Yasushi Inque
O Castelo de Yodo
Existiu uma época no período Edo onde expressar abertamente um
sentimento era considerado vulgar.
Quem acompanha meu blog teve, nas ultimas publicações, um panorama mínimo de quatro autores fundamentais da literatura japonesa: Falamos sobre o conto poético de Yasunari Kawabata “A Dançarina de Izu”, do romance intimista “O Portal” de Natsume Sōseki e da obra de Tanizaki : “A gata, um homem e duas mulheres” e “o cortador de Juncos”.Já tínhamos comentado o livro de Yasushi Inque “O fuzil de caça”, um romance atual no qual, um triangulo amoroso é narrado desde três perspectivas diferentes; do mesmo autor hoje vamos falar sobre o romance épico: “O Castelo de Yodo”.
O livro.
Basicamente
estamos ante um retrato histórico da aristocracia japonesa do século XVI a
historia é narrada desde a perspectiva feminina de uma princesa, a descrição
ganha em detalhes sobre a vida da época, os sentimentos e a fúria na qual
conviviam submetidos e dominadores.
O nome do livro.
O título em português é “O
castelo de Yodo”.
Chacha ao aceitar ser concubina do algoz da sua família solicitou
que Hideyoshi construiria um castelo para ela mesma, isto serviria para, de
alguma forma, compensar suas perdas e por outro serviria como termômetro para
avaliar sua influencia sobre seu futuro cônjuge.
Yodo é o nome do lugar onde foi construído o castelo. No romance
Chacha também é conhecida como a “a dama de Yodo”.
O título japonês O diário de Yodo-dono
faz menção aos diários escritos por nobres. Além da curiosa referência
histórica, a idéia de que o romance é o diário de Chacha, e podemos
considerá-lo, foi uma intenção precisa no quesito do protagonismo ser feminino.
O contexto histórico.
Japão, século XVI, O livro relata um momento no qual
se sucederam três lideranças. Período
Azuchi-Momoyama (1573-1603) o general Toyotomi Hideyoshi, que servira Nobunaga,
sucedeu seu antigo senhor.
Chacha princesa
de alto escalão acaba virando concubina de Toyotomi Hideyoshi, o
homem que matou sua família e tornou-se após a morte de Oda o homem mais
poderoso do Japão, com ele tem um filho chamado Hideyori, no final do relato o romance narra à luta
de Chacha para que Hideory fosse o sucessor do pai, mas as forças de Tokugawa
derrotaram o clã de Hideyoshi, levando a morte de Chacha e de Hideyori, seu
filho.
A poesia e a barbárie no texto.
O tom poético, elemento importante da literatura
japonesa, fica por conta dos momentos íntimos, dos pensamentos e da
contemplação da natureza.
Ao contrario o lado atroz o encontramos na crueldade
com que são tratados os prisioneiros de guerra, quase sempre exterminados de
forma fria e sádica. Muitas vezes obrigados a cometerem suicídio em um ato
chamado seppuku.
Aqui alguns exemplos destes dois sentidos:
Do sentido poético.
Na infância de Chacha ocorre uma cena curiosa: Um
pintor fazia um retrato de seu falecido pai , o artista ia e voltava com
resultados parciais, a mãe esperava ver o olhar sereno de seu defunto esposo na
pintura, Sacha ao contrario não encontrava no esboço o olhar severo de seu pai.
Mãe e filha ponderam sobre qual das imagens pessoais se aproxima mais do
verdadeiro.
Outro exemplo do poético no texto o encontrou quando a
mãe de Chacha e seu conjugue sofrem um ataque militar no seu castelo e se
preparam para a cerimônia do suicídio. Ela escreve: “Na já sonolenta noite de
verão/ ao caminho dos sonhos/ convida o rouxinol. E seu marido responde:” Na
triste noite de verão/leva minha amada/ pelo caminho dos sonhos/À fonte das
neves/Ó rouxinol das montanhas”.
Do sentido desumano.
As descrições sádicas incluem cortar cabeças e colocar-las
como enfeite nas festas, incendiar, destruir e exterminar.
Um outro exemplo de uma violência desnecessária o
encontramos na passagem na qual um guerreiro chamado Morimasa estava sendo
especialmente procurado durante o período de guerras, ele sempre conseguia
atacar e fugir sem poder ser localizado.
Um grupo de 12 camponeses consegue prender o
combatente e quando entregam o prisioneiro ao Hideyoshi este manda crucificar
os camponeses por terem se envolvido em historias de samurais, que não lhe
diziam respeito.
As historias paralelas.
A diferença de um conto, um romance longo como este, narra uma
historia e ao mesmo tempo tece uma infinidade de historias secundarias.
Neste livro temos, por exemplo, a historia das irmãs da ChaCha,
a de seus amores platônicos, a relação dela com as outras concubinas em
especial com sua prima Kyogoku e com a esposa oficial de Hideyoshi: Kitanomandokoro
.
A luta para engravidar e a morte do seu primeiro filho.
A sua eterna solidão ao ser uma mulher em um sentido prisioneira
luxuosa de um dono todo poderoso.
As imagens que a perseguem e torturam desde a infância quando
teve que sair da sua casa no meio das chamas.
As cerimônias, as festas e os rituais pomposos da sua vida
aristocrática.
Os cortejos.
Uma coisa que surpreende é a magnificência dos cortejos, vamos
citar um deles: “O cortejo avançava lentamente na brisa de maio. Em duas
fileiras , vinham 300 baús; logo atrás, homens carregando espadas, lanças e
fuzis. Os vassalos traziam mantos vermelhos e punhais. Em seguida vinham cães
vestidos de brocado...”
Final.
Neste romance épico estão reunidos também todos os ingredientes
para um grande afresco histórico.
Yasushi Inque descreve como o era o estatuto das concubinas, o
estilo de vida da aristocracia, as tradições guerreiras, a política, a
cerimônia do chá e até o belo ritual da florada das cerejeiras.
O Castelo de Yodo é um mosaico de uma época na qual uma mulher
tece o percurso de três unificadores, recomendo esta bela ficção inspirada em
fatos reais.
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