Os possessos
Dostoievski
escreve esta obra no final do século XIX , a obra se conhece também pelo nome
de “os demônios” ou “os endemoniados” ...comento que a idéia de “os demônios”
aqui não se refere ao diabo em sim , pensemos que pode ser interpretada como a
representação das forças destrutivas do mundo
ocidental na Rússia.
O
germe da historia foi um crime que se produziu em Moscou em 1869 e que causou uma forte impressão no
autor, resulta que Serguei Nechávey, revolucionário, anarquista e niilista, foi
o responsável do assassinato de Iván Ivanov, estudante e companheiro de célula revolucionaria,
á que ambos pertenciam, por suspeitar que este fosse entregá-los.
O romance estabelece uma discussão com estes movimentos
revolucionários e também com os niilistas personificados na figura do
personagem de Piotr Verjovenski, inspirado no mencionado Necháyev,
Comento também que quando se menciona a palavra niilismo
aqui não se poderia entender isto como falta de vontade ou descrença, ao
contrario representa o racionalismo
hegeliano , ao mesmo tempo simboliza o que hoje se
conhece como globalização e mais especificamente neste livro se associa as
forças que propiciam á destruição das raízes ancestrais e da fé.
Em outras palavras, o autor rechaça o clichê das
bandeiras francesas que querem banalizar a historia e enterrar ou etiquetar as
possíveis possibilidades do homem em um slogan sem sentido, o autor afirma que
o povo russo, com sua tradição, na deveria se desfazer nos modismos franceses e
no ideal vazio de “igualdade, fraternidade e liberdade”.
O enredo.
Estamos frente a uma obra sinfônica... Uma obra
onde aparecem duas historias paralelas e centos de personagens....O romance
começa narrando a relação entre Varvara Petrovna Stavróguina (uma matrona
endinheirada) e Stepán Trofímovich Verjovenski (um professor cheio de trejeitos
afrancesados)....durante toda esta primeira parte temos toda uma descrição
detalhada da vida na Rússia protagonizada por esta dupla até que aparecem na
cena Nikolái Stavroguin (uma figura carismática , uma espécie de demônio
personificado) y Piotr Verjovenski (um fanático deslumbrado por Stavroguin),
Estes dirigem uma célula de ativistas políticos que
cometem atos terroristas para desestabilizar e tomar o poder na Russia....um
dos membros se desentende com o líder e decidem matá-lo....Aqui termina a narrativa
linear do romance e com esta morte o enredo se fecha.
Surge um epílogo, muda o narrador, começa-se a falar de algo que faz parte do passado.... No final do romance Stavroguin (o líder) visita a Tihon (uma espécie de sacerdote salomônico) e com ele tem uma longa confissão de onde surge uma cena aterrorizadora da qual vamos tratar mais na frente.
Surge um epílogo, muda o narrador, começa-se a falar de algo que faz parte do passado.... No final do romance Stavroguin (o líder) visita a Tihon (uma espécie de sacerdote salomônico) e com ele tem uma longa confissão de onde surge uma cena aterrorizadora da qual vamos tratar mais na frente.
A trama inclui outros dois personagens muito interessantes,
Kiríllov, um suicida ideológico que o autor usa para encarnar de modo irônico
como o racionalismo extremo pode conduzir ao homem a cometer absurdos.
O personagem declara, por exemplo, que o medo é o
que orienta ao homem neste mundo (medo da dor, da morte) e afirma que quem se desfazer
desse medo (se matando, no caso) se libera e se transforma em deus.
Kirilov
influenciou fortemente ao Camus na hora de escrever o mito de Sísfido
O último personagem central na dramaturgia é o Shatov, ele
representa o bem. A bondade da alma humana em contraste com Stavroguin. Shatov é aquele que é assassinado
suspeito de traição .
Shatov, como falamos, simboliza a verdade, as boas
intenções o lugar do bem.
O
Romance
Estamos frente a
uma tragédia, o romance transcorre de modo linear até que a morte do Shatov
provoca uma débâcle gigantesca.
Na descrição dos ambientes, como sempre nos cenários criados
pelo autor, subsolos obscuros onde moram pessoas doentias recriam um clima de obsessão
e pesadelo.
Quando a gente se comunica com Dostoievski sabemos que ele com
estes climas adentra no interior do ser humano....dentro mesmo da alma humana
que como em todas suas obras estão povoadas de doenças e densidade, o clima fechado
afirma o ofuscamento e de asfixia total pela que transcorrem o relato.
Como falamos, este drama, ou tragédia psicológica, tem como motivo
subjacente a confrontação das idéias ocidentais e racionalistas contra a
preservação da identidade russa e dos valores cristãos. Na boca dos personagens
demonizados a frase “Proclamaremos a destruição. […] Se encrespará o mar, y se
derrubará todo o falso tumulto. “E então pensaremos em levantar o prédio de pedra.”
Por
momentos o romance parece panfletário e Dostoievski aproveita este recurso para
mostrar com total atualidade como se sustentam as teorias do poder, o
personagem Shigaliov chega a conclusão de que para que um 10% da humanidade
possa manter sues privilégios o 90% restante tem que viver numa sorte de
escravatura
Da boca de Shatov é que
percebemos a um contraponto romântico e idealista que conhece a realidade Russa
e que discute a parte política do romance.
Paralelos com a obra de
Dostoievski
Existem idéias que
permeiam o mundo dos romances do autor, em “Memórias do subsolo” e no romance
“O idiota” existem alguns precedentes do discurso de Kirilov.
No caso de “Memórias” um
homem que se pensa assim mesmo como ruim e doente (isto parece ser uma escolha)
e no caso do Príncipe Myshkin do “Idiota” como um segundo caso de extrema
vontade que por excesso de lucidez, como no caso de Kirilov perde de vista a
força vital.
As questões existenciais
presentes nestes pensamentos elevam a obra de
Dostoievski e o colocam como referencia para autores ligados ao psicanálises e ao fazer filosófico.
Dostoievski e o colocam como referencia para autores ligados ao psicanálises e ao fazer filosófico.
Minha impressão
Existe um filme dedicado
a este livro dirigido por Andrzej Wajda , um filme magnífico onde a historia se condensa e de algum modo
ganha uma síntese.
O final é diferente e
pode ser considerado como o que o diretor achou central no romance de
Dostoievski....o personagem de Stepán Trofímovich Verjovenski moribundo reflete sobre uma passagem da Bíblia
onde se descreve como os demônios pedem para Jesus saírem do corpo de uma
pessoa doente e entrarem no corpo de uns porcos...no filme o personagem de
Stepán, morrendo, escuta gritos de porcos lembra da passagem bíblica e diz....”Estamos
possessos, (somos os demônios) mais o doente (a Russia) será curada”.
No livro o final tem uma cena maravilhosa onde o
mal e o bem se enfrentam....como citamos.... Stavroguin (o líder) visita a Tihon (uma
espécie de sacerdote salomônico) e com ele tem uma longa confissão de onde
surge uma cena aterrorizadora.
Esta cena tem uma imagem incrível.....uma cena que
deveria ficar na historia e que foi desvalorizada em todas as publicações que
li.
Resulta que Stavroguin tentando se afastar da cena
do crime aluga um quarto numa cidade próxima e fica hospedado na casa de uma
senhora que tinha uma filha de 9 anos.
De repente, se extravia seu canivete e a dona do
lugar decide dar uma surra na sua filha, suspeitando que a filha foi responsável pelo
extravio do objeto.
O caso é que a surra foi muito brutal e machucou a
garota.... Numa cena seguinte a garota se insinua ao Stavroguin e beija
ele...uma garota de 9 anos..... a garota depois disso começou a adoecer por
conta da sua falta de alimentação e acaba morrendo, dias antes de morrer ela
aparece na frente dele e ameaça com o punho em alto....ele sai da casa...tudo
tinha começado com a historia do canivete e terminou com a morte da garota diz
a mãe dela na despedida.
Stravroguin se confessa com o sacerdote e diz que aquela cena da
garota ameaçando ele o persegue ....os dois estabelecem um duelo de razões e
argumentos e o livro termina nesse dueto apoteótico como um grande finale.
O livro é realmente algo que merece todas nossas
honras....pelo conceito artístico de como conduzir os diálogos, os personagens,
o ritmo narrativo, as idéias....estamos frente a algo importante.....