O jardim das
sendas que se bifurcam
Publicada em
1944 dentro do livro intitulado Ficções a obra tem um prólogo do próprio Borges
onde comenta, “el jardin de los senderos
que se bifurcan” É um policial, seus leitores poderão assistir a uma execução e
a todos os preliminares de um crime do qual não ignoram o propósito mais nada
poderão compreender , eu acho, até o último parágrafo .
O argumento
No conto
encontramos a um Borges filosófico que coloca questões relativas ao tempo
dentro de um contexto de romance policial (como ele mesmo citou) ou se preferem
de um conto de suspense e espionagem onde parece que tudo esteja determinado como
em uma espécie de destino fatal do qual ninguém pode sair.
Primeiro
Relato
Yu Tsun, espião oriental ao serviço dos
alemães durante a primeira guerra mundial, foi descoberto pelo seu rival, o
capitão inglês Richard Madden.
Yu Tsun foge
para tentar fazer chegar ao seu chefe em Berlin o seu ultimo serviço de espião,
revelar o nome do lugar onde se encontra o novo parque de artilharia britânico
sobre o Ancre.
Para tentar
transmitir a informação Yu Tsun viaja, desde Londres a um lugar perto de
Ashgrove, na casa do doutor Stephen Albert.
A escolha da
visita tem algo de acaso mais a ideia seria matar a Stephen Albert para que o seu
nome, que coincide com o nome do lugar onde fica a artilharia, seja publicado
nos jornais e assim o seu chefe em Berlim possa receber a informação publicada a
partir de um acordo de códigos que eles tinham prefixado.
Segundo
Relato
Yu Tsun
tinha escolhido ao acaso, na guia telefônica o nome de Stephen Albert para
cumprir sua missão mais quando chega a casa dele para executá-lo descobre que, Stephen
Albert ha dedicado sua vida a descobrir o misterioso sentido de uma obra genial
de T’sui Pên , antepassado do próprio Yu
Tsun ,“O jardim das sendas que se bifurcam” que consta de um romance e de um labirinto.
Albert (um erudito) lê revela ao Yu o fim de seus avanços sobre o romance e o labirinto,
comenta como o livro que seu antepassado escreveu ficou incompreendido por
conta do desconhecimento de uma clave (sugerida pelo labirinto) .
Yu Tsun,
ameaçado pelo seu carrasco e decidido a cumprir a sua missão mata a Stephen
Albert, o crime ganha a esperada
notoriedade , consegue ser publicado e assim transmitir a mensagem para os
alemães que com a informação em mãos destroem o parque da artilharia inglesa.
O verdugo de
Yu Tsun, o capitão Richard Madden finalmente prende ao espião assassino e o
romance chega ao fim.
Algumas
questões ligadas ao tempo
Numa
determinada ocasião Yu Tsun refletiu sobre a determinação de realizar o ato
atroz que teria que cumprir e diz, “O
executor de una empresa atroz deve imaginar um porvir que seja irrevogável como
o passado”. Aqui temos três momentos: passado-presente-futuro, que o
protagonista, Yu Tsun, há de viver. Borges coloca na consciência presente do
personagem o futuro como um passado sem volta. O futuro como algo irrevogável
ou fatal.
A segunda
questão que podemos citar é quando o Stephen Albert (o erudito) descreve a obra
de T 'sui Pên ao Yu Tsun, o autor teria se retirado da suas ocupações e depois
de 13 anos para escrever um livro que ninguém entende e constrói um labirinto
que ninguém vê.
Se descobre
que o labirinto é apenas uma clave, algo imaterial ligado a uma noção de tempos
que se bifurcam e assim a obra seria elucidada a partir de um caos narrativo
aparente que incorpora possíveis encontros ou possibilidades que possam se dar
na vida de uma pessoa.
Num relato normal uma pessoa pode brigar,
viajar, morrer, ir ou não para algum lugar , agora pensemos que todas estas
chances possam acontecer no texto, que não se eliminem entre sim. Pensemos a
partir deste conceito de probabilidades múltiplas do tempo e que isto seja a chave para ler um
romance reproduzindo a multiplicidade e
não um seqüência dos fatos .
Aqui Borges esta
encarando uma discussão filosófica para falar sobre o tempo como algo não
linear, não como algo uniforme e absoluto ( como o pensavam Newton e Schopenhauer
) se refere ao labirinto imaterial criado pelo T 'sui Pên nestes termos “ Pensei
num labirinto , em um sinuoso labirinto crescente que abarca o passado e o
porvir”.
Agora vou
citar um trecho do livro para colocar melhor a questão, “Acreditava em infinitas series de tempos, em uma rede crescente e
vertiginosa de tempos divergentes, convergentes e paralelos. Essa trama de
tempos que se aproximam se bifurcam , se cortam ou secularmente se ignoram, abarca todas as
possibilidades. Não existimos na maioria destes tempos, em alguns existe você e
não eu; em outros eu, mais não você; em outros , os dois.
Em este, que um favorável azar me
depara, você há chegado à minha casa; em outro, você ao atravessar o jardim, me
encontrou morto; em outro eu pronuncio estas mesmas palavras, mais sou um erro,
um fantasma”.
Vemos como
essa idéia de labirinto esta orientando uma possível narração onde podem entrar
muitas opções ou desenlaces de um fato, daí a incompreensão do texto do T 'sui
Pên.
Como vemos
em todas as ficções cada vez que um homem se enfrenta com diversas
alternativas, opta por uma e eliminam as outras, na do T 'sui Pên, opta simultaneamente por todas.
Cria assim diversos porvir, diversos tempos que também proliferam e se
bifurcam.
A frase
final, guardada no manuscrito original do T 'sui Pên define também esta perspectiva , “deixou aos porvir (não a todos) meu
jardim de sendas que se bifurcam”.
Muitos
estudiosos e filosofos como Fucault e Delleuze ficaram impactados pelo relato
de Borges e dedicaram estudos e textos que sem ser definitivos alimentam essa
perspectiva circular que o autor propõe com a idéia dos labirintos.
“El jardin
de los senderos que se bifurcan” , uma obra magnifica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário