O espelho (Conto de Papéis Avulsos), de Machado de Assis...ainda tem The Flash & Jorge Luis Borges.
Machado de Assis escreveu uma espécie de
"teses filosófica" dramatizada num conto formidável e bem humorado.
Inicie-me na
literatura com os livros da coleção Robin Hood, com A historia do homem
primitivo, Pinochio, A ilha do Tesouro de Stevenson; com os contos de Tom
Sawyer de Mark Twain
Estes relatos com a suas narrações fantásticas povoaram a minha imaginação infantil...
Mais tarde entre os meus colegas começou uma verdadeira febre por ler e colecionar gibis de super- heróis, revistas em quadrinhos editadas pela DC comics, estas incluíam aventuras de Superman, Batman, Flash.....justamente este ultimo, por momentos, era escrito por roteristas primorosos. Lembro de uma historia que, de algum modo, nos remete ao conto do Machado de Assis:
Resulta que Flash, com seu poder de super velocidade, tinha conseguido salvar o ursinho de uma menina no momento que o brinquedo estava caindo num
despenhadeiro, ele o resgatou do abismo são e salvo e o entregou nas mãos da criança. Ela agradecida e prometeu que ele nunca sairia da sua memória.
Um tempo depois um arqui-enemigo do Flash soltou um feitiço pelo qual todas as pessoas esqueceriam do super-heroi e com isso teria inicio o seu enfraquecimento e em conseqüência a sua morte.
Flash a partir de então começou a sentir que ninguém olhava pra ele e que a profecia se estava cumprindo.
Desolado vagou por toda a cidade passando, literalmente, desapercebido e em conseqüência,cada vez mais, debilitado começou a adoecer.
Quando de repente se lembrou daquela menina e de seu juramento de gratidão....foi a seu encontro e ela imediatamente o reconheceu devolvendo a sua força impedindo, de este modo, que seu arquiinimigo pudesse vence-lo.
-0-0-0-0-0-0-0-0-0-
segura também em objetos, propriedades ou símbolos de poder e em conseqüência como ele se deixa construir e se afirmar de fora de si mesmo..
-0-0-0-0-0-0-0-0-0-
-
O Conto em questão.
Machado de Assis ironizando o "pensamento"
cristão sobre a existência da alma humana, formula a teses que o homem tem duas
almas, uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro, em
outras palavras: uma "interna", a alma espiritual e outra "alma
externa" que se alimenta de nossas imagens, da representação
que os outros tem da gente, ou de algum conteúdo externo que seja importante de
forma vital e definitiva; ele cita, a forma de exemplo, a fala de um personagem
do "Mercader de Veneza" do Shakespeare na qual o Judeo Shylock afirma
que a perda do seus ducados equivalia a morrer.
Jacobina, é o nome do narrador, define que há casos
em que essa mesma alma exterior pode se perder, o que implica para o indivíduo
em perder metade de sua existência, Jacobina conta uma história para provar sua
teoria, conta um caso ocorrido em sua juventude que lhe serviu de atestado para
a veracidade de sua teorização posterior.
Depois de uma infância
pobre, Jacobina conta que foi nomeado alferes da Guarda Nacional e que tal fato
desencadeou reações de enorme proporção, tanto pela sua família quanto para os
demais cidadãos. Quando foi passar algum tempo com sua tia, esta lhe cobriu de
regalias como prova de seu orgulho perante a patente conquistada pelo sobrinho.
No início, Jacobina relutava contra os bons tratos da tia e o privilégio de
assistência que lhe cerceavam todos na casa; belo dia a dona da casa trouxe para
seu quarto um grande espelho, muito belo proveniente da Família Real
Portuguesa.
Desse modo, a percepção
que Jacobina passou a ter de si mesmo foi elaborada por aqueles exteriores ate
ele terminar acreditando nessa ficção como quando coloca a famosa frase:
“O alferes eliminou o homem".
Posteriormente,
tendo a tia saído em viagem o alferes decide fitar o espelho e logo se
depara com o reflexo de uma imagem difusa, corrompida. O vidro, cuja função é
tão-somente a reflexão de um objeto em sua porção exterior, exibiu o quanto a
identidade de Jacobina estava danificada em razão da ausência dos outros. A
falta de reconhecimento de si mesmo diante do espelho levou o personagem a
negar aquela imagem em busca de uma forma para enxergar a si mesmo com nitidez.
Surge-lhe, então, a idéia de se vestir com a farda de alferes: desta vez pôde
ver com clareza os contornos, as formas e os detalhes como nunca. Permaneceu se
admirando com júbilo todos os dias restantes buscando evitar a solidão e a
idéia de se ver distante de sua patente,recuperando, enfim, sua alma exterior
que preenchia sua alma verdadeira.
A propósito de este assunto
Jorge Luis Borges falava
Al otro, a Borges, es a quien le ocurren las cosas. Yo camino por Buenos Aires y me demoro, acaso ya mecánicamente, para mirar el arco de un zaguán y la puerta cancel; de Borges tengo noticias por el correo y veo su nombre en una terna de profesores o en un diccionario biográfico. Me gustan los relojes de arena, los mapas, la tipografía del siglo XVII, las etimologías, el sabor del café y la prosa de Stevenson; el otro comparte esas preferencias, pero de un modo vanidoso
que las convierte en atributos de un actor. Sería exagerado afirmar que nuestra relación es hostil; yo vivo, yo me dejo vivir para que Borges pueda tramar su literatura y esa literatura me justifica. Nada me cuesta confesar que ha logrado ciertas páginas válidas, pero esas páginas no me pueden salvar, quizá porque lo bueno ya no es de nadie, ni siquiera del otro, sino del lenguaje o la tradición. Por lo demás, yo estoy destinado a perderme, definitivamente, y sólo algún instante de mí podrá sobrevivir en el otro. Poco a poco voy cediéndole todo, aunque me consta su perversa costumbre de falsear y magnificar. Spinoza entendió que todas las cosas quieren perseverar en su ser; la piedra eternamente quiere ser piedra y el tigre un tigre. Yo he de quedar en Borges, no en mí (si es que alguien soy), pero me reconozco menos en sus libros que en muchos otros o que en el laborioso rasgueo de una guitarra. Hace años yo traté de librarme de él y pasé de las mitologías del arrabal a los juegos con el tiempo y con lo infinito, pero esos juegos son de Borges ahora y tendré que idear otras cosas. Así mi vida es una fuga y todo lo pierdo y todo es del olvido, o del otro.
No sé cuál de los dos escribe esta página.
Nenhum comentário:
Postar um comentário