Novos autores.
Alem de obras de escritores consagrados chega à minhas mãos
o trabalho de novos literatos.
Primeiro foi João Vereza com seu premiado “ Noveletas”, um
romance no estilo narrativo do Guimarães Rosa, depois meu amigo Paulo Roberto
Andel com suas crônicas do cotidiano carioca : “ Cenas do Rio” e recentemente o
“Os trechos dos livros que ainda não foram escritos”.
Agora acabo de receber o primeiro romance da escritora
paulista Aline Bel: “O Peso do pássaro Morto”.
O primeiro mérito do romance esta no seu trágico título o
segundo é que ele se deixa ler, em dois dias terminei as 165 páginas.
A dedicatória nos remete a um fato real: ”Um canário que/ assustado
de caber na palma/ morreu na minha mão”.
A forma.
A narração se divide nas faces etárias da protagonista (8/17/18/28/37/48
e 52 anos) e um epílogo.
O argumento.
A obra de Aline Bel relata a vida e as perdas de uma mulher urbana, solitária que assiste as ausências de sua amiga da infância, do pai de seu filho, de seu filho e por ultimo de seu cachorro, episódio que acaba desabando sua existência.
Numa redação na escola e na sua lapida a frase “A cura não
existe“ parece nos indicar, como diz a escritora pernambucana Micheliny
Verunschk, o tema central do livro: o não reparo para nossas perdas.
Os recursos de estilo.
O uso de minúscula no lugar da maiúscula, o uso de jogos
gráficos tal vez inspirados no Apollinaire ou na poesia concreta parecem saídas
lúdicas que alimentam o relato.
Embora desconhecemos o nome da personagem central, o uso da
primeira pessoa dá ao relato um tom de veracidade que o aproxima de uma
narração confessional.
Embora seja uma ficção, o livro parece essencialmente autobiográfico.
Os personagens.
Tudo gira em torno de um personagem central e das perdas que
ela sofre ao longo da sua vida; primeiro sua amiga carla (escrito por momentos
dessa forma no livro), do Luíz (marido de dona Rosa) meio um sábio e dublê de médico
do qual ela se desencanta; segue com Pedro um namoradinho que acaba a
estuprando; seu filho , seu neto e seu cachorro Vento que produz com sua morte
o desmoronamento derradeiro da sua vida.
O texto.
Belas imagens como as que aparecem na infância da
protagonista chocam com a agressividade de cenas violentas . O uso excessivo de
palavrões trazem um tom coloquial desaconselhado na dramaturgia.
Final.
Boa estréia para Aline Bel , o drama atual realizado em um
contexto realista das cenas não impede a aparição de imagens poéticas.
Parabéns.