quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Borges,homem da esquina rosada.

Homem da esquina rosada

Borges tinha algumas obsessões....os tigres, os labirintos, o conto das mil e uma noites, o tempo, o mundo do tango... deste ultimo tema surgem poemas ( o Tango, ”uma mitologia de punhais  lentamente se anula no esquecimento”), letras de músicas  (“Me lembro foi em Balvanera , em uma noite passada, que alguém deixou cair o nome de um tal Jacinto Chiclana”) e este conto magnífico.
Nele se conta uma historia ambientada numa  espécie de Far West argentino, um mundo de “compadritos” (malandros) que vivem se desafiando a ponta de faca sem motivos aparentes só pelo desafio mesmo , no final  para provar quem é o homem mais valente que o outro.
Francisco Real diz  para o desafiado ,“Andam por aí uns loroteiros dizendo que nestas paragens há um, que chamam de Pegador, que tem fama de riscar a faca e de durão. Quero encontrá-lo pra que me ensine, a mim que sou ninguém, o que é um homem de coragem de se ver”.
O tom.
Borges nunca escreve em linguagem coloquial mais neste caso ele se aventura a incorporar palavras e gestos do baixo mundo, dos prostíbulos e dos ambientes marginais de um Buenos Aires suburbano de começo de século XX, em espanhol, “guacha”, “pendejo” (“vagabunda”, “pentelho”)  são expressões que realmente não fazem parte do  vocabulário sofisticado e erudito do autor, mais neste caso respondem a uma lógica , servem  fortalecem o retrato da realidade do lugar,  algo que Cortazar dizia : ‘tem coisas que  tem que ser ditas com as palavras que precisam serem ditas, do contrario ou nada se diz ou não se expressa aquilo que tem ser se expressar’.
A historia.
Um homem é chamado a lutar para medir forças  com um outro  desconhecido, desiste da luta e o vencedor acaba sendo morto por um espectador insignificante (o narrador) que termina sendo o próprio herói do conto.
O ambiente e os personagens.
Parece que o grande assunto do conto é retratar o ambiente, fazer uma pintura da época, o salão de Julia (um bordel),  retratar aos personagens que alimentam a atmosfera,  Francisco Real, apodado O Corralero o desafiante , Rosendo Juárez, conhecido como O Pegador, o desafiado, o narrador central (um jovem insignificante), A Lujanera (uma mulher bela e cobiçada), um músico cego, a lua, o rio, as roupas, os chapéus, o linguajar .
Homem da esquina rosada
O narrador é o homem da esquina rosada, assim como acontece com o personagem central do livro de Dostoievski “memórias do subsolo” ,estamos frente a um personagem sem nome e com rasgos de uma existência insignificante, um homem ressentido de sua pequenez e do seu lugar secundário no mundo, num momento ele fala “como se nem pra catar bugigangas a gente prestasse”.
Mais este personagem miúdo acaba por obra de sua indignação de ver ao seu herói, Rosendo Juárez, humilhado,de ver a La Lujanera , a mulher que todos desejavam nos braços de um forasteiro , toma coragem mata ao desafiante e fica com a Lujanera se transformando assim de um infeliz em num herói ,” Senti depois que quanto mais aporrinhado o bairro, maior a obrigação de ser bravo”. 
Borges diz
 Há quarenta anos cometi a imprudência de escrever um conto titulado O homem da esquina rosada, o tema é este , um desconhecido chega a um bairro longe do seu, um bairro perdido no oeste de Buenos Aires e desafia a outro a duelar com ele.Agora quando escrevi esse conto tive um propósito visual inspirado nos contos de Stevenson e de Chesterton. Pensei que seria curioso aplicar a matéria prima marginal a uma técnica, uma técnica que quer que cada cena tenha a sensação de ser vivida, quero dizer que todas as coisas ocorram como num ballet, (inclusive há pouco tempo se fez um ballet com o argumento do homem da esquina rosada) Agora no conto , precisava que a provocação fosse brusca. E assim O Corralero entra no salão do baile e provoca bruscamente ao líder local que se chama acredito Rosendo Suaréz

O Filme

Existe algins filmes, peças, ballet mais o filme mais consagrado é de 1962 dirigido por René Mugica, o autor muda o roteiro e inclui um motivo para a provocação da briga e um contexto histórico maior.

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