domingo, 22 de setembro de 2019

Gustav Meyrink: “O Golem”.


Gustav Meyrink: “O Golem”.


Um livro de 1915  muito moderno no estilo, a voz do narrador ocupa lugares diferentes quase que  o tempo todo. Um pré anuncio do expressionismo alemão.   Inspirador seguramente do filme “O Dr. Caligari” de 1920 e o “Golem” de Carl Boese e Paul Wegener e mito precedente até do Frankenstein.

https://youtu.be/FkNbj6jJkFw

Borges diz sobre o livro: ”Meyrink como Lewis Caroll sabe que a ficção  esta feita de sonhos que encerram outros sonhos”.

Sobre o autor.                                   

Meyrink nasceu em Viena em 1868, em 1902 (aos 24 anos) tentou suicídio,  no momento derradeiro, alguém abandonou na sua porta um folheto titulado “A vida final” e isso o salvou., aos 36 escreveu “O Golem”  imerso nos estudos cabalísticos e no budismo e nas tradições esotéricas.

O titulo.

O titulo faz referencia ao Golem embora, na realidade o livro deveria se chamar: “Os sonhos de Athanasius Pernath”. A presença do Golem apenas serve como fundo, introduzindo  ambiguidade e  mistério ao enredo.
O Golem é uma lenda clássica da tradição judaica, uma figura de barro que toma vida depois de receber o segredo nome de Deus de parte de um cabalista, aqui no livro o Golem aparece nas ruas do gueto de Praga cada 33 anos, ele mora num quarto sem acessos onde só tem uma janela com grades.

O livro.                                                     

O romance começa com imagens livres e a narrativa vai se construindo em um clima de sonhos e irrealidade.
Uma ponderação tirada da vida de Buda faz o protagonista refletir: Buda sentia uma impressão quando um aluno seu o abandonava como algo similar ao que ocorre quando um pássaro se aproxima de algo que parece um pedaço de carne e se afasta ao perceber que na realidade era uma pedra.
O clima todo é de enigmas: o protagonista por momentos sente que seu corpo realiza atos involuntários e por momentos assiste narrações e cenas que indicam a presença viva do Golem. Por momentos se comporta como se ele mesmo fosse o Golem.
O argumento é centrado na vida do protagonista: Athanasius Pernath. Ele é um artesão de jóias, tem menos de 45 anos e para ajudar a esquecer algo traumático seu passado ficou apagado depois de uma sessão  de hipnotismo. A trama descreve suas desavenças (vai preso) , seus amores e o dia a dia dos personagens  do gueto judeu.
Pernath  tem na figura de Hillel um maestro espiritual . O protagonista se apaixona por Miriam filha de Hilllel. Tem também no relato a presença de Wassertrum, odiado pelo seu filho Charousek. Wassertrum  envolve  o protagonista num delito que ele não  cometeu, a saída da cadeia e o reencontro com a realidade determinam o destino do protagonista.

Sonhos que encerram outros sonhos.

O curioso da historia é a presença de outro Athanasius Pernath o que produz um jogo de realidades paralelas que torna a narração original.
Inclusive existe uma comparação muito interessante entre o mundo interior do Pernath e o quarto onde morava o Golem, como se ele quisesse olhar para dentro de si mesmo ao igual que teria vontade de olhar para dentro do quarto do Golem.

Recursos literários.

Alem desse jogo de narradores que assumem o relato uma das ferramentas da arte literária e abrir espaços para imagens poéticas , aqui o autor faz uma comparação entre o vento agitando papeis e as forças do destino -“Uma vez estive olhando numa praça como o vento fazia que  papeis corressem girando como loucos se jurando a morte. Um momento mais tarde pareciam calmos. Me vem uma obscura suspeita : que aconteceria se as  coisas da vida fossem semelhantes a esses papeis”.
Outra das ferramentas do autor foi a de inserir historias paralelas fora do percurso central, aqui o caso: “A historia do advogado Dr Hulbert e seu batalhão”.
A historia que interrompe o roteiro conta a historia do  Dr Hulbert. Ele adorava sua bela esposa, quando esta se apaixonou de um estudante que ele tinha acolhido, o Dr perdeu a cabeça e virou mendigo. Começou a se juntar com outros moradores de rua e a defendê-los graças a seu conhecimento das leis.
A turma que seguia a Hulbert  ficou conhecida como “o batalhão” e quando o Dr. morreu deixou como testamento a tarefa de dar um prato de sopa para cada membro do seu grupo.
Também atravessam a narração central a historia do perverso Dr Eaaory que enganava a seus pacientes tirando dinheiro com um falso diagnostico. Quando foi descoberto cometeu suicídio.

Final.

Um conto fantástico com recursos narrativos avançados,  no fundo uma historia  lendária  inserida num relato enigmático .
O “acaso” satisfazendo  seus mágicos anseios permitiu o encontro . Sinto-me grato por ter sido apresentado ao Meyrink.

Recomendo  a resenha  de:  Carlos Caranci Sáez, Alejandro Gamero e de Jorge  Luis Borges.











        

    



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