quarta-feira, 22 de março de 2017

Cenas do centro do Rio


 “Cenas do centro do Rio” de Paulo Roberto Andel é um livro cálido.Ao longo das quase 100 paginas nos reconhecemos andando pela Lapa observando cenas cariocas cotidianas que misturam o erotismo das “proletárias do amor”, o mundo dos  gay,  dos travestis; os inferninhos, as livrarias, a gastronomia rara  que inclui um histórico sanduíche de atum com espinafre no centro até uma sardinha frita na travessa do Dídimo.

A crônica é carioca até a medula, mistura a paixão do jogo de botão com o conhecimento rigoroso dos garçons dos botecos que como Andel nos narra, fazem parte da nobreza da cidade; da sua mão conhecemos a loja Murray e ao mendigo “Pernambuco” .
A narração parece pessoal e depois de algumas páginas sabemos onde fica o “Bar das Quengas”, ouvimos a historia de amor e morte que acontecera quando um prédio desabou e entre as vitimas descobriram um casal de amantes no seu encontro derradeiro,sabemos sobre a historia do amigo que depois de um encontro amoroso com uma bela nisei em uma “casa de prazer “,  sentiu até ciúmes ao vê-la com outro.
Andel restitui aquela conversa amena de boteco como forma literária. Andel é da terra, mas também é cosmopolita, escuta jazz, gosta da Billie Holiday, do The Police, visita exposições de arte e lê Scott Fitzgerald.
Insisto no caráter cálido exposto na sua sensibilidade para ver a miséria das ruas, a arrogância e a indiferença perversa de parte da população.

Mistura de literatura underground e de visita guiada “cenas do centro do Rio” teria que ser reeditado de tempos em tempos alimentado por novas historias regadas a chopes, churrasquinhos, belas pernas e gargalhadas eternizando os papos descompromissados que embelecem os botecos cariocas.
Andel mesmo define assim o centro: “No fim das contas, com a cara do Rio de Janeiro, com varizes, cicatrizes, belas formas e mundos a serem descobertos”.




2 comentários:

  1. Ao Roberto Rutigliano, um abraçaço e muito obrigado pela generosidade das palavras. ST

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  2. Rutigliano é perfeito e definitivo, só me resta concordar e torcer pela continuidade de "cenas do centro do Rio".

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