Amor eterno.
No reino de Imbitub governava com sabedoria e justiça o Sultão Tribusto, ele tinha uma única filha que estava na idade de
casar. Tribusto tinha uma preocupação
clara em relação ao futuro da sua linhagem porque a princesa Sofia não queria contrair matrimonio.
Argumentava que ao se
sentir apaixonada ela tinha a sensação de perder a cabeça, dizia que depender
de outra pessoa para ser feliz a deixava fragilizada, não se sentia dona de si, se
achava fora do seu eixo , em fim, ela tinha
medo de amar.
O pai, o Sultão Tribusto,
apresentou alguns candidatos importantes
e a princesa até que conheceu algum deles mais na eminência de estreitar
a relação a princesa interrompia o namoro e tudo voltava ao ponto inicial.
Relativamente longe dali no reino do Sultão Elibir na antiga
Lebanon vivia o príncipe Horacio que por
diferentes motivos também não queria formalizar casamento .
Isto claro que preocupava ao Sultào Elbir porque sua
descendência podia esta comprometida assim que em longas conversas tentou
induzir ao príncipe a se aproximar de uma donzela com o propósito de contrair
matrimonio e perpetuar assim o seu reinado.
Horacio sempre argumentava que desconfiava das mulheres, que
a infidelidade e a vida oculta eram a essência do feminino e que jamais
conheceria uma mulher virtuosa que pudesse fugir desse destino.
Em quanto isso , lá no céu a deusa Isis se apiedou destes
dois jovens, entendeu a situação e achou que deveria chamar a Cupido
para que ajudasse a que aqueles dois se encontrassem.
O anjo Cupido, aceitou a missão e estudou
qual seria o melhor modo de
colocar um no caminho do outro.
A princesa Sofia estava procurando um cozinheiro que pudesse
comparecer ao palácio do Sultão na finalidade de cozinhar esfihas para receber
uns convidados árabes , tinha localizado o melhor mestre de culinária arábica
das adjacências e queria
poder contar com o seu talento na recepção.
Enviou uma carta convidando ao cozinheiro do palácio do
Sultão Hernio que morava numa cidade
vizinha a Imbitub e isso chamou atenção de Cupido que achou que poderia
colocar sua colher nessa cena e,
imaginado um plano de aproximação do
casal , interceptou a carta , vinculou ela junto com a correspondência pessoal que o príncipe Horacio teria que
receber na manhã seguinte e se sentou a observar o transcorrer da trama.
O príncipe, de manhã, leu a carta, sem entender muito bem do
que se tratava, mas, ainda assim teve a delicadeza de respondê-la com estas
palavras: “Estimada princesa, gosto de esfilhas e até gostaria de poder
satisfazer seu desejo, mas não é a culinária uma arte com a qual consiga me entender ainda com alguma destreza
, imagino que outros homens com muito mais talento que eu para essas
empresas consigam satisfazer seu pedido com melhores resultados, as suas ordens o príncipe Horacio”.
A princesa Sofia ao receber a resposta de Horacio ficou
surpresa não sabendo explicar como aquela carta foi parar na correspondência do
palácio do Sultão Elibir, mas achou simpática a réplica do príncipe, então
decidiu explicar-se e assim escreveu: “ Estimado príncipe Horacio
não termino de entender como a minha carta teve um destino tão caprichoso , imagino que existe um vento rebelde que desobedece nossas vontades. Será
coisa do destino? Vou refazer o pedido
para seu original destinatário e espero que
não tenha tomado muito de seu
tempo com os devaneios deste correio mutável , às suas ordens, a princesa Sofia”.
O príncipe achou indelicado interromper o dialogo e enviou
mais uma carta iniciando uma conversa casual perguntando sobre o tempo e sobre o céu de Imbitub
: “minha estimada princesa, fora o
assunto das esfilhas e das cartas extraviadas queria lhe comentar que há muito tempo que não vou à
sua terra, ainda tem nesta época do ano, aqueles entardeceres rubros, aquele cheiro de jasmim inundando o ambiente? São coisas que nos
impedem esquecer o futuro , sempre às
suas ordens, príncipe Horacio“.
Cupido a esta altura estava desfrutando desde alguma nuvem
porque seu propósito estava encaminhado e pelo andar da carruagem em breve
teríamos algo mais do que falar.
A princesa retornou a carta com uma resposta convidativa: “
Meu caro príncipe Horacio: neste momento o meu gato na janela olha as nuvens do
céu se desfazendo e parece entender como
todos aqueles desenhos ocasionais produzem formas aleatórias, ora de cavalos, de montanhas, de mãos ...um dia
vou desenhar ele para que sua majestade conheça a beleza da seu contorno obscuro recortado no fundo vermelho
do céu ao cair da tarde , com
carinho, princesa Sofia”.
As cartas se sucederam sempre nesse tom poético e afetuoso,
mas, Cupido entendeu que precisava de mais uma apimentada e decidiu introduzir
a figura do príncipe no mundo onírico da princesa, a cena foi à seguinte: Ela
tinha pedido para suas escravas pessoais e todas as damas da corte que, por
favor, a deixassem sozinha aquela noite no seu quarto, proibiu a entrada de
pessoas e pediu para que ninguém interrompesse sua intimidade até o dia
seguinte porque ela precisava ficar só e
desejava que respeitassem aquela solidão.
A princesa tinha o propósito de reler todas as cartas de
Horacio e escrever uma outra resposta incorporando novas imagens e lembranças que
teria acumulado ao longo do dia inteiro, o sono
atacou por surpresa e acabou se entregando aos cuidados do Deus
Morfeu.
Durante o sono, uma forma humana se aproximou dos aposentos
da princesa e começou a olhar pra ela, primeiro tomou um susto, mas depois
escutou uma voz: “sou Horacio, desculpe minha intromissão, estou aqui para te
fazer uma visita”.
A imagem de Horacio aos poucos se tornou mais clara e ele
sem cerimônias se aproximou da cama e deixou reconhecer seu rosto e seus
trajes.
Era um jovem esplendido, de cabelos longos e cacheados, olhos
azuis, vestia uma camisa da mesma cor de seus olhos bordada com pássaros
dourados na frente e nos ombros tinha ainda enfeites de um azul mais claro, as mangas terminavam em
brocados que chegavam até o final do seus braços, as mãos eram grandes mas delicadas e tinham um anel vermelho que sobressaía
do seu dedo anular pelo seu colorido e
seu brilho , o anel chamava a atenção não pela sua opulência mais pelo seu
encanto.
Os dois se olharam, sorriram e sem querer suas bocas se
aproximaram em um beijo que acabou detonando uma serie de luzes coloridas e
reflexos que eles nunca antes tinham experimentado, as pernas da princesa sucumbiram.
As caricias e os beijos se multiplicaram, as roupas caíram e o príncipe Horacio olhou a nudez branca da
princesa Sofia com desejo e um apetite delicado. A pele
toda despida era apenas interrompida por um amuleto de nácar que pendia da garganta da ninfa como uma única vestimenta,
os corpos se elevaram no ar e uma música celestial fez com que os dois flutuassem embriagados.
O príncipe acariciou os ombros de Sofia e sentiu a suavidade de um tecido de seda fina
, os dois se abraçaram e se uniram até ficarem colados em um só corpo impregnados de suor e de aromas numa sensação
que ficou na memória dos dois pela vida inteira.
Beijaram-se sem pronunciar palavras, apenas sons
inatingíveis que só os amantes emitem nas horas intimas.
Repousaram num estado de alegria e de êxtase, até ficarem completamente dormidos sem lembrar da passagem do tempo nem da sua
própria existência; no dia seguinte procuraram entre os lençóis o corpo amado que já não habitava mais aquele leito.
A princesa olhou sua mão e descobriu o anel vermelho num dos
seus dedos, e o príncipe olhou seu
pescoço e viu o amuleto de pedras que tinha observado pendurado no corpo da sua
amada.
A princesa acordou atordoada e sem pensar buscou tinta e papel para escrever para Horacio relatando
discretamente o seu sonho , tentando explicar inclusive como teria aparecido aquele
anel vermelho na sua mão. O príncipe por sua vez fez o mesmo movimento e,
cuidando para que o seu relato não
parecesse um devaneio impudico e tentou descrever a sensações deliciosas da
noite anterior e a aparição do amuleto envolta da sua gola.
Quando as cartas chegaram ao destino, os dois puderam
constatar que o sonho tinha extrapolado
os limites do mundo onírico: sentiram calafrios nos seus corpos e uma sensação
de que suas vidas foram atravessadas por uma espécie de sortilégio que não
conseguiam entender.
Sofia se sentiu
completamente envolvida na relação e isto detonou antigos medos e uma
sensação de incômodo que se fazia presente quando ela não conseguia se
sentir dona de si.
A resposta foi afastar-se de Horacio, tentar esquecê-lo e
procurar se equilibrar para ganhar de novo o comando do seus desejos.
O príncipe ao mesmo tempo sentiu que os dois estavam se
aproximando perigosamente e tentou enviar vigias e informantes para o palácio
de Sofia com o intuito de saber de perto quais eram os verdadeiros sentimentos dela
e assim poder caminhar num território
mais firme.
O resultado foi catastrófico, primeiro a intolerância,
depois a agressividade e por último, o afastamento definitivo sucederam-se, nesta ordem, entre os
dois.
Cupido estava perdido e nada conseguia fazer para
interromper aqueles receios que impediam que a relação conseguisse se
estreitar.
A Princesa tomou a
iniciativa e decidiu desistir da relação
por sentir que as coisas tinham ido longe demais, e que seria mais prudente
retomar seu antigo estado de solteirice e ao controle da
situação.
Comunicou sua decisão ao príncipe e este adoeceu, triste e sem vontade nem forças para viver o
desenlace da relação acabou morrendo de tristeza dias depois que a princesa o abandonara.
Quando ela soube da morte do príncipe se desesperou e
começou a pedir a todos os anjos do céu que devolvesse Horacio para sua vida, que ela não conseguiria
viver sem ele.
Cupido atendeu sua oração, e pediu para a deusa Isis mãe da
vida, deusa do amor e da magia para devolver o príncipe a este nosso mundo.
Ela escutou a prece, mas falou que Sofia deveria passar por três
provas para merecer a restituição do seu amante para o mundo dos vivos.
Cupido aceitou o reto da deusa e pediu para ela descrever
quais seriam as provas as quais a princesa deveria se submeter. Isis falou:
primeiro ela tem que estar numa margem do rio e na contraria ao mesmo tempo.
Segunda prova tem que caminhar o longo de uma arvore desde a raiz até a copa e por
último tem que entrar no lago dos mortos e trazer o tambor na baqueta sagrada
que estão ali desde os tempos remotos.
Cupido entrou no quarto da princesa e tomou uma forma humana
para poder falar com ela e para dissuadi-la de tentar passar pelas três
provas que a deusa tinha encomendado para ela se reencontrar com Horacio.
A princesa estava desconsolada chorando na escuridão do seu
quarto quando viu a imagem do Cupido. Tomou um susto, mas ele
aos poucos a acalmou e lhe
explicou quem era e a chance que estava
trazendo para ela recuperar seu amado.
Cupido tentando convence-la para ganhar forças para passar
pelas provas até que ela respondeu:
“Mas como vou
conseguir estar numa margem do rio e em outra ao mesmo tempo?” , este respondeu: “essa é fácil,
você se colocará em pé em uma das margens e na outra colocaremos um
vidro espelhado que possa refletir sua imagem”.
A princesa aceitou o
desafio e foi até o rio , colocou o vidro espelhado em uma das margens
apoiado numa pedra , atravessou para a outra costa , ficou em pé tentando fazer
coincidir sua figura com o reflexo e
quando isto aconteceu um grupo de pássaros saíram de uma arvore fazendo um reboliço
em claro sinal que a primeira prova estaria cumprida.
Ela começou a caminhar em direção ao palácio, mas Cupido
falou ao seu ouvido, vem comigo me acompanha que tem algo que te mostrar, ele a
levou até uma arvore que tinha sido derrubada por uma tempestade um tempo atrás
e que estava deitada no meio de um vale, indicou pra ela atravessá-la andando desde a raiz até a copa como tinha
sido sugerido pela deusa e quando isto sucedeu novamente um movimento de
pássaros deram o sinal que a segunda parte do desafio estaria sendo cumprida.
Faltaria ainda o último e derradeiro desenlace para a
princesa reencontrar ao seu amado.
A princesa orientada por Cupido vai até a beira do largo dos
mortos e mergulha nele , chega até o fundo e visualiza o tambor e a baqueta
sagrada embaixo do tronco de uma arvore que estava submergida, consegui pegar nos objetos sagrados mas não teve oxigênio suficiente para voltar ao mundo real e morre .
Cupido se desespera e vai pedir a deusa Isis que por favor devolva a
vida a Sofia e Horacio mas ela argumentou que embora ela seja deusa
também do nascimento e da vida que o único que poderia fazer e permitir
que os dois se encontrem no Edem e assim seu amor se tornaria eterno.
Cupido aceita a proposta da deusa Isis e a partir
de então Sofia e Horacio se
encontraram no céu eterno onde vivem felizes até os dias de hoje.