Homem da
esquina rosada
Borges tinha algumas obsessões....os tigres, os labirintos, o
conto das mil e uma noites, o tempo, o mundo do tango... deste ultimo tema
surgem poemas ( o Tango, ”uma mitologia de punhais lentamente se anula no esquecimento”), letras
de músicas (“Me lembro foi em Balvanera
, em uma noite passada, que alguém deixou cair o nome de um tal Jacinto
Chiclana”) e este conto magnífico.
Nele se conta uma historia ambientada numa espécie de Far
West argentino, um mundo de “compadritos”
(malandros) que vivem se desafiando a ponta de faca sem motivos aparentes só
pelo desafio mesmo , no final para
provar quem é o homem mais valente que o outro.
Francisco Real diz para
o desafiado ,“Andam por aí uns
loroteiros dizendo que nestas paragens há um, que chamam de Pegador, que tem
fama de riscar a faca e de durão. Quero encontrá-lo pra que me ensine, a mim
que sou ninguém, o que é um homem de coragem de se ver”.
O tom.
Borges nunca escreve em linguagem coloquial mais neste caso
ele se aventura a incorporar palavras e gestos do baixo mundo, dos prostíbulos
e dos ambientes marginais de um Buenos Aires suburbano de começo de século XX,
em espanhol, “guacha”, “pendejo” (“vagabunda”, “pentelho”) são expressões que realmente não fazem parte
do vocabulário sofisticado e erudito do
autor, mais neste caso respondem a uma lógica , servem fortalecem o retrato da realidade do lugar, algo que Cortazar dizia : ‘tem coisas que tem que ser ditas com as palavras que precisam
serem ditas, do contrario ou nada se diz ou não se expressa aquilo que tem ser se
expressar’.
A historia.
Um homem é chamado a lutar para medir forças com um outro desconhecido, desiste da luta e o vencedor
acaba sendo morto por um espectador insignificante (o narrador) que termina
sendo o próprio herói do conto.
O ambiente e
os personagens.
Parece que o grande assunto do conto é retratar o ambiente, fazer
uma pintura da época, o salão de Julia (um bordel), retratar aos personagens que alimentam a
atmosfera, Francisco Real, apodado O Corralero o
desafiante , Rosendo Juárez,
conhecido como O Pegador, o desafiado, o narrador central (um jovem insignificante),
A Lujanera (uma mulher bela e cobiçada), um músico cego, a lua, o rio, as
roupas, os chapéus, o linguajar .
Homem da esquina rosada
O narrador é o homem da esquina rosada, assim como acontece
com o personagem central do livro de Dostoievski “memórias do subsolo” ,estamos
frente a um personagem sem nome e com rasgos de uma existência insignificante, um homem ressentido de sua pequenez e do seu lugar secundário no mundo, num momento ele fala “como se nem pra catar bugigangas a gente
prestasse”.
Mais este
personagem miúdo acaba por obra de sua indignação de ver ao seu herói, Rosendo
Juárez, humilhado,de ver a La Lujanera , a mulher que todos desejavam nos
braços de um forasteiro , toma coragem mata ao desafiante e fica com a Lujanera
se transformando assim de um infeliz em num herói ,” Senti depois que quanto
mais aporrinhado o bairro, maior a obrigação de ser bravo”.
Borges diz
Há quarenta anos cometi a imprudência de
escrever um conto titulado O homem da esquina rosada, o tema é este , um
desconhecido chega a um bairro longe do seu, um bairro perdido no oeste de
Buenos Aires e desafia a outro a duelar com ele.Agora quando escrevi esse conto
tive um propósito visual inspirado nos contos de Stevenson e de Chesterton. Pensei
que seria curioso aplicar a matéria prima marginal a uma técnica, uma técnica
que quer que cada cena tenha a sensação de ser vivida, quero dizer que todas as
coisas ocorram como num ballet, (inclusive há pouco tempo se fez um ballet com
o argumento do homem da esquina rosada) Agora no conto , precisava que a
provocação fosse brusca. E assim O Corralero entra no salão do baile e provoca
bruscamente ao líder local que se chama acredito Rosendo Suaréz
O Filme
Existe algins filmes, peças, ballet mais o filme mais
consagrado é de 1962 dirigido por René Mugica, o autor muda o roteiro e inclui um
motivo para a provocação da briga e um contexto histórico maior.
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