Livro das mil e
uma noites
Introdução geral.
Vou falar deste livro encantador
mais, gostaria de esclarecer que o meu interesse é apenas amoroso pela obra e
pela narrativa...Não tenho nenhuma pretensão didática ou antropológica...Apenas
o meu prazer de ficar lendo e relendo estas páginas maravilhosas que a Grande
Literatura deixou para nos e também a vontade de compartilhar o prazer que
sinto ao me aproximar destas páginas admiráveis.
O título nos aproxima do
conceito de eterno, Borges fala que o título destes contos, a frase: “mil e uma
noites”, guarda em sim a idéia de infinito e também a de agregar, poeticamente,
algo mais a esse infinito, como se falasse: “te amo para sempre e mais um dia”.
Ele fala se o titulo fosse
999 noites teríamos a sensação de uma falta e se fossem mil noites teríamos a noção
de algo muito numeroso mais, as mil e uma, descreve algo que vai alem de aquilo
que por si só é enorme.
Que nos evocam estes contos?
De onde eles nos chegam? Que tem Oriente de poético e misterioso que nos atrai?
Oriente
o lugar onde nasce o Sol. O ouro. O deserto. Alá. Bagdá. Os contos estão cheios
de magia, de gênios, de mitos...
A
origem do livro é misteriosa. Provavelmente produzida por muitos autores. São
fábulas, historias contadas por homens que tinham como profissão, justamente, narrar
contos...
O
próprio estilo claramente nos remete a idéia de um narrador, não é uma prosa
escrita no formato moderno de literatura e sim com a intenção de reproduzir a
sensação de estar ouvindo algo que esta sendo contado.
O
tradutor ao português Mamede
Mustafa diz que para ele se trata de
uma representação letrada de uma prática oral idealizada na sua valorização, em
outras palavras: quem as escreveu pensou em trazer a presença de uma oralidade
para quem as lê.
No século IX já existe
referencias, no XV se editam estes contos em Alexandria (Egito) e em 1704 se
traduzem e se publica a primeira tradução ao francês por Antonie Galland. O
Oriente entra assim definitivamente na consciência Européia...turbantes, eunucos,
príncipes, a magia coloca um pé na França, a razão recebe a fabula...
Galland
se tomou algumas liberdades na sua tradução das historias e até se fala que ele
de tanto escutar, de tanto ler e relê-las, criou a do “Aladin e a lâmpada
maravilhosa”... as edições manuscritas árabes não registram também a historia
de “Ali Baba”.
Outra
curiosidade é que no livro das mil e uma noites também aparecem elementos ou
símbolos que estão presentes em outras obras da literatura universal: no conto
de “Simbad, o marinho”,por exemplo, existem situações que aparecem na Odisséia
(como é a cena de cegar a um monstro gigante antropófago) e no conto “historia
mágica do cavalo de ébano” idéias que depois são recriadas no Quixote de
Cervantes (como é o caso da cena do cavalo de madeira que voa).
Estes
contos inspiraram a muitos autores em todo o mundo na Inglaterra, por exemplo,
Stevenson escreveu “As novas noites árabes” é assim estas belas historias
continuam se desdobrando na literatura e em nossa imaginação todos os dias até
hoje, seja num filme, numa pintura ou na imaginação de uma criança que recebe a
sua iniciação literária apreciando as imagens deliciosas destes contos ...
Tem
narrativas que falam de amor, historias repletas de humor, de aventuras ,
historias com cenas de sexo e quase sempre historias onde o acontecimento
fantástico se mistura na vida cotidiana dos personagens.
Primeira parte.
Apresentação do conto
Existe uma situação de
infidelidade que provoca um trauma no rei e a partir desta desilusão decide se
vingar do sexo feminino e matar, depois de uma noite nupcial, a todas as
mulheres virgens do seu reino com o propósito de não ser mais traído.
O pai da última virgem tenta
fazer a entender a sua filha Sherazade que tem que fugir para não ser morta
mais esta, confiante no seu poder de persuasão, teima com o pai e cria a
estratégia de entreter ao rei indefinidamente com suas historias e assim se
salvar da sua condena.
O autor introduz uma primeira
fábula para descrever a impotência do pai frente à obstinação da sua filha e
para exemplificar este comportamento usa a imagem de um homem que escuta as
vocês dos animais e é de um galo que ele ouvi o palpite de resolver a situação
de um modo rude, simplesmente: dando umas chicotadas a sua filha quando ela se
embirra.
Anos mais tarde Friederich
Nietzche diria: “Vais ter com
mulheres? Não esqueças o chicote”.
Votando ao nosso livro: a
idéia de uma mulher que esta condenada à morte começa a contar historias a um rei
para entretê-lo e assim salvar sua própria vida e algo interessante por si
mesmo é a idéia da troca da vida pela historia, a literatura como arma secreta
de uma sobrevivência.
Os contos
Começam os relatos:
A historia do pescador e do gênio
Uma
manhã um pescador tira sua rede a “um mar” e depois de retirar a rede por
quatro vezes não consegui mais nada que inutilidades..na quarta ele retira um
vaso de cobre amarelo com uma tampa selada...pensa que poderia vender o vaso...abre
a tampa e aparece um gênio... um ifrit
(como eles chamam) que esteve prisioneiro..o gênio conta sua historia...
(estamos na frente de uma outra realidade- um mundo fantástico que dialoga com o
mundo dos homens)...o gênio conta para o pescador que tinha prometido, para si
mesmo, quando ficou preso no vaso, que
quem o livre da sua situação seria o homem mais rico do mundo, passam 100 anos
e nada, depois promete que quem o livre da sua prisão ele lê ensinaria a
linguagem dos pássaros e nada, passam mais 100 anos..a promessas continuam até
chegar a pressagiar que ele poderia converter em Deus ao homem que o liberte
novamente nada, finalmente, depois de 400 anos irritado com a sua interminável
espera, ameaça dizer que a pessoa que o liberte morrerá...o pescador escuta
esta última palavra e se aterra ...uns minutos depois pensa numa estratégia
para se livrar da situação e fala para o ifrit:
você não saiu dessa garrafa, não , quero ver como esse corpo gigantesco pode ter
saído dessa bacia e o convida a entrar na garrafa de novo.. quando o gênio se oculta
de novo dentro do vaso...ele tampa o recipiente e se libera.. a historia segue
mais o protagonista não é mais um pescador...aparecem outras historias dentro
de esta primeira e o livro se deixa levar por caminhos,labirintos, corredores,
véus...tudo isto é típico das mil e uma noites..contos dentro de contos..COMO
ALGO ILIMITADO, INFINITO...sonhos que se multiplicam....um efeito de dobras...de
sequências que nunca acabam...
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