terça-feira, 13 de abril de 2021

Paul Cézanne.

Paul Cézanne. O século XIX na França foi muito enriquecedor: teve duas revoluções, teve poetas como Charles Baudelaire , pensadores como Friedrich Nietzsche, teve músicos como Claude Debussy mulheres como Flora Tristán e artistas plásticos como Paul Cézanne. Em um livro que inclui cartas de Cézanne a diferentes amigos como Émile Zola e Baptistin Baille nos aguardam assuntos pessoais, intimidades, mas também muitas pérolas que podem nos fazer refletir sobre a arte, o trabalho, o homem, em fim muitas questões que nos podem inspirar e ajudar a conhecer a personalidade deste grande artista. Cézanne nasceu em 1839 , era um trabalhador da arte, embora se acuse a si mesmo de ser um preguiçoso e um beberrão. Foi humilhado por não se encaixar nos padrões estéticos da época e teve seus quadros rechaçados por diversos salões ao longo da sua vida o que nunca debilitou sua busca por uma arte de excelência. Ocorria que existia uma estética “oficial” que orientava a educação e definia quem poderia expor nos Salões onde as pessoas poderiam apreciar as obras de arte e os burgueses comprarem os quadros. Como Cezánne tinha sua própria busca e não pintava nem na mesma direção dos clássicos nem dos impressionistas ficava como uma personalidade fora dos moldes e por isso afastado das exposições e invisível ao publico.
A precariedade material do protagonista ajuda a criar um clima pesado porque o pai do Cézanne tinha intenções de que ele seja um advogado e por conta da sua escolha artística não sustenta sua trajetória material. Quando seu pai morreu deixou uma fortuna para Cézanne, ele tinha 47 anos já. Seu amigo, o escritor Émile Zola, descreve a um personagem numa de seus romances como um sujeito infeliz e frustrado, o que acaba colocando a Cézanne na situação de achar que era ele que estava sendo descrito no texto como um fracassado. Este motivo afastou aos dois amigos ao longo da suas vidas. Este livro de correspondências mostra a luta de Cezánne para construir sua carreira como artista, suas inquietações pessoais sobre arte e muitas ideias que embora fossem escritas no meio de narrações pessoais podem ser pinçadas e apreciadas como matéria inspiradora. Nas cartas do Zola, por exemplo, encontramos também reflexões encantadoras e observações sobre o comportamento humano. Isso ocorre, por exemplo, quando Zola escreve para seu amigo Baille em 1859 falando sobre como o mundo masculino desdenha da sensibilidade: “Se brincamos assim com os vasos de nosso altar, se nos empenhamos em demonstrar a todos que nada valemos, creio que é antes por amor próprio que por maldade inata...Quem confessa um amor platônico no colégio - isto é uma coisa santa é poética-.não seria tratado de louco?”. Em outro momento do livro numa carta de Zola a Cézanne este diz em relação à ansiedade de Cezánne de ver sua obra exposta nos Salões: “Com dois amores no coração, o da mulher e o do belo, seria um grande erro desesperar-se”. Em outra carta de Zola ele diz:”Há no artista dois homens, o artista e o operário. Nascemos poeta, nos tornamos operário”. Aqui outra afirmação de Zola sobre o lugar do artista, ele se coloca contra o artista aceitar viver de forma humilde em troca de aplausos ou em outras palavras que ele apenas estaria procurando por a gloria, em relação a este tema ele diz: “Ele (o artista) pega sua lira na solidão, perde de vista o mundo, e só vive no mundo dos espíritos”. Aqui Cezánne escreve para sua mãe sobre como ele lida com a admiração alheia: “Tenho que trabalhar não para alcançar a admiração dos imbecis, devo pintar pelo prazer de ser mais sábio e verdadeiro”. Numa outra carta a Zola falando sobre como o tempo dedicado ao trabalho é sublime ele diz: “O tempo dedicado ao trabalho é o único refugio onde se pode encontrar a real satisfação”. Falando sobre pintura e sobre a luz em muitas ocasiões fez referencia ao sol e à natureza. Em um momento ele escreve a Charles Camoin: “Depois de olhar os grandes mestres da pintura, é preciso sair de pressa e vivificar em si mesmo, em contato com a natureza, os instintos e as sensações artísticas que residem em nós”. Na sua busca pelas cores frequentemente Cézanne faz referencia ao cinza, ao azulado, ao amarelo e ao vermelho. Fala muito sobre sentir nossas vibrações em relação à coloração. De algumas das suas descrições sobre este tema destacamos esta que ele escreve a Émile Bernard: “O literato exprime-se com abstrações, ao passo que o pintor concreto o faz por meio do desenho e da cor, suas percepções , suas sensações”. Por ultimo em relação com a admiração a um mestre ele diz numa carta a Charles Camoin: “Seja qual for seu mestre preferido, deve ser pra você apenas uma orientação. Sem isso você seria apenas um imitador. Com um sentimento de natureza, qualquer que fosse ele, e alguns dons favoráveis, conseguirá se desprender. Sua própria emoção acabará por emergir e conquistar seu lugar ao sol”. A pintura de Cézanne. Cézanne olhava para o mundo e enxergava formar geométricas, uma arvore era um cone e uma cabeça uma esfera. Olhava uma mesma cena desde várias perspectivas, gérmen do que seria em Picasso a ideia inaugural do cubismo. Cézanne pintava cores nas suas naturezas mortas, nos retratos ou nas paisagens o que aparece são líneas em movimento, cores, tonalidades e intensidades. Algo que o coloca como um Neo primitivista. Sobre sua obra publicou Hajo Duchting: “ os impressionistas sacrificaram todo à interpretação da luz, Cézanne cambia este sistema ao fazer a interpretação da luz uma forma de interpretar o espaço. Utilizó el color para representar la luz y sugerir volumen, mientras que con la correcta interpretación de los tonos consigue crear las formas”. Dois anos antes de morrer, Cézanne resumiu seu trabalho como artista numa carta ao seu amigo Louis Aurenche, dizendo: “Você fala da minha realização na arte. Entendo que tento dia a dia, laboriosamente. O conhecimento das formas de expressão de nossas emoções não é menos essencial, e só se pode adquirir a través de uma muito longa experiência”. Cezánne acreditava que o desenho devia resultar da harmonização das cores, isto é, das correspondências entre elas e da passagem de umas às outras. A figura, para Cézanne, é tributária da cor e só ganha consistência através dela. Ele desconsiderava todos os procedimentos clássicos da pintura: delimitação das cores pelos contornos, o ponto fixo da perspectiva, a composição da tela e distribuição da luz. Bernard via nisto o suicídio de Cézanne: visava à realidade, mas recusava os meios para alcançá-la. Para Cézanne o único meio admitido para encontrar o objeto era a própria impressão. De forma paradoxal o artista que praticamente pintou cenas da natureza e retratos é considerado mestre do simbolismo e da arte moderna pela sua postura ativa frente à realidade. Comentários sobre suas obras. Cézanne frequentava o museu do Louvre, mas acreditava mais no que ele sentia frente a uma imagem, no que poderia dizer sobre isso, que na influencia de um mestre. Estas impressões estão presentes na expressividade e nas cores que ele usava. A suas perspectivas próprias e suas formas criaram rejeição no mundo acadêmico. Em 1870, o Salão rechaçou seu retrato de Achille Emperaire, por entender que era inaceitável ao não respeitar a perspectiva nem a anatomia julgá-lo “no limite o grotesco”. _"La_Vieille_au_chapeletEste" é um retrato de uma senhora idosa, a cor azul, o cinza e o dramatismo de sua expressão são algo realmente importante de resaltar. É também algo para ser comentado que Cézanne demorava muito em cada quadro, em este demorou 18 meses. O terfeiro quadro com suas múltiplas perspectivas o pintor anuncia o que seria o Cubismo. O quadro das banhistas certamente inspirou o clássico quadro de Picasso “Les Demoiselles d'Avignon”. Picasso chegou a afirmar: Meu maior mestre foi Cézanne.

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