


Fora o valor literário,  existem várias referencias a tecidos, quimonos, biombos, livros, costumes, teatro, poemas, jogos e pinturas que nos permitem conhecer como era o Japão antigamente.
Por exemplo, o Baori, uma casaca usada sobre o quimono.ou o Kosode (quimono de mangas curtas) ou a seda Meisen, o tecido Omeshi e o Rotsumugi.
Também a partir da narração conhecemos alguns artistas especialistas em pintar biombos como Ganku (na imagem 3), Sakai e Ganta.
O autor faz referencias no relato a um livro antigo (Edo no sumago), o teatro joruri  (imagem 2) e um jogo de cartas que trazem poemas (utagaruta imagem 4) .

Final.

O livro nos permite conhecer o Japão antigo, nos mostra com detalhes e sem pressa nenhuma o cotidiano de um casal e no final nos faz refletir sobre uma experiência transcendente. Soseki é dono de uma literatura prazerosa e delicada.