Tom Sawyer
É muito difícil escrever literatura realista se situando no
mundo dos pré-adolescentes, quase sempre os adultos que se apropriam de esse
universo para seus relatos não conseguem realizar-lo porque são muito
didáticos, moralistas ou artificiais.
Poucos, se animam, se encorajam a se adentrar nesse mundo e
se saírem vitoriosos, me vem a memória a “Ilha do tesouro” de Stevensom ou alugumas das novelas de Charles Dickens e textos de Oscar Wilde como
um exemplo de narrações bem sucedidas neste sentido e é claro esta que hoje vamos a
comentar que é “ As Aventuras de tom Sawyer” de Mark Twain .
“Alice no país das maravilhas” de Lewis Carol ou “Pinóquio” de Carlo Callodi poderiam ser incluídas como
parte desta literatura juvenil mais considero estas duas como dentro de um
realismo fantástico.
As outras experiências tipo “Peter Pan” ou as fábulas de
Esopo ou as narrações dos irmãos Grimm ou Hienekke Rapoza do Goethe, por exemplo, embora belíssimas, não podem
se comparar com o texto do Mark Twain por se tratarem de obras baseadas em historias
folclóricas ou fábulas de tom didático mais não dedicadas as crianças.
"Existem contos dentro das "Mil e uma noites" e dentro do Decamerão que também poderiam ser incluídas dentro desta linhagem de narrações lendárias ou mitos.
folclóricas ou fábulas de tom didático mais não dedicadas as crianças.
"Existem contos dentro das "Mil e uma noites" e dentro do Decamerão que também poderiam ser incluídas dentro desta linhagem de narrações lendárias ou mitos.
O valor do MarkTwain é ter dado ao ambiente narrativo uma
literatura não apenas fotográfica mais também uma conotação cálida e uma
verossimilhança encantadora.
Os méritos do romance.
Primeiro introduzir uma lucidez nos personagens e no
narrador, a maioria dos textos destinados ao público pré-adolescente é careta,
formal, falam de modo artificial e moralista.
Por exemplo, os personagens embora muito jovens sentem
tédio, vazio, solidão, angustia, ciúmes, cobiça, raiva, em fim, sentimentos que
quase nunca são atribuídos a eles quando se descreve um personagem assim.
Segundo o humor inteligente, a cena do Tom enganando aos
seus amigos para induzir-los a pintar a cerca de sua casa enquanto que ele fica
olhando e ainda cobrando recompensas é ilharia.
O desinteresse material na atitude de alguns dos
personagens, o co-protagonista Huck Finn, por exemplo, no final do romance ,
mesmo sendo ele mendigo, rechaça o conforto e o cuidado de uma anciã que se
propõe adotá-lo para continuar a viver sua vida sem horários, sem regras e sem
medidas.
As reflexões do narrador: “Descobrira- uma grande lei que
aciona o mundo- sem o saber que o homem possa cobiçar uma coisa basta tornar
essa coisa difícil de obter”.
O próprio autor se coloca como filósofo e afirma a seguir
que “Trabalho consiste em tudo o que a gente é “obrigado” a fazer e
Divertimento é tudo aquilo que a gente
não é obrigado a fazer.
Isso ajudaria a compreender porque fazer flores artificiais
ou dar volta ao muinho é trabalho em
quanto que jogar golfe ou escalar o monte Branco é prazer”.
Sinopse
O romance se divide formalmente em capítulos mais na
realidade em quadros, temos o quadro no qual ele pinta a cerca que comentamos, a
relação dele com sua tia Polly , o noivado de Tom com Becky Tatcher , o quadro na igreja
quando ele finge conhecer mais de 200 trechos bíblicos, a cena do assassinato
no cemitério, a historia deles se
pensando piratas , a historia do tesouro, a cena de Tom e Becky perdidos na
caverna e outras pequenas cenas hilárias que fazem o roteiro sempre interessante
e dinâmico.
Criticas
Muitas vezes o protagonista se coloca do lado certo
defendendo princípios morais, por exemplo, Tom, em um gesto “nobre” (coloco
entre aspas porque ele, na realidade, faz isso para ganhar o amor da Becky) sai
em defesa da sua amada quando ela esta sendo acusada na aula por ter faltado o
respeito com o professor, ele para protegê-la assume um delito que não fez e recebe a palmatória
no lugar dela, ou quando ele se
sensibiliza com uma acusação falsa de homicídio
e decide defender a uma pessoa inocente durante um julgamento.
Mais, temos algumas passagens onde o autor mostra seu preconceito
racial, em determinado momento do
romance aparece esta fala: “ Tom ele é um negro muito bom as vezes me sinto a
comer com ele! Mais não deves falar isso (responde Tom). Quando a gente esta morto de fome, é forçado a fazer
coisas que não faria em estado normal”.
Sei que no sul dos EE.UU naquela época ( a obra foi publicada em 1876)é até no faz
muito tempo era normal ter essa visão das coisas, agora é uma pena que o Mark
Twain seja pego em um mancada dessas, paciência.
Humor
Existem vários tipos de humor na obra, um mais infantil, tipo "os três patetas, Chaplin, o gordo e o magro" que se produz quando o Tom se vinga do seu irmão alcaguete por exemplo e outro mais irônico e mais adulto.
Vou comentar um caso muito ingenioso que o Mark Twain coloca com muita perspicácia, em um determinado momento o autor ridiculiza o tom solene das redações dos estudantes da época.
Isto é algo delicado porque ele tem que escrever de modo "errado", para poder dar o efeito de uma literatura de segunda qualidade.
"Negra e tempestuosa era a noite. Nos céus lá em cima nem uma estrela brilhava...termina com a frase...Minha amiga, minha alegria na dor, veio para meu lado".
Ele ri do tom de sermão de certa "literatura" metida a exemplar e mostra toda seu sentido do humor delicado com uma sutileza de mestre..
Humor
Existem vários tipos de humor na obra, um mais infantil, tipo "os três patetas, Chaplin, o gordo e o magro" que se produz quando o Tom se vinga do seu irmão alcaguete por exemplo e outro mais irônico e mais adulto.
Vou comentar um caso muito ingenioso que o Mark Twain coloca com muita perspicácia, em um determinado momento o autor ridiculiza o tom solene das redações dos estudantes da época.
Isto é algo delicado porque ele tem que escrever de modo "errado", para poder dar o efeito de uma literatura de segunda qualidade.
"Negra e tempestuosa era a noite. Nos céus lá em cima nem uma estrela brilhava...termina com a frase...Minha amiga, minha alegria na dor, veio para meu lado".
Ele ri do tom de sermão de certa "literatura" metida a exemplar e mostra toda seu sentido do humor delicado com uma sutileza de mestre..
Minha experiência com a obra.
Conheci pessoalmente o Missisipi , fui a New Orleans e vi
com meus próprios olhos aquelas construções de origem francês e holandês, tive contato com aquela paisagem
e fico me imaginado , quando pego o livro, como devia ser o mundo naquela vila
que descreve o Mark Tawin nos fines do século XIX.
Cortázar no conto "O Perseguidor " fala que uma roupa existe não quando esta guardada mais quando a gente veste ela, Borges fala que o livro cobra vida quando a gente o lê, eu abri este livro quando era adolescente e o reabri agora, de algum modo ele cobrou vida para mim depois de quarenta anos de espera. Conheci o romance quando estudava na escola de padres
salesianos Don Bosco, na Argentina, não consigo entender como a igreja deixou
passar esse texto que em alguns passagens ridiculariza aos padres, aos métodos
de premiação da evangelização mais tudo bem, na realidade quem lia a narração
era um maestro laico que tínhamos no final do primeiro grau (ano 1973 , eu com
12 anos) chamado Luis Carlos Molievi (acredito) .
Ele todos os dias lia trechos e nos encantava com as
aventuras do Tom, claro que a gente tinha uma visão um pouco limitada para
olhar para aquilo porque o Mark Twain tem muitas sutilezas e entre linhas que
nos escapavam.
Num determinado momento do texto por exemplo o autor comenta,
como já falei: “Descobrira- uma grande lei que aciona o mundo- sem o saber que o
homem possa cobiçar uma coisa basta tornar essa coisa difícil de
obter”.
Como um garoto, embora pudesse ser conduzido, teria como decifrar
tudo o que implica aquela frase com 12 anos?
O livro inspirou muitos
filmes, quadrinhos mais para mitos o filme de 1938 dirigido por
Norman Taurog foi o que melhor colocou nas telas o romance.
O filme é leve e bonito, tem
grandes atuações mais peca por introduzir cenas, cortar outras e colocar
personagens e falar inexistentes no original.
Final
No começo do livro, na dedicatória o Mark Twain publica: “A pesar de
que o destino deste livro seja a passatempo de jovens, espero que não o depreciem
os adultos, já que em parte está composto com a idéia de despertar lembranças
do passado e expor como eles pensavam , sentiam e falavam e em que raras empresas
se embarcavam."
O Mark Twain conseguiu seu propósito, claro que o livro nos
atinge e na medida em que o lemos voltamos as juras de amor, as mandingas, aos
planos majestosos, aos segredos com os amigos, as fugidas de casa e a todo um
mundo que se reaviva em cada página, recomendo este romance para iniciar a um pré-adolescente
no delicioso caminho da literatura.