terça-feira, 22 de março de 2022

TÓKIO BLUES

Tókio Blues. (Norwegian Wood). De Haruki Murakami. A literatura japonesa tem grandes escritores, teve a sorte de ler “O Castelo de Yodo” de Yasushi Inque e de conhecer os contos de Tanisaki, um artista sensível e discreto. Tive contato com “O portal” de Natsume Sōseki e “A Dançarina de Izu” o conto poético de Yasunari Kawabat. Nenhum deles aparece como um artista superior para a história da literatura oriental.
Na contramão Haruki Murakami é apresentado como o maior escritor japonês. Algo que realmente parece uma jogada de marketing . O autor tem talento para narrar, mas a mescla gratuita de cenas de sexo e morte nos apresenta os ingredientes de um betseller, não de uma obra literária de excelência. Tókio Blues é uma espécie de romance erótico e de literatura B onde se alternam cenas de doenças mentais com confecções psicológicas, bebida e erotismo. As páginas alternam temas ligados com a morte com uma cena pornô em um abrir e fechar de olhos. Numa das falas de Midori (um personagem feminino adorável) quando avisa a Watanabe que seu pai tinha morto convida ele para ver um filme erótico como se se pudesse passar de um tema a outro sem mais. O assunto central é o mundo interior e as diferentes experiências de um jovem de menos de 20 anos, suas aventuras amorosas, suas fantasias sexuais e as mobilizações sociais num mundo impregnado de ideias revolucionárias que explodiram no maio francês. O autor de forma subliminar crítica qualquer tipo de ideia de esquerda ou qualquer comprometimento político. O protagonista é Toru Watanabe acaba de chegar aos seus 37 anos em Hamburgo (Alemanha). Quando escuta uma versão orquestrada da canção dos Beatles "Norwegian Wood", de repente lembra cenas da sua juventude e assim começa o relato. Watanabe com seu amigo Kizuki e Naoko formam uma espécie de triângulo amoroso. Kisuki se suicida, Naoko sofre um trauma psicológico e começa a desenvolver uma relação amorosa com o protagonista. Nagasawa é outro dos amigos de Watanabe, um jovem com talento e com uma sede de aventuras sexuais que levam Watanabe a mergulhar na noite de Tókio em busca de bebidas e sexo. Reiko, amiga de Naoko, introduz um relato dentro da trama. Ela tem um monologo de tipo confessional onde altera frustrações artísticas, doença mental, cenas de pedofilia, sexo lesbiano e difamação. O autor em um sentido repete o clima confessional do “O Grande Gatsby” de Scott Fitzgerald e mais que nada de “O apanhador no campo de centeio” de Jerome David Salinger; este sim é o livro pioneiro de levar para a literatura em 1951 o mundo interior de um adolescente em tom de confissão, de sessão terapêutica, o relato de Sellinguer nos convida a olhar o mundo detrás dos olhos do Holden, seu protagonista, assim como Tokio Blues de 1987 nos convida a olhar a vida desde Watanabe, o narrador. Um mundo de estudantes cheio de cenas de masturbação e cerveja. O texto parece querer ser provocador descrevendo cenas muito obscenas no comportamento da personagem Midori , cenas que estão no limite do mau gosto. Uma pena que um escritor que sabe narrar, que têm ofício recorra a golpes baixos para popularizar sua literatura. Apesar dos excessos pornográficos imperdoáveis o Murakami se realiza como um grande narrador e um artista sensível no final do livro. A sensação que temos ao acabar o livro é que Murakami adora música, adora contar histórias, traz para o cotidiano uma relação com a morte e com o sexo que acaba aliviando um pouco toda sua obsessão pelo erótico .Ao mesmo tempo sua queda pelas situações envolvendo suicídios e mergulhos no alcoolismo é recorrente e dialoga com o que podemos chamar de “golpe baixo”. Hoje Murakami é considerado um astro da literatura mundial, seus livros estão sendo levados ao cinema com muito sucesso e seu amor pela música está se desdobrando em um programa radial onde ele expõe seu bom gosto musical transitando tanto pela Bossa Nova como pelo Jazz de qualidade. Tokio Blues é uma aventura literária que vale a pena.

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