quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Eça de Queirós

Eça de Queirós
A cidade e a  Serra
A civilização é apenas um monte de entulho.



O grande escritor português (século XIX) com ironia e bom humor nos apresenta um personagem
esquisito. Um príncipe, entediado e melancólico que se rodeia de livros que não vai ler , de aparelhos "modernos" que servem para muito pouco e de um mundo de aparências que o conduze ao desinteresse pela existência.
 Jacinto, é o seu nome, ele some nessa batalha desesperada pela fama, pelo poder ou pelo gozo!Ele mora numa cidade na qual  milhões de seres caprichosos  padecem da mesma desilusão, desesperança ou derrota, uma cidade onde os modismos mandam nas mentes!. Mas o que a Cidade mais deteriora no homem, diz o autor, é a Inteligência, porque ou lha arregimenta dentro da banalidade ou lha empurra para a extravagância.
Jacinto ri do Deus Cristão e o substitui pela civilização, num trecho ele diz:
"Um cão lambendo a mão do dono, de quem lhe vem o osso ou o chicote, já constitui toscamente
um devoto, o consciente devoto, prostrado em rezas ante o  Deus que distribui o  Céu ou o Inferno!... Mas o telefone! O fonógrafo!”.
Ainda sobre o tema do Cristianismo ele faz uma referência explícita à Bíblia, ridicularizada como produto de uma cultura judaica-materialista, quando o narrador tenta convencer o seu Príncipe da realidade concreta do trabalho do campo e diz -: "Olha o que diz a Bíblia! «Trabalharás a terra com o suor do teu rosto!» E o príncipe responde:: dever:ia dizer:- «Contemplarás a  terra com o enlevo da tua imaginação!»".
 Durante o percurso do livro o principie tentando fugir do seu tédio visita umas propriedades familiares na Serra , no interior de Portugal,  leva um choque com a beleza, com o vigor, com a vida do lugar e decide se afincar definitivamente.
O principie passa por toda uma transformação descobre a natureza, o amor e a consciência social.
O próprio Eça relata o se propósito "socialista" e de critica social quando escreve na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro em 23 de Abril de 1895 («Enganados pela ciência, embrulhados nas subtilezas balofas
da economia política, maravilhados como crianças pelas habilidades da mecânica, durante setenta anos construímos freneticamente vapores, caminhos de ferro, máquinas, fábricas, telégrafos, uma imensa
ferramentagem, imaginando que por ela realizaríamos a felicidade definitiva dos homens e mal antevendo que aos nossos pés e por motivo mesmo dessa nova civilização utilitária se estava criando uma massa
imensa de miséria humana, e que, com cada pedaço de ferro que fundíamos e capitalizávamos, íamos criar mais um pobre!»).
Para finalizar penso que Eça de Queiroz se realiza poéticamente quando descreve a Serra com a suas paisagens bucólicas e é na Serra onde ate descobre seu lado "místico", um Deus que se funde com a Natureza.
Eça realiza seu projeto de ridicularizar o progresso técnico, embora o seu alcance efetivo diga
antes respeito à ociosidade endinheirada e ao conceito de civilização como «entulho».



Nenhum comentário:

Postar um comentário